A Bíblia declara: “Não há nada novo debaixo do sol” (Ec 1.9). Logo, não há nada tão equivocado como as pessoas pensarem que estamos vivendo hoje algo inteiramente novo. Globalização, Nova Era, Nova Ordem Mundial, são termos utilizados para caracterizar um “novo tempo”, entretanto a verdade bíblica permanece. Martyn Lloyd-Jones diz: “Os homens e as mulheres modernos, com toda a sua inteligência, são incapazes de inventar um novo pecado. As piores formas de vícios e males cometidos hoje são encontrados em algum lugar da Bíblia. Nada é novidade debaixo do sol!” A Igreja vive hoje uma grande pressão, interna e externa, no sentido de promover mudanças, a fim de adaptar-se aos “novos tempos”. Internamente, os paladinos do “novo” ou os profetas dos “novos paradigmas”, acham que a Igreja perderá a sua relevância histórica se, urgentemente, não promover mudanças. Na visão destes, para alcançar a sociedade atual, a Igreja precisa se tornar plural na sua teologia, no seu culto, na sua metodologia e na sua ética. Entretanto, a grande pergunta a ser respondida é: pode uma Igreja ser, ao mesmo tempo, confessional e plural?
Tomemos como exemplo, a Igreja Presbiteriana do Brasil. Na sua vigente Constituição lemos no artigo 1º – “A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de igrejas locais, que adota como única regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamentos e como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve; rege-se pela presente Constituição…”. Observa-se que a IPB é definida como uma federação de igrejas locais. A federação existe a partir da igreja local. A natureza fundamental desta federação é que ela adota uma única regra de fé e prática – a Bíblia. Adota também um único sistema expositivo de doutrinas ou um conjunto de crenças. Logo, o que une as igrejas locais, formando assim a federação, é a adoção de uma mesma fé. Isto caracteriza a IPB como uma federação confessional. Além de federativa e confessional, a IPB é constitucionalista, isto é, funciona dentro de um estado de direito eclesiástico. Ela se rege por uma Constituição. É por isso que só poderá ser ordenado e instalado no ofício de diácono ou presbítero, quem depois de instruído, aceitar a doutrina, o governo e a disciplina da Igreja Presbiteriana do Brasil.
Sendo a IPB uma igreja federativa, confessional e constitucionalista, jamais poderá ser, simultaneamente, uma igreja plural. Na expressão federação de igrejas locais, já fica implícito um pluralismo regional, pois cada igreja local tem as suas peculiaridades. Contudo, nada que comprometa a identidade da IPB. Entenda-se plural ou pluralismo como um sistema que se baseia na coexistência de comunidades ou grupos diferentes e independentes em matéria de fé e de administração. A IPB, portanto, nega ou perde a sua identidade quando admite no seu seio diversas igrejas que defendem a doutrina, o culto e a ética fundamentalista, pentecostal, liberal etc.
Há, de forma historicamente perceptível, forças que lutam para implantar o pós-denominacionalismo, isto é, o fim das denominações históricas. As estratégias são bem claras: a promoção do ensino teológico interdenominacional, o fim dos seminários confessionais com a criação de cursos teológicos em universidades, a profissionalização do pastorado, a reforma das Constituições Eclesiásticas com o objetivo de promover mudanças teológicas, o incentivo e o financiamento de movimentos que questionam a estrutura das denominações históricas (G-12, por exemplo).
Confessionalismo e Pluralismo são antagônicos. A existência de um anula o outro. A única maneira de uma denominação religiosa ser plural é através da implantação de um sistema totalitário de governo eclesiástico. O melhor exemplo atual é o da Igreja Católica Apostólica Romana. O pluralismo na base (carismáticos, progressistas, ortodoxos etc) é incentivado e monitorado por uma cúpula totalitária. Um papa infalível domina com direitos absolutos. O povo não tem nenhuma voz na igreja. Talvez seja esta a aspiração de alguns que, por ignorância ou por má fé, propõem um golpe no sistema reformado de governo. L. Berkhof destaca: “Um dos princípios fundamentais do governo reformado ou presbiteriano é que o poder ou a autoridade da igreja não reside antes de tudo na assembléia mais geral de alguma igreja, e só secundariamente e por derivação dessa assembléia, confiado ao corpo governante da igreja local; mas, sim, que tem a sua sede original no consistório ou sessão ou conselho da igreja local e por este transferido para as assembleias maiores, como classes ou presbitérios e sínodos ou assembleias gerais”.
Concluindo, se nos reportarmos para o contexto da Igreja Primitiva, observaremos que o cristianismo nasceu e cresceu de forma fenomenal dentro de uma “grande ordem mundial”, o Império Romano (mundo globalizado). Dentro daquele grande Império, convivia uma sociedade extremamente plural. Não há precedentes históricos para o pluralismo religioso e comportamental daquela época. Jesus Cristo é quem faz esta avaliação (Mt 11.20-24). Entretanto, o segredo do crescimento foi a pregação, a encarnação e a defesa da sã doutrina. Os cristãos não pluralizaram o evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, mesmo vivendo sob uma poderosa ordem mundial e numa sociedade radicalmente plural.
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Autor: Rev. Arival Dias Casimiro
Fonte: Resistindo a Secularização, SOCEP 2002. Págs. 48-51.
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Esse artigo foi republicado com a permissão de Blog Bereianos.