Após a conclusão de cada etapa da criação, vemos nas
Escrituras que o Senhor Deus reconhece que aquela obra feita era algo
bom (Gn 1.10,12,18,21,25,31). A única declaração de teor diferente
acontece quando Deus olha para o homem que estava sozinho e afirma: “não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18). A sabedoria divina condena o isolamento e nos ensina as bênçãos do companheirismo:
“O solitário busca o seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria” (Provérbios 18.1).
Viver sozinho, salvo exceções como nascer “eunuco” (com este dom) ou
se fazer “eunuco” pelo Reino de Deus (por uma situação onde não é
permitido um novo casamento), não é o ideal de Deus para todo o homem
(Mt 19.12). A Bíblia diz que “melhor é serem dois do que um”, o que
deixa isto bem claro:
“Melhor é serem dois do que um,
porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o
companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem
o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um
só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe
resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade.”
(Eclesiastes 4.9-12)
O rei Salomão, instrumento divino para nos trazer estas palavras, não
estava falando especificamente sobre o casamento; ele falava sobre um
exemplo de unidade que cabe num relacionamento de amigos, de parceiros
de trabalho e ainda outros. E embora estas palavras não se apliquem
exclusivamente ao matrimônio, este princípio bíblico também não exclui,
em hipótese alguma, a relação conjugal. E é dentro deste contexto, da
vida do casal, que queremos buscar entender não apenas o texto em si,
mas como estas verdades se relacionam com outras declarações bíblicas
acerca do casamento. O escritor de Eclesiastes menciona quatro áreas
onde o companheirismo faz toda a diferença e justifica a afirmação de
que é melhor serem dois do que um. São elas:
1) Parceria – 2) Suporte – 3) Cuidado – 4) Proteção
Sem estas quatro expressões de companheirismo talvez fosse melhor
declarar que é melhor ser um do que dois, uma vez que os “benefícios”que
justificam esta afirmação deixaram de estar presentes. Queremos
refletir um pouco sobre cada um deles.
PARCERIA
O primeiro benefício mencionado na declaração bíblica de que é melhor
serem dois do que um é que os dois terão “melhor paga do trabalho”.
Isto fala de duas coisas: da parceria nas conquistas e de sinergia, que é
o resultado desta parceria.
Primeiramente queremos analisar a visão de parceria e como isto se
encaixa na união matrimonial. A mulher foi criada por Deus para ser uma
auxiliadora idônea, capaz (Gn 2.18). Isto significa que o homem não foi
criado por Deus para conquistar sozinho e, somente depois, partilhar o
“despojo” com sua esposa. Mesmo tendo a responsabilidade de provedor, o
homem precisa viver a relação de parceria em cada conquista no
casamento. Deus reconheceu que o homem precisaria de ajuda e, ao criar a
mulher a fez com toda capacidade de prover ajuda!
Isto fala não só das conquistas materiais e geração de renda. Embora a
palavra hebraica traduzida como “paga do trabalho” seja “sakar” – que
significa “soldo, salário, pagamento” – ela também tem o significado de
“recompensa”. O casamento é uma parceria contínua! Desde a procriação,
cuidado, provisão e educação dos filhos até os ganhos materiais e
financeiros o casal deve caminhar em parceria. Mesmo sendo o cabeça do
lar e tendo a responsabilidade final nas decisões, o esposo deve ouvir
os conselhos de sua esposa e incluí-la em seus projetos.
Se cada um quiser viver por si, como se fossem dois solteiros
dividindo a mesma cama e o mesmo teto, não poderão dizer que é melhor
serem dois do que um. A beleza da parceria, além do companheirismo e
cumplicidade nas conquistas, pode também ser vista nos resultados.
Melhor paga do trabalho não significa um salário que é dobrado para
depois ser repartido entre os dois; isto não faria a menor diferença! Se
cada um sozinho ganha quatro mil reais e pode ficar com tudo para si,
qual é a vantagem de juntarem suas rendas que, totalizadas, chegam a
oito mil reais e depois dividi-la em dois voltando ao resultado inicial?
