Wallace Sousa
“Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação do século”. Mateus 28.20.Quantas vezes tivemos a impressão de estarmos sozinhos, mesmo em meio a uma multidão? É estranho sentir solidão em meio a várias pessoas, não acha? Achamos realmente estranho… quando acontece com os outros… mas se é conosco, logo temos milhões de justificativas, desculpas e razões na ponta da língua para nos sentirmos assim. Temos motivos de sobra para explicar o inexplicável, afinal, no mundo relativista em que vivemos, qualquer pessoa se acha no dever de ter sua própria explicação para tudo e no direito de todos terem a obrigação que concordar com ele.
Já parou para pensar onde as pessoas se acham mais solitárias? Nas grandes cidades. Como é possível alguém sentir solidão em meio a milhares, talvez milhões de pessoas? O ser humano é gregário por natureza, ou seja, prefere a companhia de outros seres humanos e faz da amizade verdadeira, quando a encontra, um bem inegociável. Apesar disso, ainda há pessoas que preferem o isolacionismo, e por isso é que encontramos eremitas modernos.
Tendo passado um período de minha infância na zona rural, período que sempre me traz belas recordações, faço a seguinte análise e quero que você acompanhe o meu raciocínio, mesmo que jamais tenha vivido na zona rural. Nunca encontrei alguém que reclamasse de solidão nos sítios, com vizinhos que distavam por vezes quilômetros, ou seja, uma visita de cortesia significava, não raro, uma caminhada de vários minutos. Mas todos se conheciam, todos se ajudavam e todos compartilhavam o que tinham de mais precioso, a amizade, as longas e aprazíveis conversas, os “causos”, histórias sérias e engraçadas, risos e lágrimas… bons tempos aqueles!
Está sentindo o mesmo que eu? Talvez um pequeno aperto no coração, um nó na garganta ou uma pontinha de saudade? Não importa, se está sentindo, alegre-se, afinal você está vivo e já passou por bons momentos (porque pelos maus todos passamos, queiramos ou não).
A solidão é um mal contemporâneo. Talvez já existisse com outro nome, mas jamais com a intensidade que vemos agora. É um fenômeno social. Vá a uma festa e encontrará alguém se sentindo sozinho, vá a um baile apinhado de gente dançando e lá você também encontrará alguém se sentindo sozinho. Num final de semana, em um bar, você verá alguém rodeado de várias pessoas, sentado a uma mesa… sozinho. Talvez uma dessas pessoas tenha sido você.
A solidão é mal antigo, mas a diferença é que já esteve mais controlado. No princípio, quando Deus criou o mundo, colocou um homem para cuidar do jardim (Éden) que havia feito. Lá o homem tinha de tudo que se pode imaginar ou querer que o satisfizesse. E era tudo dele. Só dele. Unicamente dele. Miseravelmente e solitariamente dele. Mas havia também Deus, sim, Deus estava lá. E conversava com o homem. E Deus olhou para o homem e disse: “não é bom que o homem esteja só”. E Deus procurou uma companheira para Adão (do hebraico Adam=homem).
A leoa, esposa do rei dos animais, não serviu. A gazela, tão graciosa, não serviu. A águia, tão imponente, também não serviu. A papagaia, tão tagarela, coitada, sem chance. Então veio a ideia: “far-lhe-ei uma adjutora (companheira) que lhe seja idônea”. Fez cair um profundo sono em Adão, retirou-lhe uma costela, fechou a carne no lugar e moldou a mulher, diferentemente do homem que foi formado do pó da terra. Que surpresa teve Adão ao abrir os olhos. Que visão! Que coisa estupenda! “Esta é osso dos meus ossos e carne da minha carne”. Que cara de sorte esse Adão. Solidão? Nunca mais! Agora tenho tudo que preciso: estou no jardim de Deus com a mulher que Deus me deu – deve ter pensado ele.
