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Os Princípios do Reino: Parte 1 ­– Pobreza e Riqueza


Diante do tumulto criado com a guerra recém iniciada pelo Hamas contra Israel, tenho conversado com Meno Kalisher, pastor de uma igreja em Jerusalém e preletor dos congressos da Chamada, além de autor de inúmeros livros. Dois dos seus filhos e oito dos seus sobrinhos, além do pastor da igreja-filha que foi recentemente plantada, foram convocados, e vários têm funções de combatentes. É óbvio que ele está preocupado e orando por seus queridos, mas, ao mesmo tempo, percebo uma naturalidade que me espanta. Espanta até que eu me lembre que, em Israel, praticamente todos servem ao exército, tanto rapazes como moças, por pelo menos um ano e meio (moças) e até dois anos e meio (rapazes). Mais do que treinamento, isso inculca nos cidadãos israelenses uma cultura de que temos de estar prontos e que participar em uma ação militar é algo que “faz parte da vida”.

Essa atitude é algo que faz parte da cultura do povo. Pode-se dizer que é um dos “princípios” do Estado de Israel. Paralelamente, o sermão do monte é uma passagem que já foi chamada de “princípios do reino”, e eu concordo com esse entendimento. Nessa série de ensinos, Jesus parece lançar um padrão, um conjunto de princípios que está em direto contraste com o das sociedades humanas que têm vivido ao longo da história. Ali ele estabelece conceitos que até mesmo nos chocam. Uma dessas passagens é conhecida como as bem-aventuranças (Lucas 6.17-26). Nessa mensagem, conforme o relato de Lucas, Jesus estabelece quatro contrastes: pobreza versus riqueza, fome versus fartura, choro versus riso e rejeição versus aceitação. Neste e nos próximos artigos, eu gostaria de estudar um pouco esses contrastes, assim como avaliar de que forma esses princípios afetam, ou deveriam afetar, nossas vidas.

O problema não é a riqueza em si, mas sim ter o acúmulo de posses como um princípio ou propósito de vida.

Cada um dos contrastes, seguindo o estilo da poesia hebraica é apresentado em frases contrastantes com a fórmula “bem-aventurado”/“ai de vocês”. O primeiro contraste é pobreza versus riqueza. Compare comigo os versículos 20 e 24 do capítulo 6 de Lucas:

“Bem-aventurados vocês os pobres, pois a vocês pertence o Reino de Deus.”

“Mas ai de vocês os ricos, pois já receberam sua consolação.”

O primeiro contraste trata diretamente da questão da pobreza e riqueza. Muito além das posses, acredito que Jesus está dando um norte sobre seu reino. Em toda sociedade humana, riqueza é um dos alvos mais evidentes das pessoas. Afinal, quem não gostaria de ser rico? No entanto, o problema não é a riqueza em si, mas sim ter o acúmulo de posses como um princípio ou propósito de vida. Paulo destaca os perigos do anseio por riquezas na passagem de 1Timóteo 6.9-10:

“Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos.”

Repare que o ter muito não é condenado aqui, mas o desejo, o anseio por riquezas. O alerta de Paulo é que esse desejo é crescente e dominador. Quem começa a desejar ardentemente ficar rico, vai ser tentado, vai cair em armadilhas, vai ter desejos descontrolados e, finalmente, vai mergulhar em ruína e destruição. Paulo conclui que muitos, por cobiça, abandonaram a fé.

“Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês.” (Mateus 6.33)

No entanto, Jesus estabelece que em seu reino há um outro princípio. Para ele, ser pobre é uma benção, e a promessa é que aos pobres pertence o reino. Uma vez mais, não a benção na carência, nas dificuldades, mas em uma atitude de desprendimento (o mesmo princípio de interpretação que usamos para os ricos). Paulo, logo antes de escrever os versículos acima, escreveu em 1Timóteo 6, versículos 6 a 8: “De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro, pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos”. O que Paulo ensina, ampliando o princípio do reino de Jesus, é o princípio do contentamento, ou seja: o que realmente precisamos é muito pouco. Jesus mesmo nos estimula a investir no reino em Mateus 6.25-34, com um destaque especial ao conhecido versículo 33: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês”.

Minha oração é que eu e você, como cidadãos do reino, possamos cultivar esse princípio do reino em nossas vidas. Com certeza estaremos prontos a, assim como os israelenses, reagir com naturalidade quando formos desafiados com as ocorrências da vida.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 24º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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