A verdade é que, juntos, mesmo repartindo, o casal conquista mais! Por
exemplo, se cada um sozinho produz uma renda de quatro mil reais, mas
juntos conseguem produzir doze mil reais (em vez de só os oito mil reais
que conseguem sozinhos), então temos uma sinergia. Em vez de somar
resultados, a parceria os multiplica! Isto é sinergia e vemos este
princípio na Bíblia:
“Como poderia um só perseguir
mil, e dois fazerem fugir dez mil, se a sua Rocha lhos não vendera, e o
Senhor lhos não entregara?” (Deuteronômio 32.30)
“Perseguireis os vossos
inimigos, e cairão à espada diante de vós. Cinco de vós perseguirão a
cem, e cem dentre vós perseguirão a dez mil; e os vossos inimigos cairão
à espada diante de vós. Para vós outros olharei, e vos farei fecundos, e
vos multiplicarei, e confirmarei a minha aliança convosco.” (Levítico
26.7-9)
Falando das batalhas que o povo de Israel iria travar ao entrar na
terra Prometida, Moisés, da parte de Deus, fala aos hebreus que um deles
perseguiria mil, mas dois juntos não somariam os resultados para dois
mil, mas o multiplicariam para dez mil! Também afirma que cinco
perseguiriam a cem (o equivalente a vinte pessoas por perseguidor), mas
cem perseguiriam a dez mil (o equivalente a cem pessoas por
perseguidor). Isto é sinergia. Tanto em um exemplo como no outro vemos
que neste tipo de parceria os resultados não se somam, se multiplicam.
Podemos trazer este princípio para o planejamento familiar, para a
criação dos filhos, para o trabalho e conquistas materiais e, não só
para a dimensão natural, mas também para a espiritual: a vida de oração
do casal.
Tenho aprendido a incluir a participação de minha esposa em tudo que
faço. Desde o planejamento financeiro e decisões que precisam ser
tomadas nesta área até as questões do ministério; a Kelly participa na
forma como prego e ensino (antes, na preparação, e depois, na
avaliação), como conduzo as reuniões ministeriais e a vida da Igreja, em
minhas viagens (mesmo quando não pode me acompanhar faz a retaguarda de
oração)… Sou muito grato a Deus por me permitir viver em parceria com
minha esposa!
Porém, se os cônjuges decidem viver cada um por si, sem a dimensão de
parceria proposta nas Escrituras, não poderá se dizer que é melhor
serem dois do que um… Reveja estes valores em seu casamento. Não deixe
de buscar viver esta poderosa parceria. O casamento não é apenas duas
pessoas que decidiram viver juntas, é o ato de construírem juntos uma
vida!
SUPORTE
Outra característica importante do companheirismo e que valida a
afirmação de que é melhor serem dois do que um, é o suporte. A Escritura
Sagrada declara que “se caírem, um levanta o companheiro”. Nos momentos
de altos e baixos que enfrentamos, o que está melhor ajuda o outro.
Encorajamento, apoio, suporte, são essenciais a união matrimonial.
Muitas pessoas entram com a motivação e expectativa errada no
matrimônio; elas entram na aliança matrimonial pensando muito mais em
receber do que em oferecer algo. Esperam que o cônjuge, ou mesmo a
própria relação, façam-nas felizes. Porém, como já afirmamos, o fato é
que não nos casamos com o único propósito de sermos felizes, mas
primeiramente, para fazermos o cônjuge feliz (Dt 24.5). A Palavra de
Deus nos ensina que o homem casado deve agradar a sua esposa e
vice-versa (1 Co 7.33,34).
