O uso da tatuagem começou a se intensificar faz uns 20 anos e olhávamos com restrições e não víamos com bons olhos as pessoas que usavam. A televisão nos mostrava pessoas com tatuagens enormes, cobrindo boa parte do corpo, com figuras exóticas e nome que não inspiravam nada de bom. No Brasil particularmente seu uso era atribuído na maioria das vezes a pessoas que tinham cumprido pena. Em 1977 Caetano Veloso compôs uma musica “Menino do Rio” que em 1979 foi gravada por Baby Consuelo, ela, a musica, fazia alusão a um rapaz que tinha “um dragão tatuado no braço”. Me recordo bem que com 16 anos de idade e afastado da igreja, eu só não tatuei o tal dragão no meu braço por falta de recursos, as tatuagens ainda não eram tão populares e custava bem caro pra fazer algo assim. Em outros países como México, Honduras e Porto Rico (exemplos) as tatuagens normalmente definiam a que gangue de rua você pertencia.
Podemos ver então que motivos não faltam para que as pessoas que ousavam exibir tais tatuagens fossem discriminadas pela sociedade, inclusive com dificuldades até para conseguir um emprego, caso fosse descoberta.
“Motivos” a parte, o fato é que ainda existe certo preconceito, principalmente entre evangélicos e que, infelizmente querem achar respaldo bíblico para proibir e recriminar quem pensa em fazer ou fez uma tatuagem. ( O mesmo preconceito podemos observar em relação a maquiagens , roupas e uso de adereços como joias e bijuterias).
Hoje o uso se tornou mais generalizado e menos agressivo para boa parte dos usuários, entretanto a pergunta para nós tementes a Deus, permanece o que a Bíblia nos diz sobre este uso. Afinal é permitido ou não.
O livro do Levítico 19,28 fala de tatuagem ou também marca.
Para entender melhor e dar uma resposta à questão busquei duas traduções de Bíblias católicas e duas traduções protestantes e o que anotaram ao pé da página. Vai ser uma amostragem, poderíamos abordar muito mais:
Bíblia de Jerusalém assim traduziu do original:
“Não fareis incisões no corpo por algum morto e não fareis nenhuma tatuagem. Eu sou Iahweh…”.
Comentário de rodapé: “Os vv. 27 e 28 proíbem os ritos de luto, considerados como marcados pelo paganismo (cf. ainda 21,5; Dt 14,1). Contudo, a sua prática é largamente confirmada (Is 3,24…..) e a referência deste rito em Ez 7,18 mostra que, apesar desta condenação, continuaram a ser praticados, talvez porque se lhes atribuía uma significação religiosa de caráter penitencial (cf. Is 22,12)”.
A Bíblia da CNBB assim traduz o texto hebraico:
“Não vos façais incisões no corpo por causa de um morto, nem marcas de tatuagem. Eu sou o Senhor”
Comentário de Roda pé: “Alusão a certa da moda pagã”.
Thompson:
“Pelos mortos não fareis incisões no vosso corpo, nem fareis marca alguma sobre vós Eu sou o Senhor…”.
JFDA – ed. Revista e Corrigida
“Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós…”.
Olhando alguns dicionários de Teologia encontramos explicações para a palavra tatuagem ou também marcas, com significado importante. Vejamos o que este autor diz:
J. D. Douglas:
“Outra palavra que é geralmente traduzida como “marca” ocorre apenas uma vez na Bíblia: qa´qa. Sua etimologia é obscura, mas em Lv 19:28 provavelmente se refere a tatuagem que, juntamente com os ferimentos propositais na carne (isto é, “incisões “ou “lacerações”), os israelitas foram proibidos de fazer. Tal proibição provavelmente salienta o fato que essas marcas tinham associações pagãs e mágicas”.
Fonte: O Novo Dicionário da Bíblia – Edição em 1 Volume ed. Vida Nova; pg.997-998
O autor Champlin na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia explica tatuagem desta forma: Sua origem e do taitiano “tatau”, que significa “marca”, “sinal”. Provavelmente não tenha alusão direta à técnica da tatuagem, nas páginas da Bíblia.
Os tradutores da Bíblica de Jerusalém e CNBB, como vimos acima traduziram a palavra hebraica por tatuagem ao invés de marca que vamos encontrar nas traduções protestantes também.
A palavra “tatuagem – marca”, vamos encontrar uma única vez na Bíblia, os “entendidos” chamam este fato de Hapax legomena.
Só o contexto cultural nos fala a respeito da permissão ou não de fazer tatuagem.
A Bíblia mostra o fato da tatuagem, ou marca como sendo um costume pagão se autoflagelar numa espécie de luto pelos mortos.
A interpretação deste versículo passa pela compreensão que a tatuagem nas nações pagãs se ligava aos ritos religiosos pagãos.
Fonte: “Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia – Volume 6”; ed. Hagnos; pg.324-325.
Experiência pessoal: Certa vez um pastor amigo ao ver uma das minhas tatuagens me perguntou: _Pr Anselmo, elas foram feitas na época da “sua” ignorância não é? Ao que, mesmo sem levantar uma polêmica, tive de responder a verdade: _”Não querido, fiz depois de já ter sido consagrado ao ministério pastoral”. Eu sinceramente não desejava discutir esse mérito com ele, seria desgastante, improdutivo, e definitivamente não pretendia (como não pretendo agora) convencê-lo de nada. Sigo na minha liberdade e entendimento de que de forma alguma pratiquei um pecado ou algo assim.
Concluindo:
Portanto, o uso da palavra “tatuagem” na tradução do texto é apenas possibilidade, e não um absoluto. E, mesmo que fosse nesse caso “tatuagem” a palavra certa no contexto em que foi escrito o fato ele estava ligado os antigos rituais pagãos, o que não foi o meu caso e certamente não é o de ninguém em pleno século XXl, uma vez que tais práticas sucumbiram juntamente com os povos que as praticavam.
Concordo plenamente que a de se ter cuidado, independente de ser ou não pecado, algumas figuras não “cairiam” bem estampadas no corpo de um servo de Cristo.
Penso que a proibição ou não de se fazer tatuagem hoje, buscando para isto inspiração bíblica, pode ser entendida da seguinte forma. Uma tatuagem que se identificam como hostil a Deus e a sua palavra deve ser rejeitada. Ou mesmo que lembrem organizações que praticam o mal deliberadamente. Ou que a tatuagem venha causar danos físicos a pessoa ou mesmo enfermidades. Agora um adolescente que faz uma tatuagem, colocando o nome de sua mãe, ou de alguém que o inspire, ou mesmo um símbolo que lembre algo bíblico ou da pratica do bem, não haveria razão de se armar uma confusão com este jovem. Tenho certeza que os que usam o texto bíblico para argumentar contra, são também irmãos bem intencionados, foram na maioria das vezes educados assim, mas, a ignorância não deve respaldar a forma como alguns se posicionam a respeito do assunto.
Creio que está bem claro que o texto usado para tal condenação é frágil e descontextualizado. Portanto, se você deseja continuar criticando e condenando quem faz uma tatuagem, meu conselho é: Arranje outros argumentos, “torcer” o texto bíblico para respaldar o que muitas vezes não passa de opinião ou até mesmo preconceito, não dá!
Em Cristo
Pr Anselmo Melo
Esse artigo foi republicado com a permissão de Pastor Anselmo Melo