.
O homem caminha toda a sua vida em torno de um tema que o move desde o mais íntimo do seu ser: a busca da felicidade, felicidade essa que pode ser almejada de variadas formas não saudáveis, tais como vaidade, orgulho ou poder.
Ao longo da história humana temos variados exemplos de pessoas que fizeram o que puderam em busca de satisfazer seus desejos. Dentre os governantes, temos como exemplo recente o famoso genocida e ditador Adolf Hitler. Como uma criança mimada, ele destruiu grande parte da Europa em busca do alargamento das fronteiras da Alemanha, dando assim expansão ao seu poder.
O exemplo mais prático de busca por poder é o caso dos nossos primeiros pais. Adão e Eva, instigados pela tentação do conhecimento, pensaram que poderiam ser ainda mais felizes. O resultado disso foi desastroso. Todos nós sentimos as consequências do pecado deles.
Mas o que fazer quando a situação é similar, porém com outro foco: como agir quando tudo está desabando?
O sofrimento é um estado em que nos encontramos em vários momentos da nossa vida. O homem fora criado à semelhança de Deus, para glorificar ao Criador e ser santo, mas pecou e a partir de então sofre as consequências da desobediência. O Breve Catecismo de Westminster nos diz que “Todo o gênero humano pela sua queda perdeu comunhão com Deus, está debaixo da sua ira e maldição, e assim sujeito a todas as misérias nesta vida, à morte e às penas do Inferno para sempre”[1]. Jó nos diz que o homem nasce para o enfado (Jó 5.7). Jó 14.1 diz, ainda, que o homem vive cheio de inquietação. O próprio Cristo sofreu, como consequência do nosso pecado (Mt 26.38).
Enfrentamos variados problemas em nosso dia a dia, seja ele com familiares, no colégio, trabalho, luto, solidão. O que precisamos saber é como lidar com tais problemas que nos permeiam e o que fazer para sair o menos prejudicados possível de cada situação.
Tiago nos encoraja, em sua epístola, da seguinte maneira:
“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.” (Tg 1.2-4).
A compreensão de um texto é sempre mais clara quando se entende o contexto em que é escrito e para quem é endereçado. A Epístola de Tiago não foge à regra. O escritor redige sua epístola para os convertidos do judaísmo que tiveram seus bens e casas confiscados e passavam por dificuldades, como exploração, por causa do nome de Cristo[2], conforme nos diz Simon Kistemaker. Tiago escreve para pessoas que estão sofrendo perseguição. Transportando esse sentido para outro momento, considerando o sentimento de aflição e dor, podemos equiparar o nível de gravidade talvez a uma pessoa que acaba de descobrir que está com câncer[3]. Ou seja, aqueles que correm risco de morte ou sofrem a dor de sua própria morte ou tortura.
As pessoas buscam variadas formas de suprimir seu sofrimento e encontrar o prazer perdido. Alguns procuram isso nos prazeres contrários à moral, outros buscam em atividades que tragam satisfação. Jim Britts, em sua revista intitulada “Escolhas da Vida”, nos traz situações de pessoas na Bíblia que passaram por aflições[4]:
1. Uma forma de enfrentamento de situações é a NEGAÇÃO.
Um personagem bíblico que demonstrou esse tipo de comportamento foi Davi. Depois de adulterar com Bate-Seba, ele age como se não houvesse pecado algum no que ele fez. Davi resolve a situação assassinando Urias, marido da vítima, e se casa com ela, encobrindo assim o seu ato. Mesmo o profeta Natã contando-lhe uma história de cunho semelhante, ele não enxerga o seu erro, e só o reconhece quando indicado pelo profeta.
2. Outra forma de enfrentamento é o JOGO DA CULPA.
Marta estava ocupada com os afazeres de casa enquanto sua irmã estava aos pés de Cristo ouvindo os ensinamentos do Senhor. Injuriada, Marta pede que Jesus diga à Maria que a ajude em seus afazeres. Mas Cristo diz à mulher agitada que sua irmã fazia o certo em ouvir seus ensinamentos.
3. Outras pessoas reagem às situações através da DESISTÊNCIA.
Vendo que os fariseus não aceitaram a devolução do dinheiro pago pela entrega de Jesus em troca de libertar o Senhor, Judas enforcara-se.