É correto esperar receber suporte do seu cônjuge, mas antes de
esperar receber (ou mesmo cobrar esta atitude), devemos oferecer
suporte! Estamos falando dos padrões de Deus para o casamento e não do
matrimônio segundo o mundo. Portanto, espera-se dos cônjuges cristãos um
comportamento que demonstre maturidade cristã. E esta maturidade nos
faz compreender que dar é mais importante do que receber (At 20.35).
Em sua carta aos coríntios, Paulo declara que “o amor não busca os
seus próprios interesses” (1 Co 13.5). Escrevendo aos filipenses, o
apóstolo também ensina o crente a não olhar só para si, mas para os
outros, e afirma o seguinte:
“Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.” (Filipenses 2.4)
O Senhor Jesus também nos ensinou (não só com palavras, mas
principalmente por seu exemplo) acerca da virtude de servir em vez de
apenas buscar ser servido:
“Mas Jesus, chamando-os para
junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados governadores
dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais
exercem autoridade. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem
quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem
quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Pois o próprio
Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua
vida em resgate por muitos.” (Marcos 10.42-45)
A maioria das queixas dos casados contra o próprio cônjuge são
cobranças do que o outro deveria ter feito. Infelizmente, somos egoístas
demais e focados no próprio umbigo! Contudo, quando em vez de somente
querer ser servidos, colocamos nossos cônjuges à frente e passamos
primeiro a servir, alimentamos um outro ciclo onde nossos cônjuges, em
vez de também apenas cobrarem, passarão a também nos servir com alegria.
Não é fácil colocar o outro à frente de seus sonhos, projetos e
vontades!
Lembro-me que na ocasião em que o Israel – nosso primeiro filho –
nasceu a Kelly entrou numa crise enorme. Estávamos casados há dois anos e
meio nesta ocasião, mas a Kelly havia saído de casa e mudado para a
nossa cidade cerca de um ano antes do casamento; portanto já estava há
pelo menos três anos e meio morando longe dos pais. A distância de quase
setecentos quilômetros entre nossa casa e a casa dos meus sogros,
somada à uma certa limitação financeira dos primeiros anos de casado,
não nos permitia vê-los com tanta frequência como gostaríamos, mas mesmo
assim a Kelly nunca deixou de me apoiar e de sustentar a mesma
declaração que Rute fez à sua sogra Noemi:
“Disse, porém, Rute: Não me
instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde
quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o
teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus.” (Rute 1.16)
De repente, após o nascimento do Israel, minha esposa começou a
demonstrar sinais de tristeza por estar tão longe do restante da família
(dela e minha, pois meus pais moravam numa cidade próxima à dos pais
dela). Ela dizia que havia se dedicado em me apoiar e acompanhar e que
nunca havia se arrependido disto, mas que partia o coração dela saber
que o nosso filho iria crescer longe dos avós e do restante da família.
Conversamos e oramos acerca disso várias vezes e a situação parecia
somente se agravar.
Um dia, tive uma conversa séria com ela; disse que percebia que ela
não estava conseguindo superar aquilo, embora continuasse se esforçando
muito para me apoiar. Expliquei que, embora ela não reclamasse nem
pedisse para nos mudarmos, era evidente que, naquele momento, seu
coração não estava mais ali na cidade. Então declarei a ela que, em
função do que ela estava enfrentando, eu estava disposto a deixar o
pastorado daquela igreja para nos mudarmos para mais perto da cidade dos
nossos pais, uma vez que, depois de Deus, a família é nossa maior
prioridade. A Kelly se alarmou com minha sugestão e disse que não queria
atrapalhar meu ministério. Retruquei que eu poderia exercer o
ministério onde quer que estivesse, que já tínhamos uma boa equipe
ministerial naquela igreja, e que não havia me mudado para lá afim de
ficar ali para sempre. Mesmo assim, ela preferiu orar mais e buscar ao
Senhor antes de qualquer decisão precipitada e, acabou entendendo da
parte de Deus que não era a hora de nos mudarmos e que o Senhor traria
graça e ela venceria aquela crise, como de fato aconteceu.
