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Não Abaixe a “Barra”

Chamada

Recentemente, assisti com minha esposa uma competição de salto em altura. É impossível assistir a um evento assim sem ficar surpreendido com a habilidade, esforço e desempenho dos atletas. Os recordes de salto em altura são de 2,45 metros para homens e 2,09 metros para mulheres. Curiosamente, ambos os recordes têm mais de vinte anos! Para participar da competição, um atleta tem de se qualificar entre os doze melhores. Em Tóquio em 2020, a altura mínima para se qualificar era de 2,28 metros, ou seja, se você saltar no máximo 2,25 (uma altura impressionante), você não se qualifica.

Eventos esportivo desse tipo são muito rigorosos em seus padrões mínimos. Não basta a pessoa desejar participar, ela precisa demonstrar que consegue obter uma marca mínima. Em meu último artigo, estudei Filipenses 1.27-30, explicando o conceito de exercer nossa cidadania de maneira digna. Muito embora nossa salvação seja fruto de graça e não de mérito, Paulo parece indicar que há um padrão que devemos manter caso queiramos exercer nossa cidadania celestial “de maneira digna”. Ou seja, nossa salvação está garantida no momento em que, por meio da fé, confiamos em Jesus Cristo como nosso Senhor e Salvador. No entanto, somos desafiados a atingir um padrão. Assim como, em uma competição de salto em altura, não podemos “abaixar a barra”, não podemos ignorar que Deus nos chama a viver de uma forma que se alinha com seus padrões (1Coríntios 9.24).

Muito embora nossa salvação seja fruto de graça e não de mérito, Paulo parece indicar que há um padrão que devemos manter caso queiramos exercer nossa cidadania celestial “de maneira digna”.

Acredito que é isso que Paulo passa a ensinar os filipenses a partir do capítulo 2. Ele está certo de sua conversão, ele os elogia por sua fidelidade e está convencido de que Deus completará sua obra na vida deles, mas ainda há espaço para crescer, há instruções a passar. Em Filipenses 2.1-4, lemos:

“Se por estarmos em Cristo nós temos alguma motivação, alguma exortação de amor, alguma comunhão no Espírito, alguma profunda afeição e compaixão, completem a minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude. Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros.”

Paulo começa apresentando quatro bases ou motivações para suas instruções. Ele inicia a sentença com “se”, não para estabelecer uma condição ou dúvida, mas no sentido de “já que temos essas características”. No início do versículo 2 ele completa seu pensamento antes de introduzir as bases de sua motivação. “Completem minha alegria” traz à tona o fato de que eles já o têm alegrado, mas podem alegrá-lo ainda mais. Os incentivos para suas instruções são:

  1. Motivação em Cristo – temos em Cristo o consolo, o encorajamento que precisamos. A própria presença de Cristo em nós nos motiva a buscarmos constantemente o crescimento (João 15.5).
  2. Exortação de amor – diante do amor do Pai derramado sobre nós, somos constrangidos a buscarmos uma vida que se alinhe com esse amor (2Coríntios 5.14).
  3. Comunhão no Espírito – o fato de sermos habitados pelo Espírito e seu ministério em nós é o que nos capacita a uma vida transformada (Gálatas 5.22-23).
  4. Compaixão e afeição – Por fim, devido ao mover do Deus Trino em nossas vidas, nossas próprias afeições, atitudes e sentimentos são transformados (1João 4.7)

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O padrão de santidade ou de alinhamento com o caráter de Deus não é insignificante, nem pode ser desprezado.

Diante de todas essas motivações ou encorajamentos, Paulo conclui então com sua instrução, a qual se resume em unidade e humildade (v. 2-4). Ele começa falando da unidade que deve ser o alvo da igreja. Ele expressa essa unidade por meio de uma união de propósito ou foco, união em amor e, por fim, pela humildade essencial a essa unidade. Ao desenvolver a virtude da humildade Paulo faz três observações, a meu ver, fundamentais:

  1. Não façam nada por egoísmo. Na verdade, o contrário de amor não é ódio, mas desinteresse motivado por interesse próprio. Onde existir egoísmo, não haverá amor.
  2. Considerando os outros superiores. Paulo avança nesse pensamento afirmando que devemos considerar os outros como superiores. Aqui não está proposto um juízo de valores, ou seja, Paulo não afirma que os outros são superiores, mas que devemos considerá-los assim.
  3. Cuidando dos interesses dos outros e não apenas dos seus. Uma vez mais, Paulo aprofunda o conceito de amor. Na prática, amor é muito mais que um sentimento, é um compromisso com o bem-estar do outro. Nesse sentido, amor tampouco pode ser confundido com uma postura codependente, onde eu, afirmando agir em amor, sou conivente ou auxilio o outro em um comportamento que lhe é prejudicial. Lembro-me de um pai que, buscando o melhor para o filho, pagava suas dívidas com drogas e o filho se afundava cada vez mais. No dia em que ele declarou ao filho que, por amor, não iria mais custear seu vício, o filho começou sua longa jornada de recuperação.

Em resumo, o padrão de santidade ou de alinhamento com o caráter de Deus não é insignificante, nem pode ser desprezado. A “barra” não pode ser abaixada para se adequar aos nossos desvios. Em toda e qualquer circunstância, nosso chamado é nos tornarmos como homens perfeitos (Colossenses 1.28-29). Minha oração é que eu e você estejamos comprometidos com um crescimento que ultrapassa em muito nossa capacidade, o qual só é possível por meio da capacitação do Espírito Santo.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 24º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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