Texto base: Tito 2:11-14
Qual a nossa motivação principal para perseverar e fazer boas obras? Será que existe a possibilidade de uma pessoa verdadeiramente salva não perseverar e, muito menos, fazer boas obras? A perseverança e as boas obras provam que nós somos salvos ou são meios para que nós alcancemos a salvação? O que nos faz confiantes de que Deus trabalhará em nosso favor para que possamos ter um futuro glorioso?
Ao olharmos para a carta do Apóstolo Paulo a Tito, vemos que Paulo dá um único motivo – e mais que necessário – para encorajar o crente a perseverar e fazer boas obras: a manifestação da glória de Cristo.
Em resumo, aquele que persevera constantemente e suas boas obras são manifestas a todos, demonstra expressões visíveis da graça de Deus.
Portanto, para entendermos a passagem; podemos vê-la como a Graça de Deus manifestada na perseverança (2.11-13) e a Graça de Deus manifestada nas boas obras (2.14). Imagine um lanche, dois pães e um recheio. As duas fatias de pães são os versos 11/12 e o verso 14. Entre eles está o verso 13, o qual direciona todo o sabor. E é assim que Paulo vai mostrar.
A Graça de Deus manifestada na perseverança (2.11-13)
As instruções que Paulo passa a Tito no capítulo 2.1-10 são resumidas de forma simples, em sua primeira parte, nos versos de 11 a 13, mostrando que a graça de Deus manifestada nos educa a renegar a impiedade e as paixões mundanas, partindo do negativo para o positivo. Em resumo, da parte negativa, como citado por Calvino, podemos dizer que impiedade é a “negligência religiosa em relação a Deus […] Pois ainda que professem alguma sorte de religião, nunca temem a Deus e o reverenciem sincera e verdadeiramente; senão que, ao contrário, têm suas consciências adormecidas”¹. E, assim, como consequência de uma vida ímpia e longe de Deus, as paixões mundanas significa os desejos da carne que faz com que caracterize ainda mais o distanciamento de Deus.
No entanto, nós sabemos que essa luta é difícil e podemos questionar, dizendo: Como perseverar constantemente neste mundo mal? Um personagem bíblico pode nos dar resposta usando ele mesmo como ilustração. Veja Gn 5.21-23. O texto mostra que Enoque era o sétimo depois de Adão (Jd 1.14), e que ele andou com Deus. A intensidade do verbo “andar” significa que ele tinha prazer em andar com Deus constantemente. Mas, será que a época em que Enoque andou com Deus era igual a nossa, pecaminosa, ou será que o pecado ainda estava crescendo?
Quando olhamos para o texto de Judas 1.14, 15 vemos que Enoque foi também alguém que anunciou a vinda do Senhor Jesus para um povo que praticava obras de impiedade (v.15). Veja, qual palavra no verso 15 se repete constantemente? Ímpio! Ou seja, o tempo em que Enoque vivia era de impiedade, da mesma forma, Judas escreve para igreja daquela época e, da mesma forma, em nossa época. Por que Enoque andou na presença de Deus? Porque ele tinha prazer nisso! Mesmo em meio a impiedade do mundo, Enoque andou com Deus. Mesmo quando o desemprego bateu à porta e quando os filhos foram desobedientes, ele andou com Deus.
Portanto, da mesma forma que Enoque disse ao povo “vejam, o Senhor”, na sua expectativa da vinda do Senhor, Paulo mostra positivamente a Tito que a manifestação de Cristo é o que nos motiva a viver de forma sensata, justa e piedosamente. Essa foi a primeira fatia do pão junto ao recheio.
A Graça de Deus manifestada nas boas obras (2.14)
A segunda fatia de pão que Paulo coloca é relacionada às boas obras, partindo novamente do negativo para o positivo. De forma negativa, Paulo mostra a Tito que a graça de Deus, manifestada na morte de Cristo, veio para que possamos ter uma vida redimida da iniquidade e, positivamente, ser um povo exclusivo do Senhor, zeloso de boas obras (v.14). Ou seja, se antes nós dedicávamos todo o nosso ser às paixões mundanas, Paulo diz que, ao recebermos essa graça, nós devemos dedicar tudo o que fazemos a Deus. Não para alcançar algo, mas em forma de gratidão. A ordem é essa: Deus nos salva para fazermos boas obras, nunca o contrário. Pois, se quisermos nos justificar em nossas obras, a Escritura é clara em mostrar que elas são trapos de imundícia (Is 64.6).
Se nós desejamos fazer boas obras para ganharmos a salvação em troca, nós estaremos reduzindo a obra de Jesus na Cruz. Mas se as nossas boas obras estão em forma de gratidão a Deus, nós temos entendido que Cristo morreu por nós e fez com que as nossas atitudes, quer seja por palavras, pensamentos e ações, glorifiquem a Deus.
Conclusão
Você já imaginou pensar estar vivendo para a glória de Deus, mas na verdade não? Vamos voltar ao caso de Enoque. Vimos que ele teve prazer em andar constantemente com Deus. Mas nós, quase sempre, não damos atenção necessária as genealogias. Se nós observarmos com calma e fizermos alguns cálculos, veremos que quando Enoque nasceu, Adão já estava vivo. E quando Enoque foi tomado, Adão ainda estava vivo[2].
Já pensou? Adão foi criado e esteve no jardim de onde foi expulso. Adão tinha a presença de Deus na viração do dia, mas um dia perdeu o posto. No entanto, Enoque, em meio a um mundo mal, viveu na presença de Deus o qual lhe proporcionou a glória de não provar da morte para estar eternamente com Deus.
Que a nossa esperança, a gloriosa manifestação da glória de Cristo, seja o motivo pelo qual nós perseveramos e façamos boas obras.
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Notas:
[1] CALVINO, João. Série comentário bíblicos João Calvino: Pastorais. Ed. Fiel. São José dos Campos, p. 337
[2] Enoque foi o melhor homem das primeiras gerações. Numa sociedade indizivelmente perversa, ele “andou com Deus”. Nascido 622 anos após a criação de Adão, foi contemporâneo dele durante 308 anos. “Deus o havia arrebatado” já aos 365 anos de idade. Halley.
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Autor: Denis Monteiro
Fonte: Bereianos
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Esse artigo foi republicado com a permissão de Blog Bereianos.