Por: Jorge A. Ferreira
Os Dons do Espírito Santo são ferramentas que Deus concede à Igreja para o fortalecimento espiritual da comunidade (I Co. 12. 03) e para servir de apoio na propagação do evangelho (I Co. 14. 24). Esta capacitação do céu, apesar de contestada por alguns ramos do cristianismo (cessacionistas), é algo inteiramente apoiada pelas escrituras, pelos diversos casos do manifestar do Espírito ao longo da história e pela experiência de milhões de cristãos ainda nos dias de hoje que vivem em suas vidas de maneira sobrenatural essas bençãos. Mas, não podemos negar que grande parte da incredulidade e desinteresse demonstrado por parte de alguns para buscar e viver essas bençãos, se deve ao mau uso e escândalos de diversos tipos promovidos por certos irmãos que manifestam esses fenômenos.
Ainda hoje, após um século do avivamento da rua Azuza, há muitos irmãos que desconhecem plenamente estes dons e que não sabem usá-los corretamente, causando escândalos e descrenças exorbitantes por falta de instrução bíblica e cultivo das virtudes cristãs. Seja por falta de conhecimento bíblico, ou por falta de maturidade, acabam contribuindo de forma direta para o escárnio dos incrédulos e de certa forma para a anulação destes dons nas comunidades, já que o abuso acaba por inibir e desencorajar os membros mais novos a buscá-los.
Os Problemas da Igreja de Corinto
A Igreja de Corinto sofreu com os mesmos problemas causados por esses “meninos” na fé, que distorcem a liberdade do Espírito, causando dissensões e escândalos ao corpo de Cristo (I Co. 14. 23). Corinto era uma Igreja repleta de manifestações espirituais, como atestada pelo próprio Apóstolo “De maneira que nenhum dom vos falta, …” (1 Coríntios 1:7) mas, que não sabia usá-los de forma correta, pois desprezavam o elemento equalizador de qualquer atividade que visa demonstrar a glória de Deus, o fruto do Espírito. Tinham dons, mas não tinham maturidade cristã suficiente para entenderem coisas básicas da fé “E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo.” (1 Coríntios 3:1).
A imaturidade da Igreja acerca dos dons pneumáticos, se evidencia através dos escritos de Paulo, nos capítulos 12, 13 e 14, mas vem sendo desenvolvido desde o início de sua epístola. A partir do contexto da carta, é possível saber que esta igreja não havia entendido corretamente o verdadeiro sentido da fé cristã, pois, estavam envolvidas em dissensões (1 Coríntios 3:3) e diversos problemas morais (1 Coríntios 5:1), além de viverem uma vida irresponsável diante dos incrédulos, manchando o nome de Cristo . A soberba (1 Coríntios 5:2), libertinagem (1 Coríntios 5:1), facções (1 Coríntios 3:4) e diversos outros problemas, inclusive de ordem doutrinária, (1 Coríntios 11:19) refletia de forma clara no exercício ministerial e nas ações dos crentes no que tange aos dons do Espírito. Paulo detecta diversos problemas nessa área, que acabavam manchando e blasfemando o nome do Senhor. Havia confusão, desonra e menosprezo pelos irmãos mais pobres e fracos (1 Coríntios 12:23), abuso degenerado pelo dom de línguas (1 Coríntios 14:23), baderna na hora de profetizar (1 Coríntios 14:30) , e etc..
Os problemas espirituais desta Igreja é um exemplo de como uma igreja não deve ser, e se parece muito com muitas igrejas pentecostais atuais, que sem maturidade espiritual e cultivo das virtudes do Espírito, necessitam do entendimento bíblico correto para deixarem de viver na ignorância (1 Coríntios 12:1).
“Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento.” (1 Coríntios 14:20)
O Fruto do Espírito e os Dons Espirituais
A exortação do Apóstolo acerca dos dons espirituais, se inicia no capítulo 12 (1 Coríntios 12:1), onde os apresenta e explica sua finalidade no corpo de Cristo enfatizando sua unidade (1 Coríntios 12:12). No capítulo 13, apresenta um elemento fundamental, que na sua falta, era o motivo de toda confusão na igreja, a caridade (Gl 5.22). Neste capítulo ele demonstra que qualquer dom e atividade se torna inútil sem o amor como Fruto do Espírito (1 Co 13.1- 3). Pois, a caridade impede que o crente use os dons para seus próprios interesses “…A caridade não busca os seus interesses…” (1 Co 13.5), mantém o cristão em humildade “…o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece (1 Coríntios 13:4) e produz a perseverança e domínio próprio “Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Coríntios 13:7).
