Recentemente, ouvi novamente um triste relato. Este era de alguém que por anos serviu na igreja, mesmo trabalhando fora. Evangelizou, discipulou, liderou, doou generosamente de seu tempo e dinheiro, até que finalmente desistiu. Em suas palavras: “Cansei, já fiz minha parte, agora chega!”. Ele não negou a Jesus ou sequer deixou sua igreja, mas simplesmente assumiu uma postura passiva. Eu entendo o sentimento, eu mesmo já tive momentos assim em minha vida. Reconheço que sim, há momentos em que o mais sábio é diminuirmos o ritmo, aprendermos a dizer não. No entanto, entre reduzir o ritmo e desistir há uma grande diferença, não?
Jesus chamou os discípulos para descansar após um período intenso de ministério (Marcos 6.31). Em outras oportunidades, mesmo havendo pessoas prontas para ouvi-lo, o Mestre entendeu que era hora de partir para outro local, para outro ministério (Mateus 8.18; Marcos 1.35-39). Assim, temos uma sólida base para recuarmos diante de uma oportunidade de ministério. É importante reparar que esse recuar demonstrado por Jesus era para se dedicar à oração, ou a outro ministério, e não meramente para seu conforto pessoal.
Há, no entanto, um outro extremo ao qual a pessoa citada acima chegou. Ele se dedicou ao ministério da igreja de uma forma intensa e sacrificial, teve vitórias e revezes (como em todo ministério) e, finalmente, desistiu. Tenho ouvido histórias semelhantes e cheguei a algumas considerações, que talvez sirvam de alertas a tantos cristãos que têm se gastado e se deixado gastar pelo ministério.
Quando nos dedicamos a um ministério, mas descuidamos de nossa intimidade com o Senhor, fatalmente chegaremos à exaustão.
- O ministério sadio flui de um coração satisfeito em Deus (João 15.5). Quando nos dedicamos a um ministério, mas descuidamos de nossa intimidade com o Senhor, fatalmente chegaremos à exaustão. Ministério deveria ser um fluir sobrenatural de nossa comunhão com Deus. Lembre-se que Jesus ao chamar seus discípulos, chamou-os primeiramente para estar com ele, e só depois para enviá-los (Marcos 3.14). Na verdade, se um ministério pode ser feito sem fluir de uma comunhão com Deus, então é só desempenho e não ministério.
- Um ministério só é sustentável se a motivação for a glória de Deus (Colossenses 3.23-24). Quem se envolve com o ministério buscando reconhecimento ou glória pessoal vai eventualmente distorcer o ministério ou se frustrar. Isso não significa que não devemos abençoar aqueles que ministram em nossas vidas (1Tessalonicenses 5.12-13). No entanto, ministrar em nome de Deus é aceitar um desafio de ser rejeitado e injustiçado. Jesus nos alertou quanto a isso (João 16.33), e Paulo complementou em 2Timóteo 3.12.
- A maior parte do ministério é discernir a vontade de Deus e se alinhar a ela (Hebreus 5.14). Ministério inclui esforço, mas não é resultado de esforço (Salmos 127.1-2). Se discernirmos o que Deus está nos chamando a fazer e nos dedicarmos a isso, deixando para ele os resultados, não carregaremos a responsabilidade por aspectos que não estão realmente debaixo de nosso controle.
- Quanto mais identificarmos nosso chamado pessoal, mais o ministério será prazeroso e cheio de significado (Efésios 2.10). Com frequência, alguns de nós tentamos fazer um pouco de tudo. Quando surge uma oportunidade, logo nos oferecemos para colaborar. Muito embora isso demonstre um coração de servo, na maioria das vezes, pode incluir uma dose de “messianismo”, do tipo que nos leva a pensar que precisamos “salvar toda situação”. Muito embora tenhamos de estar dispostos a servir, mais importante é identificar nossa contribuição e nos concentrarmos nela.
Quanto mais identificarmos nosso chamado pessoal, mais o ministério será prazeroso e cheio de significado.
O professor Bill Lawrence certa vez usou uma frase memorável: “Ministério é fazer o que você não consegue, com recursos que você não tem, para gerar resultados que você não controla”. O próprio convite para discipulado é um convite para servir. A tarefa em si é muito além de nossas capacidades. Como lemos em João 15.5: “Sem mim vocês não podem fazer nada”. Minha oração, então, é que encaremos as oportunidades de servir como um privilégio, discernindo quando estas vêm de Deus e quando são apenas necessidade de instituições cristãs. Ministério é como praticar um esporte amador: investimos dinheiro, nos cansamos, nos sacrificamos, pelo puro prazer de praticar o esporte. Quando esta for nossa atitude para com o ministério, nunca vamos nos esgotar de servir.
Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 24º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.