Existem coisas que você não precisa fazer nada, elas pioram sozinhas. Desde situações simples, como arrumar uma casa (deixar como está não vai resolver, só vai piorar), ou cortar a grama (se hoje está alta, amanhã estará pior), até mesmo algo mais complexo, como um conflito com alguém amado (se você não buscar uma solução, vai piorar, não vai ser solucionado “magicamente”). Cada uma dessas situações tem em comum que “deixar como está pra ver como é que fica” é a certeza de enfrentar situações ainda mais difíceis adiante.
No meu último artigo, comparei um rio com uma corrente forte à realidade de nosso crescimento em sabedoria. Nascemos naturalmente em um estado que o livro de Provérbios qualifica como simples ou ingênuo (A Corrente da Insensatez – O Simples). Muito embora esta seja uma realidade para todos, o que fazemos com nossa simplicidade é responsabilidade nossa. É bem verdade que alguns têm pais que se esmeram em ensinar sabedoria e dar instruções sábias, mas todos nós conhecemos filhos que rejeitaram até mesmo essas instruções sábias e seguiram por um caminho de insensatez.
O segundo estágio que encontramos no livro de Provérbios nesse processo “automático” de insensatez é o tolo ou néscio. Ninguém nasce tolo, tornamo-nos tolos ao não submeter nossa ingenuidade ao aprendizado da sabedoria. No entanto, importa destacar que não precisamos nos esforçar para seguir a correnteza e nos tornarmos tolos. Basta não resistir, basta esperar sem nenhum esforço para mudar a direção e, em pouco tempo, deixamos de ser ingênuos e entramos no contexto da tolice.
Ninguém nasce tolo, tornamo-nos tolos ao não submeter nossa ingenuidade ao aprendizado da sabedoria.
Assim como no caso do simples, também identifiquei três características do tolo em Provérbios. A primeira é seu desprezo pela sabedoria. Em Provérbios 1.7 lemos: “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento, mas os insensatos desprezam a sabedoria e a disciplina”. Conhecemos bem o princípio da primeira parte do verso, mas infelizmente ignoramos o alerta da segunda metade. O insensato (ou tolo) despreza tanto a sabedoria como a disciplina que, com muita frequência, nos ensina a sabedoria.
Realmente, ninguém gosta da disciplina quando ela é exercida. Afinal, esta é tanto custosa quanto quebrantadora. O autor de Hebreus, movido pelo Espírito, traz à tona esta verdade em Hebreus 12.11: “Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados”. Infelizmente, todos conhecemos casos em que, mesmo diante de uma disciplina amorosa, a pessoa se revolta e rejeita tanto a correção como o princípio que esta buscava ensinar como algo desprezível, algo a ser evitado. Percebi essa reação muitas vezes ao longo do meu ministério pastoral, quando precisava confrontar alguém. Com frequência, a pessoa não aceitava a repreensão, alegando que o modo como foi falado, ou quem falou, ou mesmo o momento em que foi falado era inadequado, portanto, ela estava justificada em rejeitar a correção. Se alguém rejeita uma correção, mesmo que esta não tenha sido feita da melhor maneira, está certamente a caminho de tornar-se um tolo, se é que já não chegou lá.
Um segunda característica é que o tolo é orgulhoso. Provérbios 18.2 afirma: “O tolo não tem prazer no entendimento, mas sim em expor os seus pensamentos”. Ou seja, o tolo não quer aprender (como visto acima), mas quer mostrar suas ideias na esperança de que todos vejam como ele é esperto. Como já foi dito: “O tolo gosta muito do som de sua própria voz”. É aquela pessoa que, estando em um grupo, não se preocupa em ouvir, mas usa todo o tempo para falar e apresentar o que pensa.
O tolo não quer aprender, mas quer mostrar suas ideias na esperança de que todos vejam como ele é esperto.
Orgulho é um erro de enorme perigo, pois não só nos faz ignorar nossa necessidade de ajuda, como nos põe como opositores do próprio Deus! Tiago, citando Provérbios 3.34, escreve em sua carta, no capítulo 4, verso 6: “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”.
Uma terceira característica do tolo é que ele (ou ela) se julga muito correto(a). É óbvio que seguimos pelo caminho que julgamos ser o melhor. Mas o tolo não tem dúvidas, por isso, não pergunta, não se importa com outras opiniões e avalia que seu caminho é ótimo. Se é assim tão bom, por que perguntar, por que buscar conselhos? Ele(a) já sabe a resposta… Como diz o ditado popular: “O pior cego é aquele que não quer ver”.
Na verdade, essa característica é marca bem definida da humanidade. No Jardim do Éden, a serpente seduziu Eva ao dizer que, se desobedecesse, não só não morreria, mas seria capaz de discernir o bem e o mal (Gênesis 3.4-5). Esse anseio por autonomia e autodeterminação marca nosso caminho rumo à tolice. Autonomia (lei própria) faz com que tenhamos a tendência de decidir o que é certo e o que é errado, e autodeterminação faz que chamemos para nós mesmos o direito de decidir para onde queremos ir. E tudo isso sem ouvir ou respeitar a Deus…
Na semana que vem, quero estudar sobre o terceiro nível de insensatez, o zombador. Oro para que possamos usar esses textos para avaliar nosso próprio proceder. Que tanto minha vida como a sua sejam marcadas por um compromisso muito claro de nadar contra a corrente e não se deixar levar pela tolice.
Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por 5 anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 24º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.