Para uma Igreja dividida (1 Coríntios 3:4) e sem maturidade espiritual (1 Coríntios 3:1), envolvida em diversas manifestações de soberba (1 Coríntios 14:23), só há uma solução eficaz, a ordenação da alma no fruto do Espírito “Mas o fruto do Espírito é: caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.” (Gálatas 5:22).
Se entendermos de forma correta esses dois capítulos, veremos que é a falta de amor prático que estava produzindo a desordem na comunidade. Todo dom carismático deve ser usado sob a orientação do Espírito Santo e controle de seu Fruto.
Ordem e decência nos cultos
Paulo orienta a igreja, a exercer o Fruto do Espírito Santo sem o qual não poderá ser eficaz diante dos homens. Ao problema das línguas desenfreadas ele responde: “Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos?” (1 Coríntios 14:23). Ele não proíbe o falar em línguas, pelo contrário, diz que desejava que todos falassem (1 Coríntios 14:5), mas que deveria haver ordem e entendimento correto, para não escandalizar os incrédulos, “Porque Deus não é Deus de confusão…” (1 Coríntios 14:33). Incentiva a profecia como meio de edificação da comunidade (1 Coríntios 14:4) e ensina que as Línguas são para a edificação individual do crente. E se não houver interpretação? “…esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus. (1 Coríntios 14:28).
Ao se reunir em igreja, o foco deve estar em Deus e na edificação do próximo “O que fala em língua desconhecida edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja.” (1 Coríntios 14:4). A Caridade ou o amor é o ordenador que deve mover toda atividade espiritual. Desde o capítulo 11 ele enfatiza isso na questão da Ceia, em que uns comiam e bebiam demais deixando os menos favorecidos de lado (1 Coríntios 11:22). Portanto, a edificação do corpo de Cristo deve ser a prioridade dos irmãos “Que fareis pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.” (1 Coríntios 14:26).
O Apóstolo inspirado pelo Espírito, ensina que na reunião dos santos, deve haver ordem, decência e edificação espiritual e intelectual dos irmãos; “Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.”(1 Coríntios 14:39,40). O Culto deve ser apresentado de forma inteligível e sem escândalos ou badernas. Neste sentido, mesmo enfatizando a profecia, que se mostra essencial no culto – pois serve para edificação do corpo, diante da baderna generalizada, ele diz: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”(1 Coríntios 14:29). Há aqui uma clara orientação devido ao excesso e desordem no uso desse dom, que ele quer evitar. A falta do fruto do Espírito é evidente, pois, tudo parece ser feito sem decoro e com a desculpa do “impulso espiritual” descontrolado do Espírito. Por essa razão, ele enfatiza: “E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas.” (1 Coríntios 14:32), ou seja, controlem-se, tenham domínio próprio em suas ações.
A Imaturidade dessa igreja é colocada em cheque pelo Apóstolo, e toda a confusão gerada no uso dos dons é causada pela falta do Fruto do Espírito, pois, eram meninos no entendimento, e suas ações estavam causando problemas e desordem que serviam para impedir o desenvolvimento da obra de DEUS. Sendo assim, Paulo os orienta a crescer no entendimento de Deus e alcançarem a maturidade, sem a qual não poderiam glorificar ao Senhor verdadeiramente. Os capítulos analisados, ainda que de forma superficial, nos mostra o desejo do senhor em ordenar o seu povo, com a finalidade de nos conduzir a perfeição.
Conclusão
Dons espirituais sem maturidade, causa confusão e não glorifica a Deus, assim sendo, o fruto do Espírito é essencial a todos que querem servir como instrumentos santos nas mãos de Deus.
“Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino” (1 Coríntios 13:11).
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Esse artigo foi republicado com a permissão de O Pentecostal Bíblico.