“Creio… na ressurreição do corpo e na vida
eterna. Amém”.
O
Cristianismo professa um credo enraizado na vida após a morte. E esta vida tem
dois destinos: comunhão com o Deus triuno ou exclusão de sua presença. Trocando
em miúdos, salvação e condenação eterna são as duas realidades possíveis, de
forma que há um abismo intransponível entre os dois.
Na
parábola contada por Jesus sobre O Rico e Lázaro (Lc 16. 19-31), fica claro que
não há nenhum tipo de passagem do inferno para o paraíso. Os destinos estão
definidos e o ensino de que é possível mudar sua condição eterna é uma mentira,
pois, não encontra nenhuma base bíblica. Assim sendo, crenças como a
reencarnação, ensinada pelo Espiritismo, devem ser rejeitadas, assim como a
crença da Igreja Católica Romana no purgatório – local de penitência para
alguns que podem chegar ao céu após um período expurgando seus pecados. Há
também um ensino que permeia os círculos da teologia liberal que se chama
“universalismo” (Também faz parte do corpo doutrinário do catolicismo romano).
Este ensino diz que no fim, toda a humanidade será salva. Mas será isso mesmo o
que a Escritura diz? A resposta é um sonoro não. Do Antigo ao Novo Testamento
vemos a dualidade que divide a raça humana em salvos e não salvos. E como disse
o saudoso pastor Russell Shedd:
“Sem nascer de novo não há esperança de ver o
Reino de Deus. Achar que o amor de Deus é tão extenso que ninguém pode cair
fora dele, é uma crença muito conveniente para os que rejeitam o teor de todo o
ensino da Bíblia. Não convém se arriscar em tão fraca esperança”.
Se
todos conhecem bem João 3.16, a sequência não é tanto conhecida, ou pelo menos,
não tão recitada: “Pois Deus enviou o seu
Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por
meio dele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado,
por não crer no nome do Filho Unigênito de Deus”. – João 3:17,18
A
realidade bíblica pode não ser tão doce como gostaríamos, mas a verdade
consiste no que o texto diz, e florear o texto é macular as palavras que são
divinas, em outras palavras, é se colocar no lugar de Deus, ou até mesmo, uma
tentativa pretenciosa de co-escrever o que Deus já decretou. Mas, passemos para
a palavra de esperança que o Credo trás para a Igreja de Cristo, pois n’Ele
temos a esperança de vida plena, e para entendermos esta plenitude, é preciso
atentar para a doutrina da ressurreição corpórea.
UMA
REMISSÃO COMPLETA
Vimos
no texto anterior que Cristo nos redime e é por causa de sua obra redentora que
temos acesso ao Reino dos Céus. Não conquistamos a salvação por nossos méritos,
mas pela graça (Ef 2.8). E esta obra da graça, executada pela Trindade no
espaço e no tempo é uma obra completa. Somos redimidos por inteiros e isso
incluirá também os nossos corpos. O Catecismo de Heidelberg trata dessa questão
como sendo um consolo:
“Meu consolo é que depois desta vida minha
alma será imediatamente elevada para Cristo, seu Cabeça. E que também esta
minha carne, ressuscitada pelo poder de Cristo, será unida novamente à minha
alma e se tornará semelhante ao corpo glorioso de Cristo”.
Há
diversos textos que abordam a questão do nosso corpo ressurreto (Jó 19:25-27;
1Co 15:53,54; Fp 3:21; 1Jo 3:2), o espanto de muitos a respeito deste assunto
atesta que há pouca leitura bíblica em boa parte dos arraiais evangélicos. A
melhor maneira de reverter este déficit doutrinário é ensinar, ensinar e
ensinar, demonstrando claramente que as Escrituras tratam deste assunto de
maneira clara. Além do mais, a crença de que a carne é inerentemente má, é uma
heresia antiga, combatida pelos apóstolos, sobretudo Paulo, em suas epístolas.
Devemos lembrar que Cristo veio a este mundo em carne e subiu aos céus
corporalmente, todavia, sem ter nenhuma relação com o pecado. Sempre que
recorremos aos documentos confessionais, como os credos e confissões, temos um ótimo
portifólio para aprendermos corretamente, por isso, o Catecismo Maior de
Westminster (CMW) é recomendado para um bom entendimento acerca da
ressurreição. Vejamos o que ele diz em resposta à pergunta 87:
“Devemos crer que no último dia haverá uma
ressurreição geral dos mortos, dos justos e dos injustos; então os que se
acharem vivos serão mudados em um momento, e os mesmos corpos dos mortos, que
têm jazido na sepultura, estando então novamente unidos às suas almas para
sempre, serão ressuscitados pelo poder de Cristo. Os corpos dos justos, pelo
Espírito e em virtude da ressurreição de Cristo, como cabeça deles, serão
ressuscitados em poder, espirituais e incorruptíveis, e feitos semelhantes ao
corpo glorioso dEle; e os corpos dos ímpios serão por Ele ressuscitados para
vergonha, como por um juiz ofendido”.
Esta
resposta do CMW resume de maneira esplendida todo o conteúdo bíblico como se
dará esta ressurreição futura. E ela também apresenta aquilo que de fato é uma
mensagem de esperança para a Igreja de Cristo. Atente: “Os corpos dos justos, pelo Espírito e em virtude da ressurreição de
Cristo, como cabeça deles, serão ressuscitados em poder, espirituais e
incorruptíveis, e feitos semelhantes ao corpo glorioso dEle”.