Mesmo não tendo nos mudado, naquele dia a Kelly percebeu que meu
compromisso com ela era bem maior do que ela imaginava. Foi algo
parecido com o sacrifício que Deus pediu a Abraão; ainda que ele não
tenha chegado ao ponto de imolar Isaque, soube-se que ele teria ido até o
fim. Esta foi a minha primeira experiência no casamento onde realmente
enxergamos a importância de oferecer suporte um ao outro. Eu faria
qualquer coisa para apoiar minha esposa e vê-la feliz; ela, por sua vez,
lutava com sua crise não querendo me tirar do propósito divino e
achando que, mesmo em meio à lutas e dificuldades, deveria estar ao meu
lado a qualquer preço.
Penso que se tivéssemos agido de forma egoísta, com ela lutando para
estar perto dos pais e eu lutando pelo meu ministério, nossa relação, em
vez de consolidada como foi, teria sofrido um sério desgaste. Oferecer
suporte ao cônjuge é algo de um valor imensurável. Se trouxermos este
padrão de conduta cristã ao nosso casamento tudo será diferente! Porém,
se os cônjuges decidem apenas esperar (ou mesmo cobrar) por suporte da
parte do outro, então não poderá se dizer que é melhor serem dois do que
um…
Reveja estes valores em seu casamento. Nunca deixe de ser um
instrumento divino de apoio e fortalecimento, de consolo e amparo ao seu
cônjuge!
CUIDADO
O texto de Eclesiastes também afirma que “se dois dormirem juntos, se
aquentarão”. Acredito que isso fala – dentro do contexto da união
matrimonial – de levar calor para a vida do companheiro, ajudá-lo a
superar os desconfortos da vida, bem como promover pequenas alegrias e
cuidados.
Um casal “brigado” normalmente não gosta de dormir junto, porque este
é um ato de intimidade. Na minha primeira semana de casado, a Kelly
brincou comigo acerca disso. Ela me falou que a mãe dela a havia
aconselhado antes de casar, dizendo: “Aconteça o que acontecer, não
importa o desentendimento que um dia você e o Luciano possam vir a ter,
nunca saia do quarto!”E quando eu ia elogiar a sabedoria da minha sogra
ao dar este conselho, ela terminou com a seguinte frase: “Se alguém
tiver que sair do quarto, que seja ele! Você, minha filha, defenda o seu
território!” Nós rimos juntos da brincadeira, mas decidimos desde
aquele dia vigiar para que isto não viesse a acontecer de fato. A
Palavra de Deus nos adverte:
“Irai-vos e não pequeis; não se ponha o Sol sobre a sua ira, nem deis lugar ao diabo.” (Efésios 4.26,27)
Isto significa que um casal nunca deve deixar a ira durar até o dia
seguinte; pelo contrário, os cônjuges devem se reconciliar antes de
dormir! Mas por que a tendência de um casal que se desentende é dormir
separado? A verdade é que dormir junto fala de intimidade. Também fala
do leito do casal e da sua vida sexual. O conceito de amor e intimidade
de um casal está fortemente associado ao quarto e à cama. E este tipo de
cuidado mútuo não pode faltar. Porém, aquecer um ao outro é algo que,
no casamento, fazemos não só de modo literal, sob cobertas, mas também
no âmbito emocional. São conversas, expressões de carinho por meio de
palavras, presentes e atitudes que não permitem que o coração do cônjuge
se esfrie.
Cuidado não é só prover e arrumar a casa; também fala de coisas
pessoais de um para o outro, dos pequenos mimos, de tudo aquilo que
mostra que o cônjuge se importa de fato. Quando isso falta, a relação se
deteriora, e então, sem estes valores, acabamos tendo que dizer que é
melhor ser um do que dois. Reveja a importância do cuidado mútuo em seu
casamento. E faça valer a afirmação “é melhor serem dois do que um”.
