Jair se converteu em um encontro de um grupo pequeno de jovens. Universitário, entusiasmado e com tempo disponível, dedicou-se às oportunidades de estudo e discipulado que a igreja oferecia. Participava dos cultos, frequentava as aulas e se envolvia em discipulado. Parecia um exemplo de cristão em franco crescimento. Repentinamente, com pouco mais de um ano de caminhada cristã, abandonou tudo e se afastou da igreja. Ao ser procurado, acabou por confessar que estava envolvido em promiscuidade sexual e que não queria deixar essa vida para continuar seguindo a Cristo.
Paulo teve também uma trajetória de rápido crescimento em sua caminhada cristã. Fazia os cursos oferecidos, era discipulado, envolvia-se em todas as atividades possíveis na igreja. Depois de um ano de convertido, começou um namoro com uma jovem da igreja. Mesmo sem nenhum problema aparente, esse relacionamento começou a ocupar todo o seu tempo. Ele se tornou, juntamente com a namorada, negligente com seus compromissos na igreja e foi se afastando de seu ritmo de crescimento. Após o casamento, eles passaram a ser cristãos apáticos, sem entusiasmo e sem frutos espirituais aparentes.
Francisco vinha de uma família agnóstica e espírita. Sua vida refletia sua falta de compromisso com valores morais. Sua conversão foi marcante e ele também se dedicou com afinco à caminhada cristã. Também participava de todas as oportunidades de crescimento disponíveis. Teve suas lutas, foi orientado, aceitou a correção e continuou a crescer. Ao longo do tempo, seu potencial de liderança e ministério se tornou evidente. Com o tempo, tornou-se pastor de jovens e hoje lidera uma missão em um país estrangeiro.
As histórias acima estão em curso e creio que cada um será encontrado pela graça de Deus. Os nomes são fictícios, é claro, mas as histórias são de jovens reais com os quais eu caminhei e nos quais eu investi ministerialmente. Fazem parte dos inúmeros casos de pessoas que eu vi começarem uma caminhada com Jesus. Você provavelmente conhece alguém assim, ou talvez eu tenha, inadvertidamente, descrito sua própria história. Seja qual for o caso, eu convido você a examinar comigo o texto de Lucas 8, a conhecida parábola do semeador, para examinarmos o que a Bíblia tem a dizer sobre os mais diferentes processos de crescimento (ou falta deste) em cristãos.
Há quatro solos descritos. Para efeitos deste artigo, gostaria de focar nos solos dois a quatro. Entendo que o solo número um (a beira do caminho) representa aquele que não se converteu, não acolheu a palavra. Há um grande debate sobre se o solo número dois descreve um cristão. Por um lado, Lucas 8.13 afirma que elas “creem apenas por algum tempo”, mas, diante das provações, abandonam a fé. Seriam elas verdadeiramente convertidas? É difícil afirmar com certeza que sim, mas temo afirmar o contrário com qualquer nível de segurança. O que certamente se pode dizer do nosso “Jair” acima é que não vemos nele os frutos espirituais que são decorrentes de uma fé salvadora. Assim, não o reconheço como cristão. Isso não significa que ele não seja, apenas que não vejo nele as marcas de um cristão.
O terceiro solo é também um desafio. Lucas afirma que esses não amadurecem, enquanto os evangelhos de Mateus e Marcos afirmam que se tornam infrutíferos. Ambas as expressões parecem indicar algo em que há vida, muito embora não amadurecida. Esse é o caso de “Paulo”, descrito acima. Começou bem a jornada mas perdeu-se no caminho e parece que entrou em um beco sem saída. Muito embora afirme a fé cristã e tenha uma vida cristã aparente, não demonstra verdadeiro fruto espiritual. A parábola afirma que sua fé foi “sufocada”. E foi sufocada por três elementos comuns na vida de todos nós: preocupações, riquezas e prazeres.
A parábola afirma que sua fé foi “sufocada” por três elementos comuns na vida de todos nós: preocupações, riquezas e prazeres.
Todo mundo se preocupa. Na verdade, se alguém nunca se preocupa, essa pessoa deve ter algum distúrbio. Preocupar-se não é pecado, mas o que fazemos com nossa preocupação (ou ansiedade) pode vir a ser. Se tento resolver minha ansiedade sem confiar em Deus, estou trazendo para mim um problema além de minha capacidade. Estou decidindo viver sem uma plena submissão e dependência de Deus. O fato é que preocupações fazem parte de nosso dia a dia.
O segundo elemento são as riquezas. Permitam-me ampliar esse conceito para incluir sucesso de acordo com o mundo. Dentro disso então podem ser incluídas fama, poder, reconhecimento e outras “riquezas”. Realmente, quem coloca essas “riquezas” como um altar em sua vida certamente vai acabar sufocando sua fé. Pois é impossível servir a Deus e ao sucesso segundo o mundo (Mateus 6.24).
O terceiro e último elemento citado são os prazeres. Prazeres são particularmente poderosos em capturar nossos corações. Prazeres nos dão a sensação (física e neurológica) de realização. Nesse sentido, competem diretamente com nossa devoção a Deus. Na verdade, podem facilmente tornar-se nossos deuses. No momento em que afirmo que preciso de tal e tal coisa para ser feliz, não importa como eu preencha essa lacuna, tenho um ídolo em meu coração.
Não devemos somente ouvir a Palavra, mas retê-la, levá-la a sério, refletir sobre ela.
Por fim, para nosso encorajamento e estímulo, temos o caso de Francisco. Gente como ele tem, conforme Lucas 8.15, “bom e reto coração, retêm a palavra; estes frutificam com perseverança”. Sua vida demonstra essa caminhada com o Senhor. Ele teve seu coração transformado (como poderia ser bom e generoso se não fosse transformado?). Ele ouve e retem a Palavra. Essa é outra dica fundamental para o crescimento cristão. Não somente ouvi-la, mas retê-la, levá-la a sério, refletir sobre ela. O resultado não poderia ser outro. Gente assim evidencia em sua vida a presença e o poder transformador do Espírito.
Minha sincera oração é que eu e você busquemos trabalhar e render nossos corações de forma que sejamos como esse “Francisco”, que nosso Senhor sempre nos encontre com o coração pronto para ouvir e reter a Palavra, para que, como resultado, nossa vida frutifique para a glória de Deus.
Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutor em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos, uma neta e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.