Wilma Rejane
E ali Elias entrou numa caverna e passou a noite; e eis que a palavra do Senhor veio a ele, e lhe disse: Que fazes aqui Elias?E ele disse: Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada, e só eu fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem.E Deus lhe disse: Sai para fora, e põe-te neste monte perante o Senhor. E eis que passava o Senhor, como também um grande e forte vento que fendia os montes e quebrava as penhas diante do Senhor; porém o Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto;
E depois do terremoto um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo; e depois do fogo uma voz mansa e delicada. E sucedeu que, ouvindo-a Elias, envolveu o seu rosto na sua capa, e saiu para fora, e pôs-se à entrada da caverna; e eis que veio a ele uma voz, que dizia: Que fazes aqui, Elias?
1 Reis 19:9-13
Elias na caverna do Monte Horebe tem sido uma mensagem poderosa para meu ser. Por dias e dias tenho refletido sobre isso e buscado conhecer de que forma aquele profeta foi impactado pela voz de Deus naquele lugar. Primeiramente, o fato de um homem de Deus, notadamente cheio de sabedoria e unção, estar escondido, solitário, já causa estranhamento. A Caverna em Horebe era um lugar sem horizonte, que se afunilava, sem saída para outras regiões. O lugar de entrada era o mesmo da saída, portanto, o olhar de Elias para fora, conduzia-o às mesmas lembranças que motivaram sua estadia na caverna: ameaças, perseguição. As boas lembranças sobre o cuidado, proteção e poder de Deus eram como uma fumaça se esvaindo por meio do medo que naquele instante era forte como redemoinho.
Antes de comentar detalhadamente sobre Elias na caverna no Horebe, se faz necessário relembrar um pouco de sua trajetória anterior ao momento de reclusão. Elias foi um profeta do reino do norte de Israel durante meados do século nono A.C. A menção inicial à sua pessoa se encontra em I Reis 17 quando ele prediz uma grande seca no período de reinado de Acabe e sua esposa Jezabel. A Palavra diz que Acabe e Jezabel serviam ao ídolo Baal ( I Reis 16: 31,32). Baal era o principal ídolo dos cananeus e fenícios e simbolizava as forças produtivas da natureza; chuva, vento, ar, fogo, terra. No Egito, Baal ficou conhecido como deus da tempestade. Portanto, os adoradores de Baal acreditavam que ele estava no comando de toda a natureza e que a cada sete anos a face da terra era renovada por seu poder..
O profeta Elias, conhecedor da idolatria instalada em Israel, multiplicada no reinado de Acabe, torna-se porta voz de Deus para a nação, especialmente contra o culto a Baal. Como parte de sua mensagem, Elias enfatizava a seca, a fome, um grande período de escassez advindo do próprio Deus que rejeitava o culto a Baal. Deus, dessa forma, estava a dizer que Baal nada podia, não possuía qualquer domínio sobre a natureza. A nação deveria reconhecer a soberania de Deus e Seu domínio absoluto sobre a natureza. Como consequência por confrontar Baal, Elias é perseguido, jurado de morte. Ele era visto como alguém que desagradava Baal, provocava sua intemperança. Elias então marca um confronto direto com os 450 profetas de Baal no monte Carmelo. Lá Deus faz descer fogo do céu consumindo o holocausto ofertado por Elias e também os falsos profetas.
A obstinação de Acabe e Jezabel não cessa com a irrefutável ação de Deus no monte Horebe. Eles continuam perseguindo e ameaçando Elias que é consolado por anjos de Deus quando se encontra deprimido e cansado em baixo de um pé de Zimbro. Ouvir Deus, ter conhecimento de Seu amor e cuidado em momento tão difícil da vida faz com que Elias caminhe por cerca de quarenta dias. O homem de Deus parecia estar motivado, até que novamente Elias reaparece acuado na caverna, escondido, em busca de paz. Não sabemos o que aconteceu entre a experiência com Deus em baixo do pé de Zimbro e os quarenta dias de caminhada de Elias. Desconfio que na solidão da caminhada e nos murmurinhos dos encontros com as pessoas pelas estradas, Elias foi ouvindo ameaças interiores, vozes humanas cheias de pessimismo até resolver se esconder na caverna.
