Wilma Rejane
“E uma mulher, das mulheres dos filhos dos profetas, clamou a Eliseu, dizendo: Meu marido, teu servo, morreu; e tu sabes que o teu servo temia ao Senhor; e veio o credor, para levar os meus dois filhos para serem servos.
E Eliseu lhe disse: Que te hei de fazer? Dize-me que é o que tens em casa. E ela disse: Tua serva não tem nada em casa, senão uma botija de azeite.
Então disse ele: Vai, pede emprestadas, de todos os teus vizinhos, vasilhas vazias, não poucas. Então entra, e fecha a porta sobre ti, e sobre teus filhos, e deita o azeite em todas aquelas vasilhas, e põe à parte a que estiver cheia.
Partiu, pois, dele, e fechou a porta sobre si e sobre seus filhos; e eles lhe traziam as vasilhas, e ela as enchia. E sucedeu que, cheias que foram as vasilhas, disse a seu filho: Traze-me ainda uma vasilha. Porém ele lhe disse: Não há mais vasilha alguma. Então o azeite parou. Então veio ela, e o fez saber ao homem de Deus; e disse ele: Vai, vende o azeite, e paga a tua dívida; e tu e teus filhos vivei do resto.”2 Reis 4:1-7.
O trecho base que introduz esse artigo narra a história de vida de uma viúva que morava em Israel. Segundo o historiador Josefo, ela era esposa do profeta Bíblico Obadias que fazia parte da escola de profetas liderada por Eliseu. A viúva (cujo nome não é citado), passava por crise financeira, seu esposo havia deixado uma dívida e ela não tinha como pagar. Não se sabe se a situação se arrastava por algum tempo, vindo a se agravar com a falta do marido, ou, se, de fato, o marido não geriu bem os recursos deixando a viúva e os dois filhos em aperto. Fato é que aquela família chegou ao extremo da pobreza, não havia meios de suprir as necessidades básicas de sobrevivência. E aquela mãe de família, em um ato de desespero, chama Eliseu e conta toda sua situação. O que acontece depois disso é uma conversão de situação: a miséria dá lugar a abundância.
A fé da viúva é certamente um referencial para dias de aflição. E partindo desse princípio, poderemos explorar esse relato para aprender várias outras lições para a vida prática.
I- Dias de luto: o profeta morreu. A morte do profeta evidencia seu legado. A fé em um único Deus, o testemunho de dedicação ao chamado recebido havia alcançado sua família. Na ausência do marido, aquela mulher recordou de sua fé, de sua vida exemplar, recorreu aos ambientes e pessoas que conviviam com ele. A viúva se vale do testemunho do marido para sensibilizar Eliseu que prontamente a ajuda. Aprendemos que dias de luto são dias de recordar legados. São dias que a ausência evidencia a presença, o que aquela presença significa e significou.
Além do legado de fé e obras, o profeta deixa também um legado de dívidas. O credor queria levar seus filhos como pagamento. E aqui , mais uma vez, a memória do profeta nos chama à reflexão: o fato de se viver por fé não anula o fato necessário de se planejar o presente com vistas no futuro. Pais de família têm o dever de proteger suas casas, pôr em ordem nas finanças, prover recursos que garantam o bem-estar social. Há uma passagem Bíblica em que o Rei Ezequias é advertido por profeta Isaías a colocar sua casa em ordem antes de morrer: “II Reis 20:1 Por aquele tempo Ezequias ficou doente, à morte. O profeta Isaías, filho de Amos, veio ter com ele, e lhe disse: Assim diz, o Senhor: Põe em ordem a tua casa porque morrerás, e não viverás.” Creio ser esta a vontade de Deus para seus servos; que todos tenham uma casa em ordem, em todos os sentidos. Claro que essa meta é dificultada pelos emblemas da vida, não é fácil ordenar o lar de modo que todos sirvam ao mesmo Deus, que os recursos sejam suficientes, dentre outros fatores. Contudo, essa é a meta constatada na Palavra de Deus. No momento em que há desarranjos como dívidas e incredulidade, a paz é gravemente ameaçada.
Por esses dias conheci um senhor que me contou ser evangélico e congregar em uma igreja de pastor honesto e modesto que chegava a passar fome e ainda assim recusava ofertas. O senhor me disse também que começou a adotar o mesmo estilo de vida de seu pastor, porém, como tinha seis filhos estava em grande aperto, pois, com o início do período letivo, compra de fardas e materiais escolares, teve que fazer prestações longas por não ter nenhuma reserva monetária. Ao ouvir o senhor lembrei-me desse estudo que eu havia começado a esboçar. Falei para ele a passagem que inicia esse artigo e complementei com uma breve reflexão sobre ordenar a casa, pensar no bem-estar da família. Creio que Deus proporcionou meu encontro com aquele senhor, pois, ao ouvir-me, ele pausou a fala, seus olhos encheram de lágrimas e ele disse: “senhora, meu coração estava em aperto, estava orando a Deus por uma direção e essa mensagem falou comigo de modo transformador. Preciso pensar no legado que deixarei para meus filhos. Vou agir a partir de hoje para melhorar minha situação e de minha família.”
