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Cansado de si mesmo?

Chamada

Se você é como eu, há momentos em que você se percebe cansado de si mesmo. Você se lembra de oportunidades perdidas, palavras que deveria falar e não falou, ou que não deveria falar e falou. Pode ser uma amizade na qual você não insistiu, ou então você se depara com pecados ou maus hábitos que há anos o perseguem. Podem ser coisas graves e com consequências profundas, ou, mais comum, pequenos deslizes, como irritações fora de hora, pequenas mentiras que fazem uma história ficar melhor, ou detalhes omitidos que poderiam depor contra você. Enfim, apesar de não destruir sua vida, ministério ou reputação, são como que pequenas bolhas que sobem à superfície evidenciando que há um mal maior por baixo.

O problema é que essas coisas vão pouco a pouco roubando nossa esperança de sermos transformados. Parece que as grandes transformações ficaram no passado, agora é só manutenção. No entanto, essas pequenas manifestações podem nos levar a um cristianismo de aparências. Não estamos sozinhos nesse dilema. O apóstolo Paulo afirma em Romanos 7.24: “Miserável homem que eu sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?”.

Acredito que, ao nos decepcionarmos com nós mesmos, precisamos nos voltar para essa promessa. A promessa de que Deus vai concluir a obra.

No entanto, é o próprio Paulo que é inspirado pelo Espírito para escrever em Filipenses 1.6: “Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus”. Paulo expressa com muita força que ele acreditava que a transformação na vida dos cristãos de Filipos estava ocorrendo, e que Deus iria levá-la a cabo. Acredito que, ao nos decepcionarmos com nós mesmos, precisamos nos voltar para essa promessa. A promessa de que Deus vai concluir a obra. Mas a pergunta surge: como isso vai ocorrer?

Alguns versos adiante, Paulo apresenta sua oração pelos filipenses. Essa oração nos instrui sobre como Paulo entendia o processo de transformação que estava tomando forma na vida dos cristãos dessa cidade, e por conseguinte, também pode ocorrer em nossas vidas. Filipenses 1.9-11 afirma:

“Esta é a minha oração: Que o amor de vocês aumente cada vez mais em conhecimento e em toda a percepção, para discernirem o que é melhor, a fim de serem puros e irrepreensíveis até o dia de Cristo, cheios do fruto da justiça, fruto que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus”.

A estrutura e o raciocínio de Paulo revelam uma obra prodigiosa. Deixe-me ver se consigo traduzi-la para nós. Muito embora o texto tenha sido escrito para cristãos de Filipos no primeiro século, vou aplicá-lo à minha e à sua vida. O primeiro aspecto da oração de Paulo é que ele ora para que o nosso amor aumente. Mas não é qualquer amor, é um amor que cresce em conhecimento (da Palavra de Deus) e em percepção, ou entendimento. O primeiro passo em uma transformação é um amor baseado em conhecermos mais e mais a Deus e refletirmos sobre este conhecimento.

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O segundo aspecto é que Paulo orou para que possamos compreender o que é realmente importante. Uma outra palavra que usamos para isso é discernimento. A partir de um amor baseado na verdade e aprofundado, Paulo ora para que possamos nos concentrar naquilo que realmente importa. Posses, preferências, ideias ou projetos pessoais não são o mais importante. Nossa caminhada com Cristo é o mais importante. Importante de verdade é aquilo que importa para Deus.

Nossa caminhada com Cristo é o mais importante. Importante de verdade é aquilo que importa para Deus.

Uma vez que tenhamos discernimento espiritual, passaremos a viver puros e sem culpa, pois vamos manter nossa mente naquilo que está no alto e não nas coisas aqui da terra (Filipenses 4.8; Colossenses 3.2). Aqui está a transformação da qual Paulo tem tanta certeza. E não é uma transformação passageira, mas algo que deve permanecer até a vinda de Cristo.

Por fim, Paulo ora na convicção de que esse processo nos fará dar muito fruto, e fruto de justiça, de santidade. Paulo continua dizendo que esses frutos vem por meio de Jesus, portanto, não são fruto de nossos esforços, e visam a glória de Deus e não nossa exaltação. Somos imediatamente levados a lembrar da passagem de João 15. Ali, Jesus deixa claro primeiramente que sem ele nada podemos fazer (v. 5). Essa verdade deve nos levar sempre de volta à cruz. Caso você esteja decepcionado consigo mesmo, volte para a cruz. Caso esteja envergonhado de algum pecado, volte para a cruz. Em toda e qualquer circunstância, volte para Jesus. Ele é o autor e consumador de nossa fé. Também em João 15, versículo 8, lemos a verdade expressa por Paulo: “Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto”. A obra transformadora de Cristo em nós é para o louvor e para a glória de Deus Pai.

Minha oração é que eu e você passemos sim por momentos em que nosso crescimento nos decepciona. Embora esses momentos não sejam bons, a percepção de que a transformação depende inteiramente de Cristo nos leva a um renovado compromisso com ele.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por 5 anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 24º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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