Na caverna era Elias com suas lembranças. Ali tem sua primeira noite de solidão. Até que Deus aparece para Elias em sonho e visões. Sim, Elias não estava acordado quando ” o vento forte fendia os montes, quebrava as penhas”, quando o terremoto e o fogo assombravam o lado de fora da caverna”. Percebam que para todos estes eventos é dito que ” O Senhor não estava”, Ele não era presença física, não era manifestação tangível. Outro detalhe a observar é que para o vento forte, o terremoto e o fogo, Elias permaneceu no interior da caverna. Deus chama-o para fora, mas Elias ainda não sai. O que se compreende em uma analise acurada dos versículos é que em visão Deus enfatiza a necessidade de Elias sair da caverna, pois Ele está no controle da vida, da natureza. é o mesmo Deus que venceu os falsos profetas de Baal. ” Elias, você esqueceu que sou Eu que dou ordem à natureza e tudo se move? “.
Outro aspecto a destacar é o de que todos os eventos naturais que aparecem na visão de Elias; vento forte, terremoto e fogo, estão presentes no livro de I Reis como advertência ao culto idolatra e iniquidades. Os eventos naturais eram a manifestação sobrenatural de Deus falando àquela nação, despertando-os à crença no Deus único e verdadeiro, vejamos: em I Reis 13;5, temos um terremoto fendendo um altar em Bétel ” E o altar se fendeu, e a cinza se derramou do altar, segundo o sinal que o homem de Deus apontara por ordem do Senhor,1 Reis 13:5″ O fogo está em I Reis 18:38 e II Reis 1:12. O vento está em I Reis 18:45.
Todo o ministério de Elias foi permeado de manifestação sobrenatural de Deus através de elementos da natureza. E quando Deus aparece para Elias naquela caverna, mais uma vez é movendo céu e terra, movimentando de uma forma maravilhosa a natureza. Que grande poder e amor de Deus! As más lembranças de Elias precisavam ser dizimadas para dar lugar às boas lembranças. Elias precisava trazer à memória o Deus da esperança, como bem falou Jeremias ( Lamentações 3:21). E finalmente, ao acordar, Elias, enfim, ouve Deus através de uma brisa, um vento suave e delicado passando do lado de fora da caverna. Finalmente, Elias saí da caverna e vai de encontro ao Deus que o formou profeta.
É interessante ir mais à fundo sobre a voz de Deus naquele lugar, o texto hebraico diz que houve o qôl demama daqqâ, em hebraico, isso significa, literalmente, o som de um silêncio fino ou absoluto, como experimentamos depois da tempestade. De fato, qôl demama daqqâ é usado exatamente dessa maneira no Salmo 107.29 ” Faz cessar as tormentas e acalmarem-se as ondas” que se traduz literalmente como ” Deus está no som do silêncio absoluto”. Ouvir Deus no silêncio? E ao ouvir Deus no silêncio absoluto, Elias saí da caverna, com o rosto coberto ,tal qual aconteceu com Moisés no Monte Sinai, como se a Presença de Deus resplandecesse naquele silêncio:
Quando desceu Moisés do monte Sinai, tendo nas mãos as duas tábuas do Testemunho, sim, quando desceu do monte, não sabia Moisés que a pele do seu rosto resplandecia, depois de haver Deus falado com ele. Olhando Arão e todos os filhos de Israel para Moisés, eis que resplandecia a pele do seu rosto; e temeram chegar-se a ele. Então, Moisés os chamou; Arão e todos os príncipes da congregação tornaram a ele, e Moisés lhes falou. Depois, vieram também todos os filhos de Israel, aos quais ordenou ele tudo o que o Senhor lhe falara no monte Sinai. Tendo Moisés acabado de falar com eles, pôs um véu sobre o rosto. Porém, vindo Moisés perante o Senhor para falar-lhe, removia o véu até sair; e, saindo, dizia aos filhos de Israel tudo o que lhe tinha sido ordenado. Assim, pois, viam os filhos de Israel o rosto de Moisés, viam que a pele do seu rosto resplandecia; porém Moisés cobria de novo o rosto com o véu até entrar a falar com ele. (Êxodo 34.29-35)
O rosto de Moisés resplandecia pela glória de Deus de modo que precisou colocar um véu. Aquele silêncio na caverna que estava Elias, era um silêncio incomum, nele a voz e a Presença de Deus eram audíveis. E eis que Elias foi atraído, transformado absolutamente em fé e ânimo! Elias teve forças suficiente para prosseguir em seu oficio de profeta. Elias, depois do desânimo, ainda viveu muitos dias de glória até ser arrebatado ao céu (II Reis 2:11). As más lembranças foram apagadas completamente dando lugar a uma única lembrança: a de que Deus era vivo e real e estava com Ele por todos os dias, como um Pai amoroso.
