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Entendendo a Revelação Geral de Deus


Por: Jorge A. Ferreira

Revelação natural é um tipo de desvendamento que Deus concede a humanidade para que ela possa alcançar algum tipo de lucidez racional acerca dele e que de outra forma seria impossível devido ao obscurecimento da mente humana herdado pelo pecado, que leva o homem a percepções erradas e a fazer separações dualísticas que o separam da realidade, ora se apegando as percepções sensíveis, ora as suprassensíveis. É uma luz, na qual sem ela o homem não poderia viver e se descobrir como um ser diferenciado na criação e é acessível a todos os homens sem distinção.

Os meios da manifestação da revelação geral são três: a natureza, a história e o ser humano.

Revelação na Natureza

É possível ver em toda a escritura, a verdade que Deus manifesta sua glória nas coisas criadas “Os céus proclamam a glória de Deus” (SI 19.1).

A Revelação na natureza pode ser alcançada por todos os homens, uma vez que fazem uso da razão natural, onde ao observar a criação são levados por um tipo de percepção natural, de que as coisas que existem, não podem existir por si mesmas. A Ordem, a beleza e magnitude de Deus é claramente percebida pela mente humana e inclusive a lei divina que os Gentios naturalmente percebiam e exercia a mesma função da lei dos Judeus segundo Paulo. ‘’Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência…’’ (Romanos 2:14,15)

Paulo em romanos no capítulo 01 , diz que as coisas invisíveis, o eterno poder e a divindade de Deus são vistas claramente pela criação e que a rejeição de tal verdade tornam os homens indesculpáveis diante do Criador.

“Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;’’ (Romanos 1:20).

A Natureza é uma fonte onde Deus se revela e manifesta a sua glória. Pelos efeitos (criação-homem) podemos chagar a causa (O Ser Supremo).

Revelação no Homem

O segundo meio da revelação geral é o próprio ser humano. A coroa da criação é o meio pelo qual se pode ter um certo conhecimento de Deus.

De toda criação, o homem é o mais elevado, uma vez que pode transcender o seu meio ambiente e espaço, fazendo uso da imaginação e do raciocínio. A Arte é uma das coisas pela qual o homem se assemelha ao ser divino, reconhecendo beleza, ordem e simetria atribuindo significado as coisas, assim como o Artista eterno por excelência. Há no ser humano quando ordenado corretamente, atributos que são próprios da divindade e que foram comunicados à alma de todos os indivíduos. Essas qualidades morais revelam a semelhança do Deus criador nos homens, já que como criação do Senhor (Gênesis 1:27), a raça humana mesmo caída e propensa ao mal a mantém em quantidade reduzida. “Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal’’, (Gênesis 3:22).

O teólogo João Calvino acreditava que o homem tem em si um certo senso da divindade no qual é impossível se abdicar de Deus totalmente, é (sensus divinitatis) ou seja, o senso do divino. Algo que está na consciência do ser humano, e transmite ao indivíduo uma certa percepção de que há um Ser moral que rege o mundo.

O Homem pensa, realiza abstrações e de todos os seres terrenos é o que mais impacta a criação, pois como agente, espelha o Ser divino, sub criando e revelando a glória de Deus em si mesmo.

Revelação na História

As civilizações antigas tinham uma noção clara de transcendência, mostrando que nos primórdios da humanidade o homem sempre procurou ter uma relação com o divino e que há no ser humano uma percepção e desejo pelo sagrado. No entanto não há nenhuma civilização que não tenha se formado a partir da religião. Isso nos mostra que ainda que o homem caído não possa ter um relacionamento pleno com Deus, isso não impediu de saber que há um Deus. Este fato da história juntamente com diversos outros são evidências plausíveis de que Deus se revelou a humanidade e que os homens puderam perceber, mesmo não interpretando corretamente os fatos. (BAVINCK, 2016)

Um exemplo interessante da revelação na história é o fato de haver em todas as culturas um senso de moral, que apesar de se diferenciar-se entre si, na essência se complementam. Nunca houve nenhuma civilização que não tenha a moral como a base de seu povo. Apesar de nos dias hodiernos podemos perceber uma certa desordem civilizacional, é fato que uma nova ‘’moralidade’’ imposta por ideólogos estão no fundo desta confusão.

Outros dois exemplos claros da revelação de Deus na História, é a nação de Israel nos tempos antigos e mais recentemente a Igreja de Cristo.

Deus se revelou ao povo Israelita e apesar de todas as perseguições o povo se mantém até os dias atuais, aguardando o desenrolar de Deus para o fim dos dias. A Igreja da mesma forma, se mantém ancorada nos textos da Revelação Especial e no sangue dos Heróis e Mártires da fé. Deus se revela na História mostrando claramente e de forma inequívoca que é Senhor dos céus e do plano terreno, pois somente a providência divina pode explicar os diversos movimentos dessas instituições que se mantêm diante de todas as dificuldades sendo guiadas por Deus ao fim último do plano Eterno.

Objetivos da Revelação Natural

Por hora é preciso entender que o objetivo da revelação natural não é de forma alguma levar o homem a salvação, mas levar o homem ao conhecimento da existência de Deus, da lei do Senhor e da realidade.

Ao viver nesse mundo o ser humano pode perceber por meio da razão que há uma finalidade para o mundo e que se há finalidade é por que foi planejado por um ser superior que imprimiu em sua criação as marcas de sua essência e presença. “Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós;’’ (Atos 17:27). Mostrando que o homem não pode ser salvo, ainda que tenha um conhecimento prévio da lei natural sem a misericórdia e a graça que está em Cristo Jesus.

O objetivo maior dessa revelação é manifestar e mostrar a glória de Deus (Salmos 19: 2–4) e revelar aos homens a insuficiência de se salvarem por si mesmos e que são moralmente indesculpáveis diante dele. (Romanos 1:19; Romanos 2: 15–16.)

As evidências bíblicas e extra bíblicas de uma revelação geral são claras e incontestáveis, quando se deixamos entender a natureza dessa revelação. O Entendimento correto desse tema é importantíssimo para nossa compreensão de outra revelação ainda mais especial que é um complemento da revelação de Deus aos homens. A existência de Deus é o preâmbulo da fé e é pela razão que o alcançamos.

“Mas, pergunta agora às alimárias, e cada uma delas te ensinará; e às aves dos céus, e elas te farão saber; Ou fala com a terra, e ela te ensinará; até os peixes do mar te contarão. Quem não entende, por todas estas coisas, que a mão do Senhor fez isto?’’ (Jó 12:7–9).

“O objeto das virtudes teológicas é o próprio Deus, que é a última finalidade de tudo e acima do conhecimento da nossa razão. Por outro lado, o objeto das virtudes morais e intelectuais é algo compreensível à razão humana.’’ (Tomás de Aquino)

Conclusão

O Homem, a natureza e a história mostram que Deus não deixou os homens na escuridão plena, exatamente revelando seu amor e cuidado, preparando os seres criados para uma revelação mais completa, se revelando claramente e de uma vez por todas.

“Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz. A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até ao fim do mundo.’’ (Salmos 19:1–4)

Bibliografia:

STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2003.

BAVINCK, Herman. A Filosofia da Revelação. Brasília: Monergismo, 2016.

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 2. ed. Miami, Florida: Vida Nova, 2009.

GEISLER, Norman. Teologia Sistemática: introdução à teologia. Rio de Janeiro: Cpad, 2010.

Texto Primeiramente publicado em Medium: A Revelação Geral ou Natural de Deus

Esse artigo foi republicado com a permissão de O Pentecostal Bíblico

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