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Confiança em governantes: um novo paganismo?

Chamada

Temos vivido um período polarizado em nosso país. Basta abrir qualquer mídia social ou noticiário e você vai ver o mesmo fato sendo interpretado – com o mesmo fervor quase apocalíptico – como prova irrefutável ou da virtude ou da degeneração de um partido ou político. Ou seja, pessoas tomam fatos (com frequência criam ou distorcem fatos) para escravizá- los à sua interpretação favorita. Como leitores comuns, ficamos à mercê das “pseudoverdades” e das “fake news”. Quantos já não receberam mensagens afirmando sem qualquer dúvida um fato que logo depois foi provado como “fake news”?

Como discípulos de Jesus, somos o povo da Palavra (João 17.17). Jesus afirmou ser a Verdade, o Caminho e a Vida (João 14.6). A mentira foi denunciada como expressão do próprio Satanás (João 8.44). Mas um novo perigo, talvez um desenvolvimento do mesmo perigo, se levanta dentro do povo de Deus. São os momentos em que cristãos sérios e comprometidos, na ânsia de ver o reino promovido, fazem alianças em seus corações com partidos e governantes que não seguem a Deus.

Tenho visto e sofrido com isso há anos, mas ultimamente essas alianças pagãs têm atingido níveis surpreendentes. Recentemente recebi uma mensagem, certamente bem-intencionada e com o propósito de estimular a fé, comparando o governo do presidente Jair Bolsonaro com Moisés conduzindo Israel à Terra Prometida. Entendo que o irmão que escreveu fez apenas uma comparação, mas aponta para esta promiscuidade ideológica em que um personagem político é adotado como defensor dos propósitos de Deus. E o que mais me preocupa é a quase completa ausência de critério nesta comparação.

Há promiscuidade ideológica quando um personagem político é adotado como defensor dos propósitos de Deus.

Mesmo uma rápida análise mostraria os desvios da comparação. Moisés foi um homem temente a Deus (Hebreus 11.24-29). Nosso presidente afirma ser, mas eu gostaria de ver maiores evidências. Moisés foi chamado diretamente por Deus (Êxodo 3–4). Muitos podem dizer o mesmo de nosso presidente, mas faltam evidências, mesmo que ele diga defender alguns princípios que nós também defendemos. Moisés foi confirmado com sinais de poder e manifestação de Deus (Êxodo 7–14). Nenhum cristão com discernimento espera milagres de nosso presidente. Se ele fizer uma boa administração já será uma bem-vinda exceção. Moisés foi caracterizado como alguém manso e humilde (Números 12.3). Nenhuma das duas virtudes caracterizam nosso presidente. Por fim, Israel é o povo da promessa – Deus deixa isso amplamente claro em sua Palavra (Jeremias 31). Comparar Israel com Brasil exige uma “ginástica hermenêutica” inimaginável.

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Ainda assim, poderíamos atribuir essa comparação (o irmão deixou claro que este era seu intuito) a um desejo que encontra eco no coração de muitos de nós. Ansiamos por um líder que possa trazer justiça à nossa nação. Um governo que defenda a verdade e confronte aquelas práticas que Deus chama de abominação. Queremos ser governados por um cristão que ouça a Deus, que manifeste as características de Jesus Cristo. Queremos um país que se alinhe aos desígnios de Deus.

Apenas um governará com autoridade, amor e justiça: o Senhor Jesus Cristo.

E esses desejos serão satisfeitos, mas não por este ou aqueles partido político ou governante. A resposta não está nos governantes desta terra. Apenas um governará com autoridade, amor e justiça: o Senhor Jesus Cristo (Isaías 2.4)! Conforme a própria Bíblia, isso ocorrerá no reino milenar de Cristo (Apocalipse 20.1-4). Historicamente, toda vez que a igreja de Cristo se aliou a governos seculares, o resultado foi distorção e engano. Quando nós, como igreja, nos comprometemos com um partido ou indivíduo, perdemos nosso papel profético e buscamos ajuda em outro que não o nosso Senhor (2Crônicas 16.7-9).

Então, como proceder em tempos confusos? Como manter nossa fidelidade para com o Senhor? Deixe-me alistar alguns conselhos:

  1. Confie somente no Senhor (Salmos 20.7-8). É natural que confiemos em homens poderosos. De certa forma temos esperança de que este ou aquele trará tempos melhores para a nossa nação. No entanto, nossa confiança última deve sempre estar no Senhor. Mesmo um líder espiritual deve ser seguido na medida em que ele ou ela seguem ao Senhor.
  2. Seja um cidadão consciente e participe (Jeremias 29.5-7). Nosso pátria é celestial, mas, enquanto estivermos aqui, nos cabe promover a prosperidade da nação na qual estamos “exilados”.
  3. Procure interpretar o que a Bíblia diz com muito cuidado. Não vá além do que a Palavra diz, nem tampouco fique aquém (2Timóteo 2.15; Apocalipse 22.18 19).

Por fim, irmãos, minha oração é que neste ou em outro governo sejamos encontrados confiando totalmente no Senhor, apoiando ou discordando de nossos governantes, mas mantendo nossa confiança e esperança unicamente no Autor e Consumador da nossa fé!

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Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutor em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos, uma neta e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.

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