Back

Deus aceita sacrifício humano? Jefté sacrificou sua filha à Deus?


Sabemos que no Antigo Testamento (na antiga aliança) haviam sacrifícios de animais para representar o pagamento dos pecados do povo hebreu para com Deus. O cordeiro sem mancha e sem defeito era sacrificado como um simbolismo ao Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29), ou seja, aquele que viria da parte de Deus para pagar os pecados da humanidade, a saber: Jesus Cristo.

A Bíblia também relata em vários textos que haviam povos maus que sacrificavam pessoas (desde bebês até idosos) para satisfazerem seus “deuses”, seja por questões de guerra, de agricultura, por riqueza ou até mesmo por questões sexuais de perversidade. O povo hebreu era (ou seria) diferente, pois não fazia esse tipo de atrocidade. Porém, há um relato que ainda hoje provoca perplexidade aos que creem na Escritura Sagrada, pois pelo que se lê, entende-se que Deus aceitou um sacrifício humano para dar vitória de guerra sobre um povo inimigo de Israel. Jefté, que era o comandante do exército israelita naquele momento “teria” oferecido sacrifício humano à Deus em troca da vitória de guerra, conforme o texto de Juízes 11:29-40 informa:

Então o Espírito do Senhor veio sobre Jefté, e atravessou ele por Gileade e Manassés, passando por Mizpá de Gileade, e de Mizpá de Gileade passou até aos filhos de Amom.
[E Jefté fez um voto ao Senhor, e disse: Se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão,
Aquilo que, saindo da porta de minha casa, me vier ao encontro, voltando eu dos filhos de Amom em paz, isso será do Senhor, e o oferecerei em holocausto.]
Assim Jefté passou aos filhos de Amom, a combater contra eles; e o Senhor os deu na sua mão.
E os feriu com grande mortandade, desde Aroer até chegar a Minite, vinte cidades, e até Abel-Queramim; assim foram subjugados os filhos de Amom diante dos filhos de Israel.
Vindo, pois, Jefté a Mizpá, à sua casa, eis que a sua filha lhe saiu ao encontro com adufes e com danças; e era ela a única filha; não tinha ele outro filho nem filha.
E aconteceu que, quando a viu, rasgou as suas vestes, e disse: Ah! filha minha, muito me abateste, e estás entre os que me turbam! Porque eu abri a minha boca ao Senhor, e não tornarei atrás.
E ela lhe disse: Meu pai, tu deste a palavra ao Senhor, faze de mim conforme o que prometeste; pois o Senhor te vingou dos teus inimigos, os filhos de Amom.
Disse mais a seu pai: Concede-me isto: Deixa-me por dois meses que vá, e desça pelos montes, e chore a minha virgindade, eu e as minhas companheiras.
E disse ele: Vai. E deixou-a ir por dois meses; então foi ela com as suas companheiras, e chorou a sua virgindade pelos montes.
E sucedeu que, ao fim de dois meses, tornou ela para seu pai, o qual cumpriu nela o seu voto que tinha feito; e ela não conheceu homem; e daí veio o costume de Israel,
Que as filhas de Israel iam de ano em ano lamentar, por quatro dias, a filha de Jefté, o gileadita.

Será que Deus aceitou esse sacrifício humano, visto que Israel venceu o combate?

Obviamente que Deus não aceita sacrifício humano, pois Ele mesmo veio em forma humana e se sacrificou para salvar a humanidade, de forma que não fosse necessário outro sacrifício. Aliás, nenhum sacrifício de vida humana ou animal seria capaz de resolver o problema do pecado.

Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos. Oséias 6:6

Nota: Existem vários exemplos na Bíblia, além deste acima, demostrando que Deus nunca aprovou sacrifício humano, os textos mais explícitos estão em Gênesis 22:1-18, Deuteronômio 12:31 e 2ª Reis 17:16-17.