Lições práticas
É difícil expressar em palavras o quanto esse episódio da vida de Elias marcou minha vida e caminhada com Deus. Tentarei colocar alguns pontos específicos que para mim foram mais perceptíveis, contudo, sei que Deus poderá usar esse estudo para falar o que lhe aprouver.
Elias na caverna nos revela que independente de sermos filhos de Deus, com testemunho e experiência com Ele, em determinados momentos da vida sofreremos tribulações. Atravessaremos situações difíceis e possivelmente nos sentiremos desanimados e sem perspectivas. O que fazer? Por mais que achemos estranho o comportamento recluso de Elias, aquele tempo de reclusão foi determinante para oxigenar a vida e ministério de Elias. Não digo que é recomendável fugir de tudo e de todos, porém, essa história nos revela a necessidade vital de procurar tempo para ficar a sós com Deus em oração. Não orações rápidas e superficiais, mas profundas, em lágrimas, arrependimento e intercessão. É necessário trazer à memória a Soberania de Deus, deixando essa lembrança se sobressair em meio aos murmurinhos pessimistas do mundo.
Os eventos naturais do vento forte, tempestade e fogo, apareceram por todo o ministério de Elias e se prestarmos bem atenção neles, foram divisores de tempo na vida do profeta e também da nação de Israel. Altares pagãos sendo abalados, vento forte anunciando chuva após período de seca, fogo caindo do céu para responder a oração de Elias frente aos profetas de Baal. E quando todos esses elementos naturais novamente se unem ali na caverna é como se Deus estivesse lembrando Elias que Ele conhece o tempo e as estações, as circunstâncias estão todas sobre Seu controle. Da mesma forma que Deus interveio na história em favor de Elias e de seu povo, Ele está atento e nada escapará à Sua providência.
Que tipo de lembranças estão ocupando nossos dias? Em quais cavernas temos dormido? Deus nos pergunta: O que fazes ai? Tragam à memória o que lhes dá esperança, tragam à memória meu amor e cuidado para com vocês! Passem tempo comigo, arrependam-se dos pecados, do esquecimento de mim e busquem minha presença no silêncio! Quero falar-lhes sobre como prosseguir!
Nesse momento cristãos estão sendo perseguidos e até mortos em alguns países. irmãos em Cristo estão enfermos, outros deprimidos por perdas, decepções. Alguns convivem com traumas e grandes dificuldades familiares. É possível encontrar forças para prosseguir? A vida de Elias nos revela que sim. Observemos que o cenário de seu tempo já era parecido com o nosso; perseguição, mau governo, apostasia, idolatria. Elias achou que era sozinho naquela situação, contudo, Deus diz para ele que havia mais cerca de sete mil profetas; homens e mulheres que não se curvaram a Baal e que estavam sendo guardados. ( I Reis 19:18). Vejam, Deus tinha a conta de cada servo que orava dia após dia buscando Sua direção e presença. Nos dias de hoje não é diferente. Por mais que adversidades existam Deus tem a conta de cada filho, cada coração quebrantado que O busca, Tem a conta de cada preciosa alma que o busca.
Obrigada Senhor,
Ajuda-nos a sermos filhos melhores.
Esse artigo foi republicado com a permissão de Wilma Rejane Neri Moura