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Acaso Apenas Provas Explícitas na Escritura são Válidas? – Bereianos




Um Tratado sobre Múltiplas Questões, cap. 20.


Estas deduções imprescindíveis da Palavra escrita de Deus provam, de forma sólida e forte, um parecer ou uma conclusão jure divino [do direito Divino]. Se esta for teórica, será uma verdade Divina infalível, devendo ser crida. E, se for prática, será um dever necessário, ao qual somos obrigados a cumprir.


Essa afirmação não deve ser tão ampla, a ponto de envolver raciocínios errados e deduções da Escritura que algum homem, ou alguma igreja, esteja convicto e acredite ser forte e imprescindível. Falo do que é, e não do que se pensa ser uma dedução imprescindível. Também não deve ser reduzida e estreitada; como fazem os arminianos, que não admitem outras provas da Escritura, além de textos simples e explícitos, de consequências nulli non obviae [não contestadas por ninguém] ou que possam que ser contestado por qualquer homem rationis compos [dotado de razão]. Por este princípio, caso seja abraçado, devemos renunciar muitas verdades necessárias que as Igrejas Reformadas mantêm contra os arianos, anti-Trinitários, socinianos e papistas; pois as deduções e os argumentos da Escritura que trazemos para prová-los não são admitidos, como bons, pelos adversários. 


Em segundo lugar, também devo ressaltar que essa afirmação não quer dizer que uma dedução da Escritura que é criada pela mente humana possa servir como fundamento de nossa crença ou consciência. Pois, embora a dedução ou argumentação seja feita por mentes humanas; ainda assim, uma dedução ou conclusão não é crida, nem abraçada pela força da razão, mas porque é verdade e vontade de Deus.


Em terceiro lugar, vejamos com Gerhard, uma distinção entre a mente corrupta e a mente renovada ou restaurada. Ou entre a mente natural, que argumenta sobre as coisas Divinas em princípios naturais e carnais (sensações, experiências e coisas semelhantes), e a mente cativa e subjugada à obediência a Cristo (2 Coríntios 10:4-5), que julga as coisas Divinas não pelo homem, mas pelas regras Divinas, e de acordo com princípios das Escrituras, visto o quão opostos são à sabedoria da carne. É a última, não a primeira, mente que será convencida e ficará satisfeita com as deduções e conclusões extraídas da Escritura, nas coisas que dizem respeito à glória de Deus, bem como de questões Espirituais ou Divinas.


Em quarto lugar, existem dois tipos de deduções que Aquino distingue:

a. A evidência sólida e forte, ou imprescindível e certa. Como por exemplo (diz ele), quando a lógica é extraída da ciência natural para provar que o movimento do céu tem sempre uma velocidade constante, não sendo mais lento ou mais rápido de acordo com o momento. 

b. A que é feita por ser agradável ou por conveniência. Como na astrologia (diz ele), esta lógica é extraída dos excêntricos ou epiciclos. Em que os movimentos celetiais são (supostamente) entendidos por phenomena ou apparentia sensibila (experiências sensíveis): O que se pensa que não é uma prova necessária, porque os phenomena podem ser entendidos de outra maneira, por outra suposição.



Portanto, também há dois tipos de deduções da Escritura. Algumas são imprescindíveis, fortes e confiáveis; é destas que falo nesta afirmação. Outros que são deduções boas para provar uma adequação ou conveniência de algo ou de parte da Escritura, mesmo que outra coisa também possa ser provada ser aceitável para a Escritura naquele ou em outro lugar. Este último tipo, em diversos assuntos, é de grande utilidade; Mas, no momento, me refiro às deduções imprescindíveis.


Agora que expliquei a afirmação, vou prova-la pelos seguintes argumentos:


I. O Exemplo de Cristo e Seus Apóstolos


Cristo, contra os saduceus, provou a ressurreição dos mortos no Pentateuco (a única Escritura reconhecida por eles, como muitos pensam, embora outros defendam que não há garantia para afirmar isso).


“Agora sobre a ressurreição dos mortos, até mesmo Moisés mostrou isso no arbusto, quando diz que O Senhor é O Deus de Abraão, O Deus de Isaque e O Deus de Jacó. Ele não é um Deus de mortos, mas de vivos; portanto todos vivem” (Lucas 20:37-38, Mateus 22:31-32).


Mais uma vez, Cristo usou uma dedução boa e necessária em João 10:34-36: “Acaso não está escrito na Lei de vocês, Eu disse: ‘Vocês são deuses’? Se Ele chama de deuses, aqueles a quem veio a Palavra de Deus, e a Escritura não pode ser anulada. Então por que chamam Àquele a quem O Pai santificou e enviou ao mundo de ‘blasfemo’; por ter dito, ‘Sou O Filho de Deus’?”.


O apóstolo Paulo provou a ressurreição de Cristo, por dedução da Escritura em Atos 13:33-34: “Ele ressuscitou Jesus; como está escrito no Segundo Salmo, ‘Você és meu Filho, hoje a você gerei’. Assim, Ele O ressuscitou dentre os mortos, para não mais retornar à corrupção; Ele disse, ‘Eu darei as bênçãos seguras de Davi a Você’.”.