Sobre este caso de Jefté, não há um consenso entre os estudiosos da Bíblia no que diz respeito a compreensão desse relato de sacrifício humano. Ou seja, alguns entendem que Jefté realmente cometeu um voto precipitado, sacrificando sua própria filha, contrariamente a vontade de Deus, pois em nenhum momento Deus fala através de um profeta indicando que receberia aquele voto de Jefté. Outros entendem que Jefté não sacrificou a vida de sua filha, mas sim que ele devotou-a uma perpétua virgindade.

Por que não há consenso sobre esta questão?

Porque há duas maneiras de traduzir e interpretar o texto original hebraico do versículo 31, no qual Jefté faz o voto ao Senhor:

1ª maneira: “Se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão, aquilo que, saindo da porta de minha casa, me vier ao encontro, voltando eu dos filhos de Amom em paz, isso será do Senhor, e o oferecerei em holocausto.” (esta é a nossa tradução atual)

2ª maneira: “Se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão, aquilo que, saindo da porta de minha casa, me vier ao encontro, voltando eu dos filhos de Amom em paz, isso será do Senhor, eu oferecerei um holocausto.” (esta é a versão que eruditos dizem ser possível ao termo original do hebraico)

Se a segunda maneira de tradução for a correta, o que acreditamos que seja, mudaria totalmente a interpretação do sentido do texto, indicando que, se a pessoa que saísse da casa de Jefté ao seu encontro fosse oferecida ao Senhor, e se Jefté ofereceria um holocausto, então a vida dessa pessoa seria perpetuada a obra do tabernáculo, uma vida exclusiva ao Senhor.

O versículo 34 mostra que foi a filha de Jefté a primeira pessoa que lhe saiu ao encontro e esta era a única filha dele. Porém, ele não podendo voltar atrás na sua promessa, relatou à ela o que fizera (vers. 35). Ela entendendo a questão, deu-se como um holocausto ao Senhor (vers. 36). E de acordo com os próprios versículos posteriores, ela pediu a seu pai que a deixasse vagar e chorar com suas amigas pelas colinas por um período de dois meses, pois sabia que jamais se casaria.

Simplificando:

“isso será do Senhor” = a pessoa, neste caso a filha de Jefté.

oferecerei um holocausto” = sacrifício, neste caso a virgindade perpétua da filha de Jefté.

Em momento algum ela ou seu pai falam em morte, nem mesmo é relatado que foi este o fim dela, ademais, por que ela estaria só temendo nunca casar ao invés de morrer? Será que ela se preocupava mais com um casamento do que com sua própria vida?

Devemos entender que naquela época, quando uma moça não se casava e viva para a obra do Senhor, isso era visto como um holocausto, já que o sonho de uma moça era casar e ter filhos, assim como o sonho do seu pai era ver sua descendência se multiplicar e crescer forte.

Muito provavelmente a filha de Jefté foi servir no Tabernáculo de Siló, e daí criou-se também o costume em Israel de que as moças (moças eram mulheres virgens) iam de ano em ano lamentar, por quatro dias, a filha de Jefté (vers. 40), ou em outras palavras, lamentar seu sacrifício. Também não sabemos, mas essa lamentação talvez tenha sido criada para que outros pais não devotassem suas filhas como Jefté fez.

Ademais, Jefté não era totalmente ignorante às leis de Deus, o que nos mostra que quase certamente ele não sacrificaria uma vida humana como um voto, contrariando a vontade de Deus. Podemos tirar essa conclusão devido ao fato de seu nome aparecer na “galeria dos heróis da fé” de Hebreus 11:32.

De qualquer forma, seja lá o que Jefté tenha feito, a Bíblia é clara em dizer que Deus nunca aprovou ou aprova sacrifícios humanos e que na verdade Ele vê isso com muita tristeza e como uma abominação.

Imagem fonte: Reprodução Google

Esse artigo foi republicado com a permissão de Conteúdo Cristão.