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Quando Fazer Menos é Fazer Mais

Chamada

No ocidente (e grande parte do oriente) desenvolvemos uma ideologia que cultua a produtividade. Quanto mais você faz, melhor é. Há várias considerações, do tipo: “Não se pode perder a qualidade”, ou: “O produto precisa ser adequado à demanda”, ou mesmo: “O que fazemos precisa ser criativo e inovador”. No final, no entanto, uma vez respeitadas essas condições, mais é melhor.

Há muita verdade nessa consideração, mas há algo essencialmente distorcido em equivaler produtividade com sucesso ou realização. Será que um professor é melhor por dar mais aulas ou atingir mais alunos? Será que um igreja é melhor por realizar um culto com mil, duas mil ou mesmo dez mil pessoas? Sim, como afirmado acima, há muito de verdade, mas creio que de uma forma distorcida e, portanto, o princípio de que “mais é melhor” se torna, na verdade, um engano, um ídolo em cujo altar temos sacrificado conceitos e até mesmo pessoas de um valor muito superior.

Jesus parecia não atender ou cultuar no altar da produtividade. Em João 6.67, após uma discurso politicamente (e mercadologicamente) incorreto, ele perde muitos seguidores e ainda assim diz aos discípulos: “Vocês também não querem ir?”. Ele não só dispensou as multidões, como desafiou seus discípulos, perguntando-lhes se queriam realmente segui-lo. Em termos do “coaching ministerial” moderno, essa seria a hora de acolher, encorajar, ressignificar essa perda de seguidores.

Ouvir a Deus em meio a um ministério ativo e tomar passos que contrariam as evidências exige fé e dependência.

O Espírito Santo tampouco parece se preocupar com números e com produtividade. No capítulo 8 de Atos, vemos Filipe com um ministério de grande impacto em Samaria. Talvez fruto da passagem de Jesus e de seu ministério ali por meio da mulher no poço, o fato é que o povo estava respondendo ao evangelho. Tanto que Pedro e João foram até lá verificar o que estava ocorrendo. Por qualquer critério, esse foi um avivamento espiritual. No entanto, mesmo diante de tanto “sucesso”, no verso 26 um anjo diz a Filipe: “Vá para o sul, para a estrada deserta que desce de Jerusalém a Gaza”. O Espírito sabia do avivamento em Samaria e sabia que a estrada estava vazia. Qualquer consultor de crescimento de igrejas diria que essa é uma escolha que vai contra as melhores e comprovadas estratégias.

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Minha curiosidade é despertada pelo que ocorreria se Filipe não parasse para ouvir o anjo. Ele tinha todas as razões para não o fazer. Um ministério de sucesso, a aprovação e mesmo parceria de dois apóstolos, sinais e maravilhas. Parece o sonho de todo ministro, não? Se você estiver engajado na ideologia da produtividade, sim, mas se você seguir o mover de Deus, então, não. Ouvir a Deus em meio a um ministério ativo e tomar passos que contrariam as evidências exige fé e dependência. E isso é o que define homens e mulheres fiéis.

Quero então compartilhar uma preciosa lição que aprendi ao longo de mais de quarenta anos de ministério. Especialmente para aqueles que, como eu, são ativistas. Considere comigo três princípios: (1) o ministério é de Deus e não nosso; (2) Deus tem a perspectiva estratégica, como no caso de Felipe e o eunuco, e (3) nosso chamado é servir ao Senhor da obra e não governar a obra. Tendo em mente esses princípios, acredito que é seguro dizer que o aspecto mais importante não é como posso ter maior impacto, ou como posso ter maior produtividade como cristão, mas “como posso me alinhar ao que Deus me chamou para fazer?”. Se essa é a pergunta mais importante, e eu creio que é, então ouvir corretamente a Deus é muito mais importante do que produzir muito, ainda que sejam resultados positivos e aparentemente espirituais.

Se você, como eu mesmo fiz tantas vezes, estiver ocupado demais em fazer coisas para Deus, é muito provável que perca a direção que Deus tem para você.

O maior exemplo que podemos apontar é o tempo que Jesus, que tinha perfeita comunhão com o Pai, investiu em orar e buscar ao Pai em meio ao seu ministério. Se você, como eu mesmo fiz tantas vezes, estiver ocupado demais em fazer coisas para Deus, é muito provável que perca a direção que Deus tem para você. Minha sugestão é: não se mova sem a direção clara de Deus! Invista o tempo que for necessário para ouvir com clareza aquilo com que Deus deseja que você se envolva. Não se deixe enganar por cargos ou “oportunidades” deslumbrantes. Mantenha seus olhos fixos no Senhor e saiba que realizar a vontade dele é o que vai realizar todos os nossos sonhos legítimos.

Minha oração é que você, como eu, aprenda a se aquietar diante dele, ouvir sua voz e seguir a direção que ele tem. Não se perca em afazeres e tarefas agitadas, por melhores que sejam. Afinal, servimos a Deus e não às tarefas.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por 5 anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 24º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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