PROTEÇÃO
O texto de Eclesiastes ainda revela que “se alguém quiser prevalecer
contra um, os dois lhe resistirão”. Isso fala de proteção, defesa mútua,
cobertura recíproca. Quando as batalhas surgem, o casal deve aprender a
se unir e resistir juntos. Há muitos tipos de lutas e de inimigos que
tentam prevalecer contra nós. Uma delas, é a batalha que é continuamente
travada no reino espiritual contra todo cristão (e matrimônio):
“Revesti-vos de toda a armadura
de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a
nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados
e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as
forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a
armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de
terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis.” (Efésios 6.11-13)
Paulo escreve aos efésios advertindo acerca da realidade da batalha
espiritual, mostra claramente quem é o inimigo e revela que, para
oferecer resistência, o cristão deve se revestir da armadura de Deus
(que é detalhada nos versículos 14 a 17). Mas depois de falar das armas é
que ele ensina como se trava esta batalha:
“Com toda oração e súplica,
orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda
perseverança e súplica por todos os santos”. (Efésios 6.18)
A oração não é apresentada como uma arma. O ato de orar é a própria
guerra onde entramos munidos de toda a armadura de Deus. O primeiro
nível de resistência que um casal deve aprender a oferecer é mediante a
oração. Temos que cobrir a vida de nosso cônjuge de oração; devemos
fazer guerra contra o inimigo (e as circunstâncias) por meio da oração!
Recordo-me de certa ocasião em que o entendimento da necessidade
deste tipo de batalha pelo cônjuge ficou, na prática, muito claro para
mim. No nosso primeiro ano de casado, a Kelly enfrentou uma luta que
vencemos em oração. Certo dia saí cedo de viagem para voltar no fim da
tarde do mesmo dia. Por conta de um atraso causado pelo tráfego da
rodovia, liguei para casa para dizer a minha esposa que chegaria depois
do previsto, o que me faria ir direto para a igreja, uma vez que era dia
de culto. Quando pedi que fosse me encontrar na reunião, a Kelly disse
que preferia não ir ao culto, pois não estava bem. Perguntei o que ela
estava sentindo, posto que pela manhã, quando saí de viagem, ela estava
bem. Ela me falou de sintomas físicos, mas também de uma grande batalha
emocional e espiritual que passara a sentir no fim da tarde e que não
entendia o que era aquilo nem porque estava acontecendo. Senti que
deveria orar com ela por telefone mesmo e, travei batalha contra as
forças das trevas, abençoei a vida dela, intercedi e desliguei o
telefone. Ela me contou depois do culto que estava deitada quando eu
orei por ela; de repente, um calorão começou a percorrer seu corpo e
fazê-la suar e os sintomas desapareceram completamente. Fiquei espantado
quando voltei para casa e ela me mostrou os lençóis e o travesseiro
completamente molhados! A Kelly testemunhou que foi imediatamente curada
no corpo e que toda nuvem de opressão desapareceu enquanto eu orava por
ela. Isto nos fez levar mais a sério a realidade da batalha espiritual
que travamos e a importância de cobrirmos de oração a vida um do outro.
Gosto de um exemplo bíblico que mostra alguém lutando por outro em
oração:
“Saúda-vos Epafras, que é dos
vossos, servo de Cristo, combatendo sempre por vós em orações, para que
vos conserveis firmes, perfeitos e consumados em toda a vontade de
Deus.” (Colossenses 4.12 – ARC)
A palavra grega traduzida como “combatendo” neste versículo é
“agonizomai” e, conforme o Léxico da Concordância de Strong, significa:
“entrar em uma competição, competir com adverários, lutar, esforçar-se
com zêlo extremo, empenhar-se em obter algo”. A versão KJA (King James
Atualizada) traduziu como “guerreando”, a versão Atualizada de Almeida
escolheu esta palavra como “esforça-se sobremaneira”, a e a versão
Revisada optou por “sempre luta por vós”.