De qual maneira você costuma enfrentar seus problemas? Você nega a existência deles, transfere a culpa para alguém ou simplesmente desiste?
As três formas de reação citadas acima não refletem uma atitude correta esperada de um cristão. A maneira que nós devemos usar não é outra senão PROSSEGUIR CONFIANTEMENTE NO SENHOR.
A história de José do Egito é muito interessante e é um ótimo exemplo de como agir diante de dificuldades. Ao ser acusado injustamente de assédio, ele foi preso. Ao invés de fugir, José confiou no Senhor e Deus o abençoou.
Muitas vezes não entendemos porque passamos por tribulações. Mas Tiago nos diz que a provação produz perseverança. Deus usa as tribulações para testar a nossa fé[5] e até mesmo para aumenta-la.
O apóstolo Paulo, em Romanos 5.3-5, nos diz que “[…] nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança.” [6].
Quando passarmos por problemas, precisamos ter em mente o que Jesus nos disse: “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.”[7] (Jo 16.33b).
Um grande exemplo de sofrimento e restauração sem dúvida é Jó. Esse personagem fora um homem muito rico e tinha vários filhos. Ele fora provado por Deus e perdeu tudo: riqueza, dinheiro, filhos. Chegou ao ponto de amaldiçoar o dia em que sua mãe lhe deu a luz (Jó 3.1-3). Mas no fim, o Senhor o abençoa e Jó recebe ainda mais do que possuía antes de sua provação.
Precisamos ter em mente que tudo o que acontece está sobre o controle de Deus. O Salmo 139 nos deixa isso bem claro: “Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda.” [8]. Precisamos confiar em Deus e seguir em frente. Ele não desampara os seus filhos. Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações.[9](Sl 46.1).
Toda vez em que passarmos por problemas de qualquer natureza, precisamos ter em mente que o Senhor está no controle. Diante de um câncer aparentemente irreversível ou de estado terminal, tenhamos em mente que o Senhor está no controle de tudo. Diante de um assassinato, tenhamos certeza de que tudo coopera para o nosso bem, mesmo que não pareça de imediato. Diante de brigas familiares que parecem não ter fim ou mesmo a conversão de um amigo ou parente que não acontece por mais que oremos, precisamos sempre nos lembrar: o Senhor sabe de todas as coisas e governa conforme a vontade dele. Ele sabe o que é melhor para nós.
Muitas vezes pensamos que Deus esteja longe ou simplesmente ignorando alguns acontecimentos de nossas vidas, mas isso não é verdade. Assim como a mão do Senhor guiou o seu povo no Egito, suprindo suas necessidades diariamente, ele cuida de nós. Tudo o que acontece coopera para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8.28). Por mais que uma situação pareça ser sem sentido, Deus está no controle, e podemos descansar em seu poder.
Há uma música da banda Fee, cujo nome é Everything Falls. Seu refrão é oportuno neste artigo, e fala do cuidado de Deus para com os seus filhos:
“Quando tudo desmorona
Seus braços juntos me seguram
Quando tudo desmorona
Você é a única esperança para esse coração
Quando tudo desmorona e minha força se acaba
Eu encontro seu poder e força
E você continua me segurando”.
__________
Nota:
[1] Breve Catecismo de Westminster, resposta à pergunta 19.
[2] KISTEMAKER, Simon. Tiago e Epístolas de João. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 44.
[3] Ibidem. p. 50.
[4] BRITTS, Jim. Escolas da Vida. Niterói, RJ: bvbooks, 2011, p. 28-29.
[5] KISTEMAKER, Simon. Tiago e Epístolas de João. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 45.
[6] Sociedade Bíblica do Brasil. Bíblia de Estudo Almeida Revista e Atualizada (Rm 5.3-5). Tamboré, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
[7] Ibidem. Jo 16.33.
[8] Ibidem. Sl 139.16.
[9] Ibidem. Sl 46.1.
***
Autor: Christofer F. O. Cruz
Fonte: Fidem et Rationem
.
Esse artigo foi republicado com a permissão de Blog Bereianos.