“Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus” II Timóteo 2:1.
A Fé é o dom mais precioso que o cristão recebe de Deus. Esta fé é quardada em nossos corações e está sujeita a toda sorte de investidas malignas. Em tempos mais confortáveis, quando quase não mais existe a perseguição que fustigava os primeiros discípulos no alvorecer da Igreja, corremos o risco de perdê-la se não bebermos da água pura do verdadeiro Evangelho. Paulo em seus últimos dias de vida não desperdiçou tempo com as palavras na última carta que escreveu a Timóteo.
1. Por que entre tantas pessoas Paulo escreveu sua última carta a Timóteo?
De certa forma, Timóteo representa a Igreja de nossos dias. Quando Paulo orava, vinha em sua lembrança as lágrimas que aquele moço frágil derramava em suas orações. E entre tantas pessoas merecedoras de uma carta sua – que tornou-se um memorial ao longo dos séculos e milênios – o Espírito Santo dizia ao coração de Paulo: Seu último trabalho é escrever uma carta para Timóteo. E assim, não foi para um pastor, nem para um bispo, nem para um rabino que Deus ordenou a Paulo que escrevesse. Foi para um jovem sem aparência, atribulado em meio a tantos falsos mestres na cidade de Éfeso. Esta carta foi muito oportuna, pois, é como se o Apóstolo estivesse escrevendo para a juventude cristã de hoje, carente de líderes verdadeiros.
2. “Não te envergonhes do testemunho (Evangelho) de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do Evangelho, segundo o poder de Deus. Que nos salvou e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos.” II Tim. 1:8. Paulo afirmou que Deus investiu sua graça em nós, que existe uma chamada de Deus para cada um de nós, que ela não é segundo dons naturais, nem depende de nossa capacidade intelectual, acadêmica ou cultural. O que Deus vocacionou há de se cumprir em nossa vida, se dermos ouvidos a voz do seu Espírito. A mesma graça não merecida que opera a salvação também opera em nós a capacitação para que os objetivos dos planos de Deus sejam alcançados.
3. “Conserva o padrão das sãs palavras que de mim tendes ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós.” II Tim 1:14. O Senhor deu-nos da sua graça para nossa salvação pessoal. Agora estamos crescendo nesta mesma graça, preparando-nos para dar frutos. Estes frutos são esperados por Deus, são os objetivos de seu investimento ( graça) em nós. Ele plantou a semente de salvação em nós, regou, limpou, revelou seu propósito – tudo pela sua graça – e deseja colher os frutos dela. O modelo destas sãs palavras não pode ser diminuído e falsificado como sempre aconteceu ao longo da jornada da Igreja do Senhor.
Em todos os tempos, falsos mestres, falsos pastores, falsos bispos, falsos apóstolos e falsos pregadores têm feito “sucesso” dentro da Igreja do Senhor. E este sucesso não é nenhum sinal de aprovação de Deus quanto as obras que eles fazem, principalmente se considerarmos que Paulo, o autor da segunda Carta a Timóteo, em seus últimos anos, ficou só, abandonado e sofreu toda sorte de privações entre elas – o frio do calabouço. Mas sob a direção do Espírito, orava e Deus curava, repreendia e os demônios saíam, aconselhava e sua palavra não caia. Interessante é, com tantos cristãos em Roma, e alguns deles eram da família de Cesar, pediu que Timóteo troxesse sua capa, esquecida em Trôade, na casa de Carpo, e que viesse a Roma antes do inverno. Não podia contar com ninguém para lhe arranjar uma capa. Ele poderia orar e pedir que Deus lhe concedesse quantas capas quizesse. Mas não foi essa a direção do Espírito Santo. Por outro lado não queria mendingar. Ele tinha uma capa a 800km de distância, e por isso pediu que Timóteo a trouxesse, juntamente com os livros – a Bíblia de sua época. Ele também presenciou já em seu tempo um evangelho pregado sem amor. Paulo passava frio e sentia abandono. É isso que a capa revela.
Em nossa legislação existe a figura do fiel depositário, uma pessoa a quem o juiz designa para guardar um bem. Se esse bem não for achado na posse desse depositário, ele responderá por ele com a privação de sua liberdade. Prisão. Da mesma forma Paulo instruíu Timóteo a guardar o bom depósito de Cristo, de acordo com a voz do Espírito Santo, que habita em nós, os que ainda têm em suas vidas este Espírito. Este depósito é a graça de Deus, tanto para salvação quanto para continuar firme no caminho. Outro dia, um irmão comentava a respeito de um bispo que no começo pregava o Evangelho do Reino e depois mudou seus objetivos embaraçando-se com as podridões mundanas. Então podemos ver que a perda do depósito é a conseqüência e sua causa é o pecado contra o Espírito Santo, ou seja, uma desobediência contínua à voz do Espírito que faz com que Ele vá entristecendo-se e sendo apagado da vida tanto do discípulo quanto do bispo gerando a morte espiritual. Sem o Espírito o crente está morto e fica desorientado.
4 . O que Paulo queria dizer com: Fortifica-te na graça? A julgar pelo que está escrito em II Tim. 2:2, Timóteo foi aconselhado a não perder tempo com homens desviados; que não devia ser companheiro de falsos ministros; que não andasse atrás de aparências, das quais o profeta Samuel uma vez fora enganado julgando pela aparência de Eliabe, o primogênito de Jessé. Deus nos guarde nos dias de hoje, quando a Igreja do Senhor – tanto quanto já nos tempos do Apóstolo Paulo – está cheia de eliabes; homens que pregam como Apolo, administram melhor ainda, mas estão ocupando posições apenas com a unção dos homens. É por isso que a Igreja brasileira não está bem. Enquanto Eliabe estiver no lugar de Davi, a obra de Deus cresce em quantidade mas diminue na graça e na força do poder de Cristo. A única forma de tirar os eliabes do poder são os escândalos, que Deus permite, na vida de todo aquele que usa de engano para permanecer no poder. Mas cedo ou mais tarde cada um deles segue a cova do escândalo, porque trocaram a orientação do Espírito pelo conselho de interesseiros. Esse foi o erro de Saul, que caiu da graça por insistir em desobedecer a Deus, pois ouvia a voz do povo e desprezava as orientações do Senhor.
Paulo cobrou de Timóteo que sofresse com ele as aflições como bom soldado de Cristo. Que não se embaraçasse com os negócios desta vida. Aqui, Paulo estava dizendo duas coisas: a vocação de Deus tem prioridade em nossas vidas; que devemos seguir a voz do Espírito Santo; que não adianta ganhar o mundo inteiro – fama, riqueza, cargos de ministério, cargos políticos, altos cargos empresariais – e colocar em segundo ou último lugar o plano de Deus desenhado para nós. Quando invertemos estes valores, podemos alcançar toda glória do mundo, mas seremos abandonados pelo Espírito Santo. E sem o Espírito Santo, seremos os homems e as mulheres mais tristes dessa terra. Icabô! A segunda coisa que Paulo disse para Timóteo, é que não se deve transigir com o Evangelho. Pecado é pecado, o sim é sim, e o não ainda é uma das palavra que mais revela o amor de Deus na Bíblia. O único caminho que mantém o Espírito na vida tanto do ministro quanto do discípulo é o caminho estreito, de mão única – para frente.
Não adianta apenas ensinar em cima do púlpito que não se deve fazer isso ou aquilo. Este ponto é um dilema, mas, não devemos nos esquecer que no nos dias de Samuel, quando ele ainda era garoto, os filhos do Sacerdote Eli pecavam descaradamente, e o pai apenas dizia: Não é boa a fama que ouço de vocês!
Não é bíblica a orientação de que devemos ensinar no púlpito, fazer a nossa parte, e cada um dará conta de si mesmo a Deus. Isto não é válido para os atalaias. Eli perdeu o direito de andar diante de Deus e sua família foi rejeitada porque foi brando com o pecado. O modelo bíblico correto é o confronto. É o chamar no “canto” e repreender com responsabilidade e amor. Da mesma forma que o Profeta Natã fez com o Rei Davi. Não existirá amor sem confronto. Por outro lado, o diabo nunca se contenta com a sujeira que traz para dentro da Igreja. Se o pastor não repreender com sabedoria o pecado e tirá-lo do seio da Igreja, o diabo sempre trará uma coisa pior. É no trato com estas coisas que os homens com unção de Deus se sobressaem enquanto os que não têm chamada nem amor se embaraçam.
Lembro-me de uma nova convertida que se batizou, mas ainda tinha o hábito de fumar. Seu pastor sabia disso e nada falou. E não aconselhou, e não repreendeu. Depois de ter tomado sua segunda Santa Ceia, nunca mais se firmou na Igreja e desviou-se. Faltou-lhe uma simples palavra de amor de um pastor omisso. Por outro lado, conheço outro pastor, que não vou dizer o nome, que passou muitas aflições ao lidar com pessoas amaziadas e que se amaziaram em seus dias de ministério. Ele sofreu o dano com a língua de muitos, mas dez anos depois, cada uma daquelas pessoas estão casadas. E daquela que mais cobrou e mais foi mal interpretado, recebeu um convite de casamento.
5. “Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes. Pois entre estes se encontram os que penetram sorrateiramente nas casas e conseguem cativar mulherinhas sobrecarregadas de pecados, conduzidas de várias paixões, que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade. E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé eles, todavia, não irão avante; porque a sua insensatez será a todos evidente, como também aconteceu com a daqueles”.II Timóteo 3: 1-9.
6. Um sinal de Deus: todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições. A perseguição por causa do Evangelho, a aflição por causa do pecado adentrando à Igreja do Senhor, o abandono dos “amigos”, as privações de conforto e bens, paradoxalmente são os sinais inequívocos da presença de Deus na vida tanto do ministro quanto do discípulo. Cristo materialmente não foi próspero. Ele e seus discípulos eram desprezados pela nata religiosa (desviada) de sua época justamente porque eram classificados como um bando de “passa fome”. Se é o sucesso de um líder religioso que define hoje a quantidade de seguidores ( como nos dias de hoje) de uma religião, concluiríamos então que tanto Cristo quanto Paulo foram dois homens fracassados. Ambos morreram sós, por abandono de seguidores. É por isso que não devemos ser “maria-vai-com-as-outras”. Embora toda a regra tenha suas excessões, quando o mundo corre como um rio atrás de alguém famoso, mais à frente sempre vem o escândalo e a decepção. Paulo afirma isso, lembrando a lei divina da semeadura e da colheita no versículo 13.
7 . Quando tudo o parecer confuso e sua orientação começar a falhar, beba da fonte legítima – a palavra de Deus. “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. Vv 14 a 19.
8 – Não desperdiçe o tempo. Tudo que o vier a sua mão para fazer, planeja e faze agora, porque há um tempo certo para tudo. A voz do Espírito Santo não nos deixa enganados. “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.” II Tim 4: 3-4. O versículo três contextualiza o lugar e o tempo: Brazil, dezembro de 2007.
As perspectivas são ruins, mas o Espírito ainda está em nosso meio. Se Ele ainda está presente em sua vida da mesma forma que está na minha, vamos em frente porque a Alegria do Senhor é a nossa força.
Autor João Cruzué
Blog Olhar Cristão
cruzue@gmail.com
Esse artigo foi republicado com a permissão de Olhar Cristão.