Lembro-me de umas férias em alguma fazenda onde um grupo de garotos descobriu um riozinho com uma corrente muito forte. Descobrimos que podíamos pular de uma ponte e deixar a correnteza nos levar rapidamente até a curva do rio logo adiante. Dali corríamos de volta à ponte para fazer tudo de novo. Ninguém tentava nadar contra a corrente, seria muito difícil! Por outro lado, quem saltava da ponte não precisava fazer nada e era logo levado rio abaixo. Essa experiência me fez pensar em como crescemos. Todos nascem sem experiência, precisamos de orientação para aprender praticamente tudo. Quem cresce sozinho, sem orientação e mesmo correção, paga um preço muito alto se quiser amadurecer na vida.
O livro de Provérbios descreve o processo de amadurecimento com muitos detalhes. Na verdade, esse livro descreve a sabedoria, assim como nos alerta sobre tolices. Ao todo, entre cinco e sete palavras diferentes em hebraico são usadas para descrever os tolos. Ele não se limita apenas a descrevê-los, mas creio que há também uma descrição de um processo de amadurecimento e um processo de tornar-se mais e mais tolo. É como no exemplo do rio acima. Todos nascemos inexperientes (primeiro estágio) e, se não buscarmos sabedoria, seremos “arrastados” pela corrente em direção a nos tornarmos tolos (segundo estágio). Por fim, se a pessoa persistir em sua teimosia e sua arrogância, pode chegar a um estado bastante triste, que Provérbios chama de escarnecedor ou zombador (terceiro estágio). Eu convido você a considerar comigo esses três estágios neste e nos próximos artigos. Meu desejo é analisar como, se não resistirmos, seremos levados a uma crescente tolice e o que fazer para nadar contra a corrente. O tema deste artigo é o primeiro estágio – o simples!
O simples (ou inexperiente) descreve o estágio em que todos nascemos. Não há culpa em nascer assim, mas é nossa responsabilidade não permanecer simples. Eu identifiquei três características do simples. A primeira é que o simples é ingênuo. Em Provérbios 14.15 lemos: “O inexperiente acredita em qualquer coisa, mas o homem prudente vê bem onde pisa”. O simples acredita porque não aprendeu a discernir. Ele vai seguir quem apresentar um bom argumento. Isso é muito verdadeiro com respeito a verdades bíblicas. Existem falsos mestres brilhantes que são muito habilidosos para induzir outros ao erro. O próprio apóstolo Paulo nos alerta que o propósito da edificação dos cristãos é “que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro” (Efésios 4.14).
O simples acredita porque não aprendeu a discernir. Ele vai seguir quem apresentar um bom argumento.
Outra característica que descreve o simples é que ele ou ela é descuidado(a). Provérbios 22.3 afirma: “O prudente percebe o perigo e busca refúgio; o inexperiente segue adiante e sofre as consequências”. A pessoa inexperiente tem uma capacidade de discernimento limitada. Com isso, não percebe ou não acredita nos sinais de perigo. Ao longo de minha vida, já aprendi a reconhecer quando estou ficando irado. Também sei que a minha ira não produz a justiça de Deus (Tiago 1.20). Desta forma, quando reconheço esses sinais em mim ou no calor da discussão, tenho aprendido a recuar, impedindo que uma situação ruim fique pior. O simples ainda não aprendeu a reconhecer esses sinais.
A pessoa inexperiente tem uma capacidade de discernimento limitada. Com isso, não percebe ou não acredita nos sinais de perigo.
Uma terceira descrição do simples é que ele ou ela é influenciável. Por ser ingênuo e descuidado, o simples pode ser enganado, pode ser manipulado. Provérbios 7.25, ao final do capítulo em que descreve o processo em que um jovem se envolve com uma mulher promíscua, lemos: “Não deixe que o seu coração se volte para os caminhos dela, nem se perca em tais veredas”. Uma frase usada em muitas obras de ficção quando uma decisão difícil tem de ser tomada é “siga seu coração”. Apesar de soar bonito, esse é um péssimo conselho. A Bíblia deixa claro que o coração é enganoso e corrupto. Quando ouvimos nosso coração sem dar ouvidos a pessoas mais experientes e maduras, o mais provável é que tomemos decisões equivocadas e que nosso “coração” nos engane e nos faça seguir caminhos com consequências terríveis para nós.
Como podemos lutar com a inexperiência? A Bíblia responde essa questão muito diretamente em Salmos 119.9: “Como pode o jovem manter pura a sua conduta? Vivendo de acordo com a tua palavra”. Minha oração é que você e eu abandonemos nossa “simplicidade” ou inexperiência buscando o Senhor por meio da sua Palavra e de pessoas que, tendo caminhado com Deus, cresceram em maturidade! Nos próximos artigos, desejo falar sobre o tolo e o zombador.
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por 5 anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 24º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.
