Filho pródigo
Por João Cruzué
Quando o filho mais moço exigiu sua parte na herança (Lucas 15:11), o pai não disse uma palavra; fez as contas e repartiu a fazenda para os dois herdeiros. Quando o moço vendeu sua parte, pegou o dinheiro e foi-se embora, o pai presenciou tudo e, também, não disse uma palavra. E não disse, porque nada do que dissesse iria convencê-lo. É o que pode estar acontecendo hoje quando você acha que Deus está em silêncio.
E o filho mais novo da parábola foi-se embora e desperdiçou tudo. E ainda tentou manter-se a distância em um emprego de “pastor” de porcos, depois que o dinheiro acabou. Isso também é muito comum. Deus tem sido uma das últimas portas que os filhos do pós-modernismo batem, quando encontram o fundo do poço.
Quando a fome apertou mesmo, e o moço sentiu que um porco tinha mais valor que ele, a “ficha” caiu. Ele racionalizou, pensou bem, e tomou uma atitude: iria voltar! Mesmo que para isso tivesse que se humilhar e aceitar uma posição de serviçal. Sim, ele estaria disposto a trabalhar apenas pelo pão.
E por causa da fome ele voltou. A crise de pão o colocara de volta no caminho para casa.
O Pai, por outro lado, não se esquecera dele nem um dia. E foi assim que o avistou ainda longe, voltando trôpego, quase nu, esquálido, com os pés feridos e arrependido. Viu e não deu as costas, nem ficou irado, nem endureceu o semblante. Em vez disso, abriu um grande sorriso, com o coração movido de íntima compaixão, saiu correndo ao encontro do filho, sorrindo e chorando ao mesmo tempo.
Abraçou e o beijou; também sem dizer uma palavra. Não sei se chegou mesmo a ouvir as frases ensaiadas do jovem desventurado. O regresso do moço e o rosto humilde já diziam tudo.
E não mais se contendo de tanta alegria, o pai gritou aos empregados:
Trazei-lhe a melhor roupa;
Vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão,
E alparcas nos pés,
Trazei o bezerro cevado, matai-o
e comamos e alegremo-nos,
Porque este meu filho estava morto, e reviveu
Tinha-se perdido, e foi achado.
Aquele pai não disse uma palavra de perdão. Sua recepção, no entanto, valia por mil palavras. Demonstrava não apenas perdão, mas devolução do status filial e um amor incondicional. Amor que se expressou por uma explosão de alegria em uma grande festa.
O pródigo arrependido não estava preparado para um perdão incondicional, nem pela reconquista da condição de filho. Jamais passou pela sua cabeça ser recebido com festa. É assim que Deus faz: Ele surpreende, vai muito além daquilo que planejamos e esperamos.
Quando Jesus disse esta parábola, o desmiolado filho caçula representava os pecadores: as prostitutas, os leprosos, os publicanos, os samaritanos, os desprezados pela sociedade, os quebrantados de coração, os bêbados, os desgarrados e distanciados de Deus. Você e eu.
E o filho mais velho que se aborreceu com a volta do irmão caçula representava os religiosos legalistas dos dias de Cristo. Fariseus, saduceus, levitas, escribas e sacerdotes. A elite religiosa que torcia o nariz pela forma amorosa com que Cristo se relacionava com a “gentalha”. A mesma atitude mesquinha que está acontecendo neste século XXI, em que Deus está interessado na salvação dos perdidos, já tem preparado o “cevado” para uma grande festa, mas os “filhos mais velhos”, não estão mais interessados em olhar o caminho dos pródigos.
Jesus deixou implícito e muito claro na parábola que o Pai do pródigo, é Deus, nosso Pai Celestial. Um Pai amoroso, perdoador, festejador, que deseja para abraçar aqueles que se levantam do pecado e encontram o caminho do arrependimento. Um Deus que tem propósitos especiais para cada pessoa – ou farrapo de pessoa. Ele ama cada pecador e está disposto a perdoar e depois revelar em cada coração qual seu propósito de cada um.
Deus está em silêncio, não é porque o/a não ama. Mas porque talvez você se mantém longe e ainda não pensou em voltar. Ainda deseja continuar distante, vivendo infeliz, sob uma justificativa de uma falsa liberdade, crendo em sofismas, em filosofias vazias. Pode ser que jamais pensou em ler uma Bíblia – a palavra de Deus. Quem sabe se Uma foto do quadro da sua vida nesse instante pudesse lhe mostrar que não há nenhum futuro para você sem a mão amiga de Deus.
Jesus é o filho do Deus vivo. Basta apenas um pensamento em seu coração. Um simples pensamento: “Deus, se Tu existes mesmo, mostra um pouco da tua misericórdia para mim, e perdoa-me, pois minha situação é esta, esta e esta…
Eu sempre pensei assim, assim e assim…E agora eu preciso muito de ajuda. Da Tua ajuda, pois eu cheguei além do que se conhece por fundo do poço.
Um abraço de perdão. Um beijo de aceitação. Uma roupa de justificação, um anel de filiação, sandálias para proteger os pés e uma grande festa de comemoração para a sua volta. Você pode estar morto, perdido, derrotado mas se voltar de verdade para Deus vai receber uma nova vida, vai encontrar um caminho da paz e da felicidade e vai voltar a ouvir de novo o barulho da alegria.
Ô Glória!
Nota: Tudo o que disse no texto não é história da carochinha, nem conversa fiada baseada em teorias ou ouvir dizer. Eu conheço bem o gosto das privações e silêncio de Deus, durante 11 anos de um longo desemprego. Eu creio em cada palavra do que disse, e sei que por experiência própria que Jesus, o filho de Deus é o socorro bem presente no dia da angústia.
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Esse artigo foi republicado com a permissão de Olhar Cristão.