A Divindade Dele é provada por estas palavras: “Que todos os anjos de Deus O adorem” (Hebreus 1:6). O culto Divino não pode ser nulo, e não deve ser dado a nenhum que não seja Deus. 


II. O Antigo Testamento


Embora Hooker em sua Política Eclesiástica, e outros escritores episcopais, tenham sustentado a diferença entre o Antigo e o Novo Testamento; que Cristo e Seus apóstolos não se prenderam a tantos detalhes conosco, como fez Moisés com os judeus. Mas, após um exame, descobre-se que todas as ordenanças e coisas Sagradas para a Igreja Cristã não estão menos claras e contidas no Novo Testamento, do que as ordenanças para a Igreja Judaica determinadas no Antigo, e que há algumas coisas essenciais a serem extraídas por dedução imprescindível da Lei de Moisés, bem como agora do Novo Testamento.


Se consultarmos o Talmud, veremos que a lei relativa às almas a serem eliminadas por desprezarem a Palavra Do Senhor (Números 15:31) é aplicada aos que negaram as deduções imprescindíveis da Lei. Diz o Talmud: “Se um homem reconhece toda a Lei como sendo do Céu, praeter istam collectionem a majori aut minori, istamve, a pari, is notatur illâ sententiâ, quia verbum Domini aspernatus est” [“exceto alguma explicação, seja uma conclusão fortiori, seja uma expressão análoga, pode-se considerar que este despreza a Palavra Do Senhor”]. 


Assim, há dois tipos de deduções imprescindíveis da Lei, uma é a majori aut minori [da maior para a menor] ou fortiori [da mais forte] se você preferir; a outro é a pari [de paridade ou igualdade]. Se qualquer uma destas for rejeirada, a própria Lei é desprezada. É preciso observar com o Sr. Selden que até os Karaei ou Judaei Scripturarii, que rejeitam as adições ou tradições dos mestres do Talmud e professam aderir à interpretação literal e simples da Lei, sem acrescentar ou diminuí -la, não exigem palavras expressas da Escritura para toda instituição Divina; o que eles tomam como ordem ou proibição pela lei de Deus, eles extraem da Lei três maneiras: Pelas próprias palavras da Escritura, pela argumentação da Escritura e pela transmissão hereditária das interpretações, quanto às interpretações da Escritura anteriormente recebidas, as seguintes gerações foram autorizadas a corrigir e alterar estas após descobertas ou raciocínios melhores.


Um segundo caminho, dado por argumentação, era pelo princípio dos próprios Karaei sobre os dois grupos, pari ou fortiori. Que concorda com a passagem do Talmud citada anteriormente. Aqui, nossos escritores concordam com os Karaei , que todos os tipos de casamentos ilegais e proibidos não estão expressamente mencionados na lei, mas diversos deles serão coletados por dedução, ou seja, por paridade de razão [pari], ou por maior força de razão [fortiori]; Por exemplo, Levítico 18:10: “Seja a nudez da filha de seu filho, ou da filha de sua filha, a nudez deles você não descobrirá; porque é a nudez deles é sua própria nudez”. Daí a dedução frita por pari [igualdade]. Portanto, um homem não pode descobrir a nudez de sua bisavó, ou daquela filha da filha de seu filho. Pois aquela também é sua própria nudez, sendo uma descendência in linea recta [direta] de si mesmo. O mesmo texto visto por fortiori, muito menos um homem pode descobrir a nudez de sua própria filha, ainda não esteja expressamente proibido na Lei, mas é deixado assim para compreensão por dedução imprescindível do mesmo texto. É também uma dedução imprescindível que um homem não descubra a nudez daquela que é filha do filho de sua esposa ou da filha de sua esposa. Pois a mesma lógica é válida: É sua própria nudez, a esposa dele e ele sendo uma só carne, o que dá lugar a essa regra geral revelada, para que um homem não se case com um sangue mais próximo de sua esposa do que o dele, tampouco que uma esposa se case com um sangue mais próximo de seu marido do que dela [CFW XXIV.IV]. Mais uma vez, Levítico 18:14: “Não descubra a nudez do irmão de seu pai, nem se aproxime da sua mulher: Ela é a sua tia”. Dito isso, segue-se o pari que um homem não pode descobrir a nudez do irmão de sua mãe, e pela igualdade de lógica (que essa lei foi feita), também é ilegal que uma mulher case com aquele que foi marido da irmã de seu pai ou da irmã de sua mãe, visto à proximidade por sangue semelhante entre tio e sobrinha, bem como entre tia e sobrinho.


Podem ser dadas outras situações, mas estas devem bastar para comprovar que o que, por dedução imprescindível , decorre da Lei, deve ser entendido como sendo ordenado ou proibido por Deus, assim como o que é expressamente ordenado ou proibido no texto da Escritura.