Além da batalha espiritual, que travamos por meio da oração, há
outros níveis de resistência a oferecer. É a guerra contra a
sensualidade e as propostas de envolvimento sexual ilícito, cujo apelo é
cada dia maior. Já nos dez mandamentos, na Antiga Aliança, temos dois
mandamentos que envolvem a saúde matrimonial: 1) “não adulterarás” e 2)
“não cobiçarás a mulher do próximo”. Portanto, percebemos que Deus
sempre tratou disso como uma área que requer cuidado. O apóstolo Paulo
advertiu os irmãos de Corinto:
“Não vos priveis um ao outro,
salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos
dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não
vos tente por causa da incontinência.” (1 Coríntios 7.5)
A Bíblia diz que Satanás, como tentador, vai tentar explorar as
brechas que os cônjuges dão nesta área. Reconheço, porém, que esta
batalha não se trava somente com oração e que o tipo de resistência que o
casal deve oferecer contra os ataques sensuais envolve cuidar e suprir
as necessidades físicas um do outro. Um cônjuge suprido emocional e
sexualmente não estará exposto a este tipo de ataque como aquele que tem
sido negligenciado nesta área. Há uma declaração no Livro de Provérbios
que nos mostra isto:
“A alma farta pisa o favo de mel, mas à alma faminta todo amargo é doce.” (Provérbios 27.7)
O casal deve lutar junto, e não um contra o outro. Talvez um dos
tipos de defesa que deva ser praticado pelo marido e mulher seja o de
proteger ao cônjuge de si mesmo. Muitas vezes existem ataques verbais (e
emocionais) que ferem profundamente ao cônjuge e ainda entristecem ao
Espírito Santo:
“Não saia da vossa boca nenhuma
palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme
a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. E não
entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da
redenção. Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e
blasfêmias, e bem assim toda malícia.” (Efésios 4.29-31)
O matrimônio é o mais profundo laço de relacionamento, supera o dos
filhos com seus pais, por isso o homem deixa pai e mãe para se unir à
sua mulher (Gn 2.24). Contudo, muitos cônjuges erram deixando haver
interferência dos pais no relacionamento. Devemos honrar ao pais, isto é
bíblico, mas quando os pais (ou sogros) começam a atacar e implicar com
seu cônjuge, penso que você deve protegê-lo (a menos que ele esteja
realmente insistindo no pecado). Ao longo dos anos de ministério
pastoral tenho visto muitos problemas e mágoas causados por esta falta
de cuidado e proteção.
Neste nível de relacionamento, a cobertura recíproca é
importantíssima. Nunca descubra seu cônjuge a quem quer que seja; não
exponha as fraquezas dele, não o critique em público. Proteja-o de ser
ferido emocionalmente!
Estes são ingredientes importantíssimos para um relacionamento: parceria, suporte, cuidado e proteção.
Sem eles não dá para dizer que é melhor serem dois do que um! Se não
trouxermos estes valores e práticas para nossa relação conjugal, então,
tristemente teremos que reconhecer que é melhor ser um do que dois.
Negligenciando estas práticas acabaremos por concluir que era melhor ter
ficado solteiro. E muitos casados estão tentando viver sob o mesmo teto
como se ainda fossem solteiros; isto tem que mudar, caso contrário, seu
relacionamento estará condenado.
Paulo disse aos coríntios: “Quando eu era menino, falava como
menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser
homem, desisiti das coisas próprias de menino” (1 Co 13.11).
Parafraseando a afirmação do apóstolo, poderiamos dizer: “quando eu era
solteiro, falava como solteiro, sentia como solteiro, pensava como
solteiro; quando cheguei a ser casado, desisiti das coisas próprias de
solteiro”.
Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com –
um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da
Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois
filhos: Israel e Lissa.
Esse artigo foi republicado com a permissão de Pastor Anselmo Melo