Back

O Bem, o Mal e o Anel do Poder

Pastor Anselmo Melo
Mal

certamente eu não sou  um daqueles fanáticos por Tolkien, alguém que vai se ofender se você
falar alguma coisa equivocada a respeito dele. Longe disso, sou apenas fã de uma boa
história, e algumas pessoas sabem, eu acho, que em O Senhor dos Anéis,
Tolkien escreveu uma belíssima história. Quem me conhece também sabe que gosto de paradoxos, de pelo menos tentar ver “coisas” além da mera letra ou de uma singular interpretação de um personagem. Estou a muito tempo convicto de que em tudo se pode achar uma lição proveitosa, e só conseguimos perceber quando nos permitimos traçar paralelos. 

          Principalmente ao ler o livro identifiquei alguns
aspectos da história que me chamaram a atenção. Hoje quero falar sobre um
desses aspectos.

          Uma coisa que separa O Senhor dos Anéis das outras histórias
de fantasia que eu já tentei ler é que ele não confunde o mal e o bem.
Ele nunca valoriza o mal. 

Tolkien separa cuidadosamente o bem do mal e
evita dissolver as distinções que há entre eles. É sempre fascinante
reparar o retrato que Tolkien fez dessas duas forças opostas.

          Um aspecto que me chamou muita atenção recentemente é a falta de
habilidade do mal para entender o bem, e no sentido contrário, a
habilidade do bem para entender o mal. Aqui, Tolkien tocou em um ponto
crucial da realidade acerca do bem e do mal.



O olho de Sauron

          Como eu imagino que vocês já saibam, o livro inteiro é baseado na
longa e perigosa missão de destruir o Anel do Poder. 

Muitos anos antes
do ponto onde a história começa, Sauron criou um anel e nele investiu a
maior parte de sua força e sua vontade. Esse anel era sua maior força e
possivelmente sua maior fraqueza. Com ele, era quase imbatível; sem ele,
ficava enfraquecido; se o anel fosse destruído, Sauron também seria.
Por meio de uma série de eventos improváveis, o anel caiu nas mãos de
Frodo Bolseiro, um hobbit, a quem foi dada a tarefa de se aventurar até a
Montanha da Perdição para destruir o anel. 

          Todas as forças do mal
tentam se colocar no seu caminho enquanto ele persegue seu objetivo. E,  mesmo assim, de alguma forma, ele consegue (perdão por entregar o final
da história, mas eu imagino que você já sabia de tudo isso). Como foi
possível que Frodo, (um improvável) tenha conseguido sucesso em uma missão (tão
impossível)?


       Ele consegue porque Sauron, por mais poderoso que fosse, nunca
entendeu o que Frodo pretendia fazer. Sauron vê o bem pelas lentes do
mal. Ele não consegue imaginar que qualquer pessoa pudesse querer
destruiu algo tão poderoso quanto seu anel. Ele parte do pressuposto que
qualquer pessoa faria o que ele faria – usar o Anel para dominar todo o
mundo. Se ele entendesse o bem, ele saberia que eles tentariam destruir
o Anel e, consequentemente, destruiriam ele próprio. Ele poderia
simplesmente ter cercado a Montanha da Perdição com seus exércitos e
interceptar qualquer um que se aproximasse. Mas ao invés disso, ele
projetou seus maus pensamentos sobre as forças do bem e concluiu que
eles fariam o que ele faria – usar o Anel para obter poder. Assim, em
suas ações, suas tentativas de achar e reconquistar o Anel, falhou
totalmente. 

Em seu mal, ele não entendeu nada do bem. E, no fim das
contas, é assim que acontece. Como o mal pode entender o bem?
 


Gandalf, o branco

          Aqui, Tolkien mostra, de forma fictícia, um fato importante da
realidade. O mal não consegue entender o bem. Quando eu converso com um
não crente, percebo que existe por exemplo uma grande dificuldade da pessoa em compreender a graça de Deus. Eles simplesmente não conseguem entender como alguém depois de ter cometido atos terríveis e até mesmo insanos pode através de Jesus ser perdoado e alcançar a misericórdia do Pai. Só quem foi alcançado por essa graça e experimentou esse amor consegue perceber a distância, o abismo que existe entre o bem e o mal. Nesse sentido, Tolkien entendeu perfeitamente essa distinção e fincou marcos bem definidos entre uma coisa e outra na sua história. Ele não tentou explicar e muito menos contemporizar a intenção do mal e com clareza mostrou que mal e bem definitivamente não se misturam. Eu
conheci o mal e agora conheço o bem. Pela Bíblia, eu vejo o olhar de
Deus sobre o mal e seu entendimento sobre ele. Isso me dá uma nova
perspectiva. Mas alguém que nunca se voltou para Cristo só conhece o
mal. Ele pode ver o que é bom, mas só pode entendê-lo pelas lentes do
mal. Eu consigo entender o que é estar perdido de uma forma que ele não
consegue entender o que é ser salvo. É notório que Tolkien entendeu isso.

          Ser alcançado pela graça não significa absolutamente que você está livre do mal, aquele que infelizmente habita o interior de cada pessoa. Não significa que você está imune ao erro. Mas, você agora é alguém que sabe distinguir bem uma coisa da outra e que, principalmente sabe, que Aquele que venceu o mal, está diariamente te ajudando a fazer o mesmo.



Author Image

Anselmo Melo

Anselmo Melo,
Carioca, casado e pai de três filhos (herança do Senhor). Pastor Evangélico e empresário. Moro atualmente no Estado de São Paulo onde pastoreio a Igreja de Nova Vida em Limeira. Sou fundador e presidente da Associação Projeto Resgate Vida.




at
10:37

Esse artigo foi republicado com a permissão de Pastor Anselmo Melo