Quando Jesus diz para não ajuntarmos tesouros na terra ( Mateus 6:19), não enchermos os celeiros (Lucas 12:20) ou que os ricos não herdarão o Reino dos céus (Mateus 19:24), Ele não está a dizer que é preciso ser pobre para ser salvo. O que Jesus diz é: “não ame o dinheiro mais do que a sua própria vida, não ponha os bens materiais em primeiro lugar em seus tesouros, não queira ser rico de bens e pobre de espírito. Ame primeiramente a Deus e ao próximo, tudo o mais vos será acrescentado” ( Timóteo 6:10- Mateus 6:24- Mateus 6:33 – Mateus 5:3-12) e ainda I Timóteo 5:8 “Aquele que não cuida dos seus, especialmente de sua família, é pior que o infiel, negou sua fé, e é pior que o incrédulo.
Que tipo de legado deixaremos ?
II- Dias de oração: Aquela viúva mantinha o hábito da oração. Ela escolheu contar o problema para um mensageiro de Deus, era assim que via a Eliseu (e não estava enganada). Certamente a viúva de Obadias já havia orado a Deus, suplicado por respostas. A situação havia chegado ao extremo, não havia comida e nem opções de crédito, todos os comerciantes deviam saber que a viúva não tinha como pagar.
Aquele restinho de azeite, uma botija apenas, era como a fé daquela mulher devido a situação que se encontrava. Sua dispensa estava vazia, mas lá no cantinho de sua cozinha havia uma botija bem guardada, preciosa como ouro. A alma daquela mulher estava devastada, triste, mas apesar de tudo, ela guardava a fé como o bem mais precioso.
É claro que a viúva do profeta sabia o valor das pequenas coisas, ela aprendeu com a escassez e por isso mesmo não esqueceu de mencionar a Eliseu que tudo que tinha em casa era uma botija de azeite. A escassez nos ensina ( pelo menos deveria ensinar) o valor da vida.
Eliseu apenas instruiu a viúva sobre o que deveria fazer, ele não a acompanhou até sua casa, não a ajudou a pedir as vasilhas emprestadas, não se comprometeu a pagar a dívida. Eliseu disse para a mulher entrar em casa e fechar a porta sobre ela e os filhos. E aquela família foi obedecendo e vendo o milagre acontecer! Você tem dúvida se aquela família orou a Deus diante das vasilhas vazias? Acredito que eles oraram em secreto, pediram vasilhas emprestadas, mas não contaram pra ninguém o que fariam.
Eliseu, como homem de Deus, sabia o valor da oração, também sabia do poder destruidor da fofoca. A viúva do profeta agiu com muita sabedoria ao procurar Eliseu e dividir com ele sua dor. Devemos nos lembrar disso: nem todos compreenderão nossos problemas, nem todos darão conselhos para o bem, por isso, devemos ser seletivos. Tudo quanto nos aflige deve ser colocado primeiramente em oração. Gosto de recitar esse verso quando estou orando: “Não andeis ansiosos por motivo algum; pelo contrário, sejam todas as vossas solicitações declaradas diante de Deus, por meio de orações e súplicas com ações de graça” ( Filipenses 4:6).
A história da viúva de Obadias me recorda da Parábola das dez virgens, quando cinco virgens tolas pedem azeite emprestado para as cinco virgens sábias e por estarem despreparadas não conseguem se unir ao noivo. A viúva não pediu azeite emprestado, ela pediu vasilhas! Ela tinha uma pequena porção de azeite, não estava despreparada totalmente, aquela reserva, guardada com cuidado, foi a sua salvação! A fé daquela mulher no Deus único e real ainda hoje fala. Aquele pouquinho de azeite ainda alimenta a mim e a você através do testemunho, escrito na palavra de Deus, a fim de ensinar os sedentos por comunhão e salvação. Quão maravilhoso é guardar a fé diante das angústias dessa vida, quão maravilhoso é perseverar em seguir a Jesus mesmo quando as coisas não estão indo do modo que queremos.
Não jogue fora o azeite para não precisar pedir emprestado depois. Azeite não se empresta, o que se empresta são vasilhas. Você e eu somos como vasilhas vazias necessitando ser preenchidos com o Espírito Santo de Deus. O azeite multiplicado libertou os filhos da viúva da escravidão, o Espírito Santo habitando em nós nos livra da morte e do pecado porque Jesus pagou nossa dívida, aleluia!
III- Dias de união- Esse será o tópico mais breve, contudo, sua existência é necessária. É importante dizer que a união familiar transformou a situação daquela família. Não nos é dito que os filhos culparam o pai, se revoltaram contra a mãe. Não é dito que eles acharam loucura pedir tantas vasilhas emprestadas na vizinhança sem ter comida em casa. A viúva relutou em entregar seus filhos como pagamento da dívida, os filhos, por sua vez, apoiaram a mãe em todos os momentos.
Quando a crise se instalar na família, o melhor a fazer é se unir em oração e agir como cristão. Procurar solucionar a crise e não apontar culpados. Deus honrou a fé dessa família, Ele não os desamparou.
Que Deus em Cristo nos abençoe.
Esse artigo foi republicado com a permissão de Wilma Rejane Neri Moura