Cristãos não devem ser tolerantes com tudo, uma vez que Deus não o é. Nós podemos respeitar opiniões diferentes e tentar entendê-las, mas não devemos afirmar incondicionalmente e sem avaliação toda crença e comportamento, por que Deus não faz isso. Nós devemos amar o que Deus ama. Foi aí que Éfeso falhou. E devemos odiar o que Deus odiou. Aí que Tiatira falhou.
Das sete cidades de Apocalipse, Tiatira é a menos conhecida, a menos impressionante e a menos importante. E, ainda assim, é a maior carta das sete. Havia muita coisa acontecendo nessa igreja – algumas ruins e outras boas.
Vamos começar com as boas. O verso 19 do capítulo 2 diz: “Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do que as primeiras”. Éfeso foi louvada por suas benfeitorias e seu forte trabalho ético. Tiatira é ainda melhor. Ela tinha os mesmos feitos que Éfeso teve e o amor que faltou a esta. A igreja em Tiatira não era sem virtudes genuínas. Era um grupo unido que amava, servia, cria e perseverava.
Talvez Tiatira fosse o tipo de igreja que você entra e já se sente parte: “Prazer em conhecê-lo. Venha, deixa-me apresentá-lo aos meus amigos. Vou lhe mostrar como você pode participar, usar seus dons, seguir seu ministério. Somos muito gratos de tê-lo conosco.” Era uma igreja que se importava, que se sacrificava e amava.
Essa era a parte boa. E a parte ruim? O amor dela podia ser sem discernimento e cegamente afirmativo. O grande problema de Tiatira era a tolerância. As pessoas de lá toleravam falsos ensinamentos e comportamentos imorais, duas coisas com as quais Deus é ferozmente intolerante. Jesus diz: “você é amorosa de diversas formas, mas a sua tolerância não é amor. É infidelidade.”
O pecado específico de Tiatira era a tolerância com Jezabel. Este não era o nome real da mulher. Mas essa falta profetisa agia como Jezabel – guiando o povo em adultério e em idolatria. Nós não sabemos se sua influência era formal – se ela ia à frente das pessoas e falava esse tipo de coisa enganosa – ou se era informal – em conversas corriqueiras e no “boca a boca”. Contudo, isso estava acontecendo. Essa mulher era um perigo espiritual, como sua xará do Antigo Testamento.
Jezabel foi a filha de Etbaal, rei dos sidônios. Ela adorava Baal e Aserá e levou seu marido Acabe para o mesmo caminho. Foi ela quem planejou matar o inocente Nabote por causa de sua vinha. Ela foi chamada de “maldita” (2 Reis 9.34) e, como punição por sua malícia, eventualmente foi empurrada pela janela, pisoteada por cavalos e comida por cachorros. Ela era uma mulher má, que levou muitos israelitas para o mau caminho.
Jesus disse a Tiatira: “vocês estão permitindo que uma mulher como aquela guie seu povo. Por que vocês a toleram? Não a sigam. Não dialoguem com ela. Não esperem para ver o que vai acontecer. Livrem-se dela… ou eu farei.” Aparentemente, de alguma forma, Deus já a havia alertado para que se arrependesse, mas ela se negou. Então, agora, o Senhor Jesus promete jogá-la na cama doente e fazer com que seus seguidores também sofram, a não ser que se arrependam. “Eu vou atacar mortalmente os seus filhos espirituais”, disse o Senhor. Jesus não está brincando. Isso não é algo secundário, mas um sério pecado digno de morte.
Havia também um pecado arraigado. Havia uma série de cooperativas comerciais em Tiatira. Imagine que você participasse da APT, a Associação de Pedreiros de Tiatira, e, certa noite, a corporação se reunisse para uma festa. Você está sentado em sua mesa, pronto para participar dessa grande celebração com seus amigos e colegas. Então o anfitrião diz algo como: “Que bom que vocês vieram. Que ocasião feliz para a APT. Nós temos uma grande festa preparada para vocês. Mas, antes de começar, nós gostaríamos de reconhecer que o grande deus Zeus, que cuida dos pedreiros, tornou esse jantar possível. Zeus, cuja estátua está ali no canto, nós comemos por você, por sua honra e para adorá-lo. Vamos começar.”
O que você faria nessa situação? Ficaria ou iria embora? O que a sua participação significaria para seus companheiros cristãos, para o mundo e para Deus? Cristãos do mundo antigo não precisavam procurar por idolatria. Ela permeava toda a sua cultura. Não participar desses rituais pagãos chamaria a atenção como um torcedor do Corinthians no Palestra Itália. Essas festas, com sua idolatria e folia sexual, que muitas vezes as seguiam, eram parte normal da vida do mundo Greco-romano. Ficar de fora poderia ser algo social e economicamente desastroso.
Esse é o motivo pelo qual os falsos mestres, como essa Jezabel em Tiatira ou os nicolaítas em Pérgamo, eram tão ouvidos. Eles tornavam o ser cristão em algo muito mais fácil, menos custoso e muito menos contracultural. Mas era um cristianismo diluído e vendido, e Jesus não iria tolerá-lo. Ele iria usar Tiatira como exemplo para mostrar a todas as igrejas que Jesus tem olhos de fogo, puros demais para ver o mal, e pés de bronze polido, santos demais para caminhar entre a maldade. Ele queria que todas as igrejas soubessem que ele é quem perscruta as mentes e corações e que irá punir todo mal não arrependido.
O erro de Jezabel era um pecado sério, arraigado e sutil. Provavelmente ela havia dito às pessoas que os “segredos profundos” não iriam prejudicá-los. Nós não sabemos exatamente o que aprender os chamados segredos profundos de Satanás significava para a igreja. Nós não sabemos se os falsos profetas chamavam eles assim ou se Jesus é quem os está chamando assim. Mas o que está acontecendo é, provavelmente, algum tipo de falso ensinamento que desvalorizava o mundo material. Essa Jezabel poderia estar falando: “O mundo físico não importa. O espiritual é o que conta. Então participem das festas aos ídolos e façam o que vocês quiserem sexualmente. Essas coisas são materiais. Deus não liga para isso”. Ou talvez ela estivesse falando: “Veja, se você é espiritual, então a sua relação com Deus será forte o suficiente para você aguentar as coisas profundas de Satanás. Então vá em frente. Participe das coisas do diabo. Você pode lidar com isso e, além disso, provavelmente aprenderá mais sobre sobre o inimigo durante o processo.” Independentemente do que ela estivesse falando, era uma mentira e estava levando o povo ao pecado. E a igreja era mais tolerante do que Jesus, o que nunca é uma boa ideia.
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Autor: Kevin DeYoung
Fonte: The Gospel Coalition
Tradução: Victor Bimbato
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Esse artigo foi republicado com a permissão de Blog Bereianos.