Os cristãos passam por dificuldades e tribulações nesta vida. Como devemos ter uma visão equilibrada sobre elas, tendo sempre em mente a herança reservada para nós no céu?
Uma vez que temos em mente a herança “reservada nos céus” (1Pedro 1.4), temos motivos para nos alegrar, apesar de todas as tentações e aflições. O apóstolo Pedro não quer dizer que essas coisas não importam mais para nós e que passaremos por cima de todos os problemas com cânticos de alegria. Ele escreve que somos “contristados por várias provações” (1Pedro 1.6). Isso causa dor, custa força e cobra seu preço.
Mas em todas as aflições, acima de todas as lágrimas derramadas por causa delas, ainda temos motivos para nos alegrar nessa herança inviolável que nos foi dada em Cristo. Tentações, provações e tribulações não são um mal necessário que encontramos aqui, ou um desafio sem sentido pelo qual tenhamos de passar, mas elas são usadas por nosso Senhor para alcançar seus propósitos perfeitos conosco, para que nos maravilhemos ainda mais e lhe demos glória.
Se eu quiser saber se minha nova capa de chuva é boa, não adianta colocá-la quando o tempo estiver bom. A qualidade também não fica clara quando está apenas chuviscando ou se eu atravessar a rua brevemente durante uma chuva. Só posso testar a impermeabilidade quando estiver na chuva por um longo período de tempo ou se a vestir no chuveiro. Da mesma forma, nossa fé só pode provar sua autenticidade diante de aflições e tentações. Vemos isso, a propósito, na Parábola do Semeador (Mateus 13.3-9). Somente com o calor do sol é que a parte semeada no solo rochoso secou. Ao explicar a parábola, o Senhor Jesus utilizou a imagem de “angústia” e “perseguição” para esse grupo de sementes (Mateus 13.20-21).
Quando vemos o quanto a sedução está se espalhando e como nossa liberdade de fé parece estar sendo cada vez mais restringida, certas coisas podem nos parecer ameaçadoras. Contudo, vejamos isso de forma diferente: trata-se de uma grande oportunidade e chance para que nossa fé se mostre genuína! Volto a enfatizar: nossa fé se prova não porque estamos totalmente seguros em nós mesmos, mas porque, diante das tentações e aflições, não podemos fazer outra coisa além de confiar no poder preservador de nosso Deus. Já que somente o Senhor pode nos preservar, isso deve nos encorajar a nos tornarmos ainda mais enraizados em Cristo e em sua Palavra.
Nossa fé se prova não porque estamos totalmente seguros em nós mesmos, mas porque, diante das tentações e aflições, não podemos fazer outra coisa além de confiar no poder preservador de nosso Deus.
Nossa fé – em meio a tudo isso – deve ser considerada mais preciosa do que o “ouro perecível, mesmo apurado pelo fogo” (1Pedro 1.7). O ouro pode ser exposto ao calor extremo sem perder o seu valor; ele se torna ainda mais precioso e valioso porque todas as impurezas são derretidas.
Assim, por meio das tentações, sofrimentos e aflições pelas quais ele nos conduz, o Senhor não quer destruir nossa fé, mas fortalecê-la, torná-la ainda mais preciosa e provada do que todo ouro perecível. O teólogo William MacDonald (1917-2007) nos lembra, nesse contexto, de Jó e dos três amigos de Daniel na fornalha.[1] Embora seja o próprio Senhor quem nos preserva pelo seu poder e por meio da fé, ele recompensa os seus, cuja fé resistiu a todas as tentações e desafios. E o louvor, a glória e a honra que o Senhor nos reserva por isso são totalmente desproporcionais às tentações e aflições que precisam ser superadas. “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Romanos 8.18).
É claro que os seguidores de Jesus não passam por grandes sofrimentos e aflições apenas através de perseguição e tribulação. Talvez um cônjuge ou outro membro da família tenha partido de forma totalmente inesperada. É possível que Deus tenha frustrado algum plano, causando grandes dificuldades. Há uma doença grave e o Senhor não intervém, apesar das orações. Talvez você esteja passando por grandes conflitos familiares. Essas também podem ser tentações por meio das quais Deus gostaria de testar a nossa fé e glorificar a si mesmo.
Pedro também fala da “revelação de Jesus Cristo” (1Pedro 1.7), quando ele chamar e completar sua igreja. Então nos regozijaremos, nos maravilharemos e daremos a ele a glória por ter feito todas as coisas bem. Como ele preservou nossa fé e a fortaleceu para sua glória durante todo esse tempo. Não se trata de um consolo barato ou um ditado proverbial, mas uma parte integral da herança “que não pode ser destruída, que não fica manchada, que não murcha e que está reservada” (1Pedro 1.4) para nós – o alvo da nossa fé. O que vem a seguir não tem semelhança alguma com o que nos entristeceu tanto aqui.
Nota
[1] William MacDonald, Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento (São Paulo: Mundo Cristão, 2011), p. 909.
Johannes Pflaum nasceu na Alemanha, em 1964, é casado, pai de cinco filhos e reside na Suíça, onde integra a diretoria da Sociedade Bíblica Suíça. Serve como Ancião na Comunidade Cristã de Sennwald. Desde 2000 atua como conferencista e docente na área do ensino bíblico, tanto no país como no exterior.