III. A Sabedoria Infinita de Deus


Se dissermos que as deduções imprescindíveis das Escrituras não são jus divinum [direito Divino], dizemos algo que é inconsistente com a infinita sabedoria de Deus. Pois, embora as deduções imprescindíveis possam ser extraídas da palavra de um homem que não concorda com mente e intenção Dele, sendo os homens muitas vezes iludidos por tais palavras; todavia (como Camero observou bem), com Deus sendo infinitamente sábio, esta seria uma opinião blasfema, por sustentar que qualquer coisa que não seja Sua vontade possa ser classificada como uma dedução confiável e imprescindível de Sua Santa Palavra. Isso tornaria O único Deus tão sábio quanto um homem tolo, que não pode prever todas as coisas que seguirão de suas palavras. Portan to, devemos ter certeza de que é a mente de Deus que está por trás da Palavra de
Deus.


IV. Os Absurdos 


Diversos outros grandes absurdos devem seguir se esta verdade não for admitida. Como pode se provar que as mulheres podem participar do Sacramento da Ceia do Senhor, a menos que provemos isto por dedução imprescindível da Escritura? Como provar que esta ou aquela igreja é uma igreja verdadeira, se seu ministério é um ministério verdadeiro, se batismo ministrado nela é o verdadeiro batismo? Claro que nenhuma Escritura irá provar isso expressamente, mas a dedução imprescindível provará. Como algum indivíduo pode, sequer, compreender a partir da Escritura que a Aliança de Graça e suas promessas pertencem a ele?


Acaso a Escritura irá provar isso de outra maneira que não seja por uma dedução imprecindível? Como será provado pelas Escrituras que a última guerra contra o partido papista e episcopal, em def esa de nossa Religião e nossa liberdade, era lícita; que a Liga e Aliança Solene foi algo aceitável a Deus? A dedução imprescindível das Escrituras prova tudo isso, mas as Escrituras de forma explícita não o farão. Assim como quando eu falo de jejum e ação de graças por ocosião, se é nesse ou naquele momento que Deus nos chama a esses deveres, e se é da vontade Dele que os realizamos; isso não pode ser provado pelas Escrituras, exceto por deduções imprescindíveis destas.


Este quarto argumento servirá para a extensão da presente afirmação (que agora comprovo) ao seu alcance correto; isto é, que os argumentos da Escritura por deduções imprescindíveis não só ajudam a provar e fortalecer as coisas que de outra forma seriam provadas das Escrituras de forma clara e simples, mas que é são bons e suficientes para prova coisas pela vontade e pelo desígnio de Deus (jure divino, como costumamos dizer) o que não pode ser provado como qualquer texto explícito na Escritura.


V. Os Oponentes das Deduções Imprescindíveis as Usam


Vou agora destacar a concessão de Theophilus Nicolaides, o sociniano. Embora ele tenha professado sua dissidência, até agora tanto das igrejas reformadas quanto das igrejas romanas, ele não acredita que as coisas retiradas da Escritura sejam igualmente necessárias para a salvação como as coisas que estão explicitamente contidas na Escritura, contudo ele cede às coisas retiradas por dedução como sendo tão certas quanto as outras. Ele diz: Quantumuis aeque certa sint quae ex sacris literis de ducuntur atque ea quae in illis expresse et ρητώς habentur [Quanto às coisas claramente confiáveis que estão fora dos Escritos Sagrados, sendo extraídos destes com alguma lógica, elas são igualmente confiáveis quanto as coisas explícitas e contidas neles].


Em geral, pode-se observar que mesmo aqueles que mais reclamam de deduções da Escritura e exigem as Escrituras de forma explícita as usam quando tentam a provar seus princípios particulares pelas Escrituras, não obstante não trazem nada além de provas circunstanciais. Agora esta sabedoria é justificada, não só por seus filhos, mas também por seus inimigos. Não é possível que qualquer sociniano, erastiano, etc… Consiga debater as Escrituras contra um Cristão, que reconhece e acredita que a Escritura é a Palavra de Deus, mas deve ele levar a provas circunstanciais: Nenhum Cristão negará o que é Ρητώς [explicitamente] literalmente e claro na Escritura; Mas todas as controvérsias de fé ou religião no mundo Cristão foram, e são, relativas à lógica da Escritura, e ás deduções retiradas da Escritura.


VI. A Justiça Humana


Se não admitimos deduções imprescindíveis da Escritura para provar o que é jus divinum, negaremos Ao Grande Deus que favorece pequenos deuses, ou magistrados. Não precisa ver mais de uma situação contemporânea: Quando o Earle de Strafford foi acusado de alta traição, uma de suas defesas era que nenhuma lei da terra determinava que qualquer uma das particularidades provadas contra eles deveria ser considerada alta traição. Em defesa deles não havia violação de nenhuma lei, de modo que as muitas particularidades do caso fossem considerados uma alta traição literal e clara. Mas, comparando várias leis e fatos, observando-se deduções imprescindíveis de uma coisa em relação a outra, constituiu-se uma traição construtiva contra eles. Se houve um jus humanum construtivo ou dedutivo, antes deve haver um jus divinum construtivo ou dedutivo (pelas considerações anteriormente mencionadas).

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Esse artigo foi republicado com a permissão de Blog Bereianos

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