Mas apenas um deslize e tudo foi perdido. Expulso e humilhado, o casal outrora tão feliz amargaria a dura realidade de descobrir que estavam sós. Como sós? Não tinham um ao outro? Sim, mas haviam perdido a comunhão com Deus, a comunicação com o Divino Ser, tudo por darem ouvidos à serpente e serem enganados por ela. Ah, se no jardim do Éden tivesse PROCOM, lá ia um processo de perdas e danos por causa de propaganda enganosa!
Desde então, o homem tem procurado restaurar a comunicação com Deus e se curar da verdadeira solidão, aquela causada pela ausência de Deus em nossas vidas. Aquela solidão que as pessoas classificam como um vazio dentro de si. Sim, um vazio do tamanho do infinito, do tamanho de Deus. Apesar de tantos esforços, o homem nunca mais conseguiu religar a comunhão com Deus. Por isso tantas religiões (do latim religare=ligar de novo), todas falhas.
Então tudo está perdido? Não. Deus vendo os infrutíferos esforços humanos, tomou uma decisão: Ele mesmo iria restaurar a comunicação perdida. Cumprindo sua promessa dada na ocasião da expulsão do homem do jardim (a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente), esclarecida pelos profetas (nasceria de uma virgem, ou seja, da semente da mulher, do óvulo somente) e seu nome seria Emanuel, que significa Deus conosco, nasceu Jesus. João, o evangelista, ao se referir a Jesus, disse: “No princípio era o Verbo (do grego Logos=palavra)… e o Verbo habitou entre nós”.
Vivendo entre os homens, Ele veio trazer uma mensagem, o evangelho (boa notícia, do grego), dizendo que através dEle o homem teria seu relacionamento com Deus religado. Por isso Jesus não é uma religião, do ponto de vista humano, Ele é Deus que se fez homem para trazer de volta o homem para si “…e o Verbo era Deus”. Em Apocalipse 3.20 Jesus disse: “eis que estou à porta e bato, se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo”. Os seus dias de solidão acabaram, você encontrou Jesus, de quem o sábio Salomão escreveu: “há um amigo mais chegado que um irmão”.
Sabe qual o grande defeito da amizade? Além de não ser perfeita, não dura para sempre. Mas com Jesus é diferente, a amizade é perfeita e durará por toda a eternidade, pois “Ele enxugará de seus olhos toda a lágrima, e já não haverá mais morte, nem angústia, nem dor, pois todas as coisas são passadas”. Abra a porta e deixe Jesus entrar. Solidão? Nunca mais!
A Josué, sucessor de Moisés (aquele que abriu o Mar Vermelho, das pragas do Egito, que falava face a face, ou seja, tète-a-tète, com Deus, lembra?), ainda inseguro e precisando de apoio e incentivo, Deus lhe disse: “não te deixarei, nunca jamais te abandonarei… não temas, eu sou contigo por onde quer que andares“.
Talvez, amparado por esta promessa, Davi compôs um dos mais belos salmos, carinhosamente conhecido como o salmo do Pastor. Ele conhecia bem o ofício de pastor, pois o havia exercido quando jovem, por isso, sabendo da relação de confiança e obediência existente entre o pastor e a ovelha, quando idoso assumiu o papel da ovelha. Veja que cena poética: o idoso pastor querendo ser a ovelha do Sumo Pastor, por quem declarou: “ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte não temerei mal algum, porque tu estás comigo” Salmo 23. Que palavra! Que incentivo! Que promessa!
Em outro Salmo, o de nº 46, está escrito: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na hora da angústia… o SENHOR dos Exércitos está conosco, o Deus de Jacó é o nosso refúgio”. Você já viu ou ouviu algo igual, de quem quer que seja? Existe alguém que, como Deus, teve a coragem de fazer e é capaz de cumprir tal promessa? No Novo Testamento, Jesus se intitula como o Bom Pastor. Sabe o que isso significa? Leia de novo no lá no início: eis que estou convosco…
Wallace Sousa escreve o Desafiando Limites e colabora com o Tenda na Rocha
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Esse artigo foi republicado com a permissão de Wilma Rejane Neri Moura