Não
fazemos ideia de como será este corpo glorificado, mas podemos exultar no fato
de que os efeitos do pecado desaparecerão e nossas limitações derivadas do
pecado não vão mais existir. Isso nos dá uma gama de possibilidades, todavia, é
apenas na glória que experimentaremos o que de fato será este corpo renovado
por completo.
PLENITUDE DE VIDA
A
vida eterna muitas vezes é assimilada apenas no quesito de ser um período de
tempo que não finda. E de fato, a eternidade é a ausência do tempo cronológico.
Mas, se não focarmos na qualidade deste “tempo sem tempo”, perderemos a noção
da maravilha que será viver para sempre com Cristo e com todos os remidos no
Céu de Glória. A obra do Triuno Deus em redimir os pecadores, que estavam em
estado decaído desde o pecado de Adão, possibilitou que os seus santos obtivessem,
por meio de Cristo, as condições necessárias para gozar do paraíso que fora
perdido quando o pecado entrou no mundo.
Quando
o primeiro casal caiu do estado de graça, Deus os expulsou do Éden para que não
comecem da árvore da vida naquelas condições, tendo a imagem divina desfigurada
dentro de si (Gn 3.22-24). Usando uma frase de Aslam, personagem criado por
C.S. Lewis nas famosas Crônicas de Nárnia: “a
eternidade com um coração mau é a perpetuidade da desgraça”.
O
desdobramento da História foi a execução da redenção que a Trindade já tinha
firmado na eternidade, com Cristo assumindo o papel de fiador de uma aliança
que nos reconciliaria com o Divino. A linearidade da história tem seu clímax na
cruz, embora seu desfecho seja o dia da segunda vinda de Jesus. E então, os que
são o seu rebanho, ao serem reunidos com seu Pastor supremo, poderão gozar de
todas as benesses do Paraíso, incluindo, desfrutar do delicioso fruto da árvore
da vida (Ap 2.2).
Louvado
seja Cristo por nos conceder tamanha benção! Novamente recorrendo ao Catecismo
de Heidelberg, vemos que esta promessa nos consola, nos enchendo de esperança e
alegria indescritível:
“Meu consolo é que, como já percebo no meu
coração o início da alegria eterna, depois desta vida terei a salvação perfeita.
Esta salvação nenhum olho jamais viu, nenhum ouvido ouviu e jamais surgiu no
coração de alguém. Então louvarei a Deus eternamente”.
Vejamos
a beleza nesta obra encabeçada por Cristo. A vida eterna é uma realidade do
provir, todavia, podemos sentir nuances desta vida, pois temos o selo da
promessa que é o Espírito Santo. Não devemos perder a perspectiva na vida
eterna. A Confissão Belga nos exorta: “Por
isso, esperamos este grande dia com grande anseio para usufruirmos plenamente
das promessas de Deus em Jesus Cristo, nosso Senhor”.
CONCLUSÃO
O
Credo termina com “Amém”. Esta palavra de origem hebraica, usada no fim de
nossas orações é um termo de assentimento, indicando que aquilo que foi dito
anteriormente é tido por verdadeiro, gerando concordância, derivada da firmeza
do que se disse.
O
“amém” faz do Credo uma oração, nos lembrando que temos o dever de exercitar a
nossa vida piedosa com base nestes postulados centrais da fé. A crença que
praticamos em nosso dia a dia precisa de uma base doutrinária. Logo, o Credo
nos dá a base necessária para fazermos de nossas vidas uma caminhada de oração,
nos colocando na dependência de nosso SENHOR. Buscando louvar a beleza de Sua
majestade ainda nesta era, confiantes de que no porvir, continuaremos o louvor,
todavia, o veremos face a face, sentado em seu trono de graça. Aquilo que em
parte conhecemos, será revelado de maneira plena.
E
diante de tamanha glória, talvez, expressaremos algo semelhante ao que Jó falou
diante do Soberano:
“Sei que podes fazer todas as coisas; nenhum
dos teus planos pode ser frustrado. Tu perguntaste: ‘Quem é esse que obscurece
o meu conselho sem conhecimento? ’ Certo é que falei de coisas que eu não
entendia, coisas tão maravilhosas que eu não poderia saber. Tu disseste: ‘Agora
escute, e eu falarei; vou fazer-lhe perguntas, e você me responderá’. Meus
ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram”.
Jó 42:2-5
Soli
Deo Gloria
***
Autor: Pr. Thiago Oliveira
Divulgação: Bereianos
Leia também:
Série Credo Apostólico – Parte 1: Um Símbolo da Fé Cristã
Série Credo Apostólico – Parte 2: Pai, Todo Poderoso, Criador
Série Credo Apostólico – Parte 3: Jesus Cristo é o Senhor
Série Credo Apostólico – Parte 4: O Redentor no Espaço-Tempo
Série Credo Apostólico – Parte 5: O Padecimento do Cristo
Série Credo Apostólico – Parte 6: A Vitória do Cristo
Série Credo Apostólico – Parte 7: O Espírito Santo em Ação
Série Credo Apostólico – Parte 8: A Santa Igreja Universal
Série Credo Apostólico – Parte 9: A Remissão dos Pecados
Esse artigo foi republicado com a permissão de Blog Bereianos.