Eis um dos assuntos que lideram o ranking dos mais falados entre os jovens cristãos. Sendo a Bíblia nossa regra de fé e prática, por que tirá-la de cena, ao tratar o assunto? Convém imitar as experiências pessoais de um “famoso da teologia” ou acatar as indicações do escritor de uma obra teológica fabulosa, de olhos vendados? Cabe saber quem lhes deu o papel de diretor das escolhas de alguém que têm a Palavra de Deus como script imutável da vida. Somos protestantes e temos acesso livre às Escrituras, não seguimos um papa, portanto somente uma interpretação bíblica cuidadosa importa.
Existem filmes produzidos por cristãos (poucos) e filmes produzidos por ímpios. Nos filmes produzidos por cristãos, os problemas não são as cenas de nudez, mas textos bíblicos mal interpretados, cabe a estes o mesmo cuidado que devemos ter com filmes produzidos por não cristãos com censura livre, nos quais não contêm cenas de sexo, nudez ou linguagem obscena (em sua maioria), mas podem ter por trás uma ideologia contrária às Escrituras. Para quem estuda a Palavra de Deus, o mais comum é identificar e condenar aquilo que está em desacordo com a mesma. Ao assistir a filmes cristãos, o bom senso não pode ser dispensado, pois é necessário para alertar um não cristão das cenas em que a teologia é trocada pela psicologia ou nas quais o texto bíblico recebeu uma interpretação não ortodoxa e defender a verdade bíblica, se por acaso o filme ferir aquilo que é essencial. Existem filmes voltados ao público infantil com forte apologia ao homossexualismo e outras práticas que a Bíblia condena claramente, é importante que os pais verifiquem o filme antes de deixar que a criança veja, porque ela pode não ter maturidade suficiente para filtrar essas ideologias antibíblicas.
Sobre os filmes e séries produzidos por ímpios, há a classificação indicativa de idade e o porquê de tal censura, geralmente o alerta é sobre linguagem obscena, nudez, cenas de sexo e violência. Muitos cristãos que não verificam esse alerta, se justificam com a possibilidade de pular as cenas. Um problema inevitável nesse plano, é que filmes com classificação acima de 14 anos não costumam proteger o telespectador com prelúdios, em inúmeros deles a cena de nudez surge diante dos olhos sem aviso prévio, e ao final do filme foram visualizadas dezenas de mulheres nuas ou seminuas. É sabido que na massacrante maioria dos filmes, dessa natureza, há mulheres atuando no papel de prostitutas, dançarinas de pole dance, bem como um homem rodeado por várias mulheres nuas ou seminuas, estupro e uma série de cenas que rebaixam o valor da mulher, tratando-a como se fora um mero objeto sexual.
Jesus Cristo não se conformou ao machismo em sua época, ele condenou a atitude dos que acusavam uma mulher flagrada em adultério, mostrando que os homens que a acusavam não eram menos pecadores do que ela. Não se incomodar com a visão machista dos filmes, é aceitá-la e a consequência disso é pensar do mesmo jeito, é ter a mente do mundo. Um argumento de defesa é lançado: “o filme só mostra o que a gente vê no dia a dia”; entretanto, mulheres ainda não costumam andar sem sutiã, vestidas apenas de uma calcinha fio dental nas ruas, só se o cinéfilo frequentar ambientes que permitem tal atentado ao pudor. Para além disso, a nossa interação com a cultura e com a sociedade, como sal e luz do mundo, é para elevar o valor moral, não para aceitar sua decadência. Aquele que entende que prezar pela decência é ridículo, este já se vestiu do mundo alheio a Deus.
Enquanto alguns cristãos assistem a esse tipo de “arte”, aplaudindo o roteiro bem produzido, abrem mão do temor a Deus e do amor ao próximo (principalmente às mulheres, em especial à esposa, se for casado). Quando a história do filme se apresenta como se fora indispensável à vida, as ideologias malignas são facilmente ignoradas pelos cinéfilos cristãos. Quanto aquele irmão que consegue pular cena sem prelúdio, se é santo, Deus o sabe, mas pai de santo (no sentido de garantir que consegue adivinhar o futuro) é o que parece. Sem contar que em alguns filmes, a nudez faz parte do roteiro inteiro ou está em cenas indispensáveis ao entendimento do todo. Quando o pecado não assusta, mas diverte, o lugar em que o entretido está é assentado na roda dos escarnecedores com um balde de pipoca e um copo de coca-cola.
O que a Bíblia diz? Conjecturemos que o filme que nos foi indicado tem um alerta de linguagem obscena e nudez. Quais textos da Bíblia podem nos guiar na decisão de assistir ou não ao filme? Efésios 5 é apenas um deles, como cristãos responsáveis, façamos uma leitura atenciosa, meditando em cada palavra:
“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave. Mas a fornicação, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos; Nem torpezas, nem parvoíces, nem chocarrices, que não convêm; mas antes, ações de graças. Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, NÃO SEJAIS SEUS COMPANHEIROS. Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz (Porque o fruto do Espírito está em toda a bondade, e justiça e verdade); APROVANDO O QUE É AGRADÁVEL AO SENHOR. E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes CONDENAI-AS. Porque o que eles fazem em oculto até dizê-lo é torpe. Mas todas estas coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta. Por isso diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, Remindo o tempo; porquanto os dias são maus. Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor” (ênfase da autora).
A carta gêmea de Efésios, que é a carta de Paulo aos Colossenses, no capítulo 3 repete o mesmo ensino. Esses textos já são claros o suficiente para não nos sentimos bem diante de uma programação cuja linguagem e imagens carregam a nossa mente à impureza, como cristãos, a ordem bíblica é que não sejamos participantes.
O Senhor Jesus Cristo no sermão do monte ensinou o seguinte:
“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.” Mateus 5:27-29
Jesus deixou muito claro que atentar para uma mulher (atrizes também são mulheres) e a nudez dela atrair o desejo, já é adultério. E para evitar que isso aconteça, Ele usa uma hipérbole para enfatizar a seriedade; poderíamos parafrasear: “Crente, se tu sabes que assistindo a um filme com essa censura vais ver uma série de mulheres nuas ou seminuas, arranca o teu olho, ou seja: toma uma medida radical”. Ninguém é obrigado a ver e Jesus está dizendo: Evite! Diga não! “arranca-o e atira-o para longe de ti”.
Mas se até o pastor assiste? Se o nosso parâmetro de santidade for um pastor, um colega, um amigo… no dia do juízo não iremos subsistir, porque não teremos em quem nos apegar, pois somente os que estão firmados em Jesus Cristo subsistirão no dia do juízo (releia o Salmo 1º). É certo que a salvação não se perde, mas quem é salvo se assusta com o pecado, não anda nas trevas, conforme está escrito em 1 João 2.4-6:
“Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade. Mas qualquer que guarda a sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nele. Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou.”
No livro de 1 Pedro capítulo 1, nos versículos 13-16 é dito aos eleitos:
“Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo; Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.”
Poderíamos escolher imitar o exemplo de Jó, que disse: “Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela?” (Jó 31.1). A ordem de Paulo (1 Coríntios 6.18): “Fugi, portanto, da imoralidade sexual” é muito clara quando diz “fugi”. Assistir filmes sem cuidados básicos, como verificar a classificação indicativa, não é fugir, é se expor. A mente humana é perigosa e os filmes sabem bem como armá-la de maneira sutil. Há quem goste de dicas, a melhor delas é guardar a mente. De vez em quando ir trocando um filme censurado por uma hora de oração seria imensamente vantajoso para que aqueles que se interessam por uma vida cristã mais profunda. Outra dica é usar o conhecimento bíblico que tem, mais o conhecimento adquirido sobre o filme através da censura, sinopse, trailer, comentários e avaliar se é ou não agradável a Deus, tendo a Bíblia como crivo, porque nós devemos aprovar aquilo que é agradável a Deus e condenar aquilo que o desagrada. Certamente aquilo que desagrada a Deus não irá nos acrescentar alegria, o caminho da felicidade é outro, de novo precisamos relembrar o Salmo 1. Ninguém é obrigado a assistir a um filme ou a uma série só porque “todo mundo” está assistindo. A alegria dos salvos não está em seguir o conselho dos ímpios, mas em deleitar-se na Palavra do Senhor. Há quem use a doutrina da graça comum para justificar uma exposição e admiração cega à cultura, mas a graça comum é para frear o pecado, nunca o promover.
Quanto ao livro de Cantares, não é um livro de conotação sexual? Exatamente, é um livro sobre a relação sexual entre um homem e uma mulher. E que ótimo que o temos na Bíblia. Ele nos ensina que o sexo é maravilhoso, é criação de Deus, que a nudez deve ser desfrutada dentro do casamento, ensina o cristão a se proteger desse mundo que banaliza o sexo, a nudez e ter satisfação com o seu cônjuge. O livro poético de Cantares é sobre a vitória do amor contra às pressões sociais. O livro de Cantares deve ser lido, contudo, o leitor precisa precaver-se com a dignidade de não equiparar esse livro à literatura erótica mundana. Porque enquanto o mundo prega a libertinagem, o adultério, a desvalorização da mulher, a banalização do sexo e da nudez, o livro santo de Cantares ensina o homem a ter satisfação sexual com uma só mulher dentro do casamento. E quanto às pinturas de pessoas nuas na história da igreja, por exemplo, os mártires nus pintados: quando uma mulher olha para um mártir nu, é mais provável que ela lembre do quanto o evangelho é precioso a ponto de alguém dar a vida por ele, em total humilhação e desprezo. Agora quando uma mulher vê um homem seminu rebolando diante dos seus olhos, quem garante que ela vai pensar em Cristo?
Segue outro argumento que cinéfilos cristãos carregam no bolso: “neste seriado/filme há sim cenas de nudez e de sexo, porém, não é este o conteúdo dominante”. É preciso cuidado, pois é de forma sutil que nós somos facilmente enganados. A luta do diabo é contra a nossa mente e a sutileza é uma arma poderosa. Por isso a Bíblia nos instrui a:
“nos revestirmos de toda a armadura de Deus, para que possamos estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e havendo feito tudo, ficar firmes” (Efésios 6.11-13).
“Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus, para destruição das fortalezas: destruindo os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (2 Coríntios 10.4-5).
E nos aconselha:
“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”(Filipenses 4:8).
“E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2).
Eis outro clássico protesto: “não suporto palavras com tom moralista”. Será que a preocupação por trás desse argumento é quanto à hipocrisia, ao misticismo, ao legalismo ou não seria uma tentativa de condenar quem é mais santo e justificar seu mundanismo? Aquele que não gosta de ética cristã, provavelmente rasgou o sermão do monte. “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos”, disse o apóstolo Paulo em sua segunda carta a Timóteo, capítulo 4, versículo 3.
Caminhando para o término, mais um exemplo de argumento usual dos cinéfilos cristãos: “eu não vou conseguir deixar de assistir um filme legal só porque ele tem uma censura 14 ou 16, eu não vou ficar me impondo limites”. Este já está impondo limites. Se eu não quero impor limites ao que vejo, eu estou impondo limites a minha santidade. Ou eu estou limitando a minha exposição ao pecado ou estou me abrindo a qualquer coisa e limitando a minha separação do pecado (limitando o crescimento da minha santidade). Porque santidade é um processo e nós temos participação ativa nesse processo, diferentemente da regeneração, que é obra exclusivamente divina. Por isso que existe crente mais santo e menos santo. Então onde eu vou colocar limites? O sábio apóstolo deixou um alerta: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne” (Gálatas 5:13).
Por fim, o último argumento de defesa costuma ser: “Eu tenho a minha responsabilidade pessoal e se eu não interpretar os textos bíblicos dessa forma, posso assistir ao que eu quiser e é problema meu”. É importante lembrar que a partir do momento em que sabemos o que a Bíblia diz e resolvemos agir como se não soubéssemos, seremos disciplinados por Deus, teremos consequências e as consequências dos nossos pecados, mesmo aqueles ocultos, afetam a família, o meio social e também a igreja. Não se pode restringir o pecado apenas ao autor da ação. Somos membros de um mesmo corpo, cuja cabeça é o Senhor Jesus, e que o menor deslize de um desses membros pode afetar no conjunto da obra. A prova é tal, que por um homem adentrou o pecado no mundo, Adão e Eva na desobediência tentaram ocultar o seu pecado, mas o Senhor tem olhos em todos os lugares, e assim herdamos esse pecado (cf. Rm 3.23).
O Senhor disse a Josué: “Não estarei mais com vocês, se não destruírem do meio de vocês o que foi consagrado à destruição” (Js 7.10-12). Por causa de apenas um homem, Acã, que havia escondido alguns pertences cujo Senhor mandara não pegar, todo o povo foi castigado. Tal omissão foi prejudicial para todos, não só para Acã. O rei Davi, mesmo sendo um homem reto aos olhos do Senhor, pelos seus pecados ocultos, causou sofrimento a muitos, entre eles Urias, Betseba e seus filhos. Os nossos pecados ocultos não são ocultos aos olhos do Senhor. O sábio Salomão diz no livro dos Provérbios 15.3: “Os olhos do Senhor estão em toda parte: Ele observa atentamente os maus e os bons!”.
Tal verdade deve estar clara na mente dos cristãos, pois do contrário seria uma afronta a atributos como soberania, onisciência, santidade e justiça de Deus. Certo é que Deus sendo soberano, onisciente, santo e justo não deixará impune os pecados cometidos, distante dos olhos humanos, porém patente aos olhos do Todo Poderoso. O pecado oculto é geralmente aquele mais difícil de livrar-se, é uma vergonha guardada às sete chaves e que certamente incomoda o verdadeiro cristão, regenerado.
Concluo agora com as seguintes palavras divinas: “Ora, quem é injusto, continue na injustiça; quem é mundano, continue na impureza; mas quem é justo, firme-se na prática da justiça; e quem é santo, continue a buscar a santificação” (Apocalipse 22:11).
Que Deus, em Cristo, vos guarde do Maligno!
Sobre a autora: Karoline Evangelista Paz é Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Congregacional do Nordeste – Extensão João Pessoa. Membro da Igreja Presbiteriana do Bairro dos Estados. Atua na área de apologética cristã, escrevendo para a Revista Vida Cristã e blogs (www.cosmovisaocrista.com).
Divulgação: Bereianos
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Esse artigo foi republicado com a permissão de